SP: prefeitura aprova dispersão de usuários de crack em ruas do centro
Secretário de SP defendeu operações policiais na região e disse que dependentes procuram mais atendimento quando estão espalhados pelas ruas
atualizado
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São Paulo – A pulverização de usuários de drogas pelas ruas do centro de São Paulo após ações policiais na Cracolândia desde o início do mês faz “as políticas públicas funcionarem melhor”, de acordo com a avaliação do secretário-executivo de Projetos Estratégicos da prefeitura de São Paulo, Alexis Vargas, que cuida do programa Redenção.
Criado em 2017, na gestão de João Doria (PSDB) na prefeitura, o programa substituiu o De Braços Abertos, desenvolvido no governo de Fernando Haddad (PT). Segundo Vargas, as recentes operações da PM foram positivas, e “reduziram a operação do tráfico na região”.
“Quando as pessoas deixam de estar em uma multidão comandada pelo crime organizado, elas aceitam e buscam mais atendimento. Quando elas estão em concentrações menores, as equipes conseguem mais sucesso. Aliás, todas as políticas públicas: de segurança, de saúde e de assistência. As três funcionam melhor, são mais eficazes quando a gente tem concentrações menores”, afirmou em entrevista ao Metrópoles.
Historicamente, a chamada Cracolândia se concentrava na Rua Helvetia e na alameda Glete, próximo à praça Júlio Prestes. Em março, a Cracolândia migrou para a Praça Princesa Isabel – segundo a polícia, por ordem do tráfico.
Dispersão pelas ruas
Em 11 de maio, uma operação policial expulsou os usuários do novo local, que foi cercado. Uma pessoa foi morta por um policial.
A partir daí, foram formados novos fluxos menores e, atualmente, os dependentes se concentram novamente na Rua Helvetia, mas se espalham pelas avenidas Duque de Caxias, Rio Branco, São João e outras vias próximas, causando medo aos moradores e comerciantes da região.
O secretário afirma que as ações da Polícia Civil, comandada pelo estado, foram planejadas em conjunto com as áreas de saúde e assistência social da prefeitura.
Com as ações de inteligência da Polícia, segundo Vargas, foi possível “montar uma estratégia para afastar as pessoas do crime organizado”.
“Todos participam da grande estratégia. O que não significa que a assistência social participa do desenho da operação policial, porque aí isso é com a polícia. Assim como a Polícia não participa do atendimento médico ou do acolhimento, mas a estratégia é combinada dentro do possível”, explica.
Pilares da ação
A atuação, diz o secretário, é baseada em quatro pilares: 1) ampliação e requalificação do atendimento em saúde e assistência social 2) combate ao tráfico 3) requalificação urbana e 4) compartilhamento de inteligência.
Para Vargas, o Redenção buscou “aprender os acertos e erros” do De Braços Abertos que, segundo ele, tinha políticas que funcionavam muito mal, citando a instituição de hotéis sociais na região da Luz e uma bolsa-auxílio para dependentes químicos que trabalhassem varrendo ruas. “A bolsa funcionava como uma bolsa-crack”, critica.
Segundo ele, o erro do programa anterior era criar uma estrutura de acolhimento no meio da Cracolândia. Por outro lado, o Redenção manteve algumas ideias do programa de Haddad, como os hotéis sociais na Brasilândia e Heliópolis.
Protocolos de assistência
É consenso entre especialistas que resolver o problema da Cracolândia não é fácil e exige uma atuação interdisciplinar, que envolve assistência social, com geração de oportunidades para os dependentes químicos e tratamentos de saúde.
Dentro da saúde, há quem defenda a redução de danos enquanto outros acreditam que a busca pela abstinência é a melhor saída.
Vargas explica que o Redenção não fixa uma diretriz única, mas, de maneira geral, procurar valorizar a abstinência. O protocolo geral, segundo ele, é que os dependentes químicos passem por uma avaliação médica e, a partir disso, a abordagem é personalizada.
Fases de acolhimento
“Há casos de internação, outros de acolhimento. Podemos trabalhar a redução de danos ou priorizar a abstinência. O médico faz um plano terapêutico singular para cada pessoa. Temos ‘no cardápio’ tudo isso: leitos para internação voluntária e involuntária, hotel social com tratamento de saúde junto, acolhimento no próprio Caps [Centro de Atenção Psicossocial]. São várias possibilidades”, pontua.
O programa Redenção é composto por três fases de acolhimento, por meio do Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica (SIAT). O primeiro passo é o contato com as equipes que atendem nas ruas da Cracolândia, próximo ao fluxo, que tenta levar o dependente a um desses equipamentos de saúde e acolhimento – um fica no Glicério, outro na Armênia, ambos têm 200 vagas cada.
“Esse acolhimento terapêutico tem cama, banheiro para tomar banho, atendimento clínico, oficinas profissionalizantes e ocupacionais. E lá, o dependente vai se desprendendo da Cracolândia. Ele volta para a Cracolândia um dia, depois volta para a clínica. Ele vai mudando a rotina de não ficar o tempo inteiro na Cracolândia”, acrescenta o secretário-executivo.
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