“Sputnik V vai entrar no Plano Nacional de Imunização contra a Covid-19”, diz dono da União Química
Ao Metrópoles, Fernando de Castro Marques disse que a inserção da vacina russa no Sistema Único de Saúde (SUS) é uma “questão de tempo”
atualizado
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Dono da farmacêutica brasileira União Química, Fernando de Castro Marques, afirmou, em entrevista ao Metrópoles, “não ter dúvidas” de que a Sputnik V será incorporada ao Plano Nacional de Imunização. “É uma questão de tempo. Minha ansiedade é que ela entre logo”, ressaltou.
A empresa fechou um acordo com o Fundo de Investimento Direto Russo (RDIF), que comercializa a Sputnik V. O imunizante, no entanto, não tem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a realização dos estudos clínicos no Brasil – a chamada fase 3 –, nem para uso emergencial.
Segundo o empresário, o fundo de investimento disponibilizou 10 milhões de doses “para serem embarcadas nos meses de fevereiro e março, até que comece a nossa produção de forma definitiva”. “Pleiteamos junto à Anvisa uma autorização para a importação dessas unidades. Estamos correndo com o processo de produção do IFA [insumo farmacêutico ativo] e da vacina, mas não podemos abrir mão dessas unidades. A Anvisa pediu informações complementares, e nós estamos apresentando esses documentos”, esclareceu.
Marques citou o processo adotado pela Argentina para a liberação do uso da fórmula russa. “A Argentina passou por cima da fase 3, uma vez que entende-se que já está em uma fase 4, sendo utilizada em grande escala. O presidente da Argentina editou alguma coisa semelhante ao que seria, aqui no Brasil, uma medida provisória autorizando a utilização da Sputnik V. Evidente que, sem desmerecer a agência local, é a questão da emergência”, disse o empresário.
Em janeiro, medida provisória estabeleceu que a Anvisa só pode conceder permissão emergencial para imunizantes registrados pelas agências dos Estados Unidos, da União Europeia, do Japão, da China ou do Reino Unido. Não é o caso da Sputnik V.
Marques alegou que o imunizante não foi avaliado por esses países porque a Rússia não tem condições de vender a Sputnik V para todos. “Não está sobrando vacina em lugar nenhum do mundo. O fundo russo também não tem vacina sobrando, tanto é que eles tomaram a decisão de nos transferir a tecnologia para a produção em território brasileiro. Eles não estão precisando sair pelo mundo para vender a Sputnik V, porque eles têm a própria população para vacinar e estão atendendo ao apelo de algumas nações”, destacou.
Vacina do Bolsonaro
O dono da farmacêutica negou supostos esforços do governo brasileiro para transformar a Sputnik V na “vacina do Bolsonaro”. “Essa questão da Sputnik ser a vacina do Bolsonaro não tem a menor procedência. Assim como a vacina do Instituto Butantan não é a vacina do Doria”, afirmou.
“Surgiu a pandemia, a Covid-19, e ninguém estava com fábrica preparada para atender uma nova doença como essa. Tanto o Instituto Butantan quanto a Fiocruz estão tendo dificuldade de agir rapidamente na produção desses imunizantes. Nós estávamos perto do governo da Rússia em função de um projeto nosso de biotecnologia. Calhou que nós também temos essa unidade fabril de biotecnologia em Brasília que tem condições de fazer o IFA”, disse.
O empresário não exclui a possibilidade de que a União Química venda a Sputnik V diretamente aos estados ou a clínicas particulares. Algumas unidades da Federação, como Bahia, Maranhão e Pernambuco, recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando autorização para a compra direta do imunizante russo. “Nossa intenção é ofertar para o governo federal”, assegurou. Marques ponderou que “uma vez estando adequado o atendimento ao Sistema Único de Saúde (SUS)”, é possível comercializar doses para governadores e empresas.
A expectativa do empresário é que a produção da vacina no Brasil comece em abril e chegue a 8 milhões de doses por mês até maio.
Na entrevista, o dono da União Química abordou a eficácia do imunizante e o anúncio do governo russo de uma vacina de dose única. Marques também falou sobre sua atuação na política. Em 2018, ele disputou, no Distrito Federal, uma vaga no Senado pelo Solidariedade e liderou o ranking dos candidatos mais ricos do país, com mais de R$ 600 milhões declarados.
Confira a entrevista: