SP já aplicou ao menos 47,6 mil Coronavac como doses de reforço em idosos
Estado vai na contramão de recomendação do Ministério da Saúde para uso, como terceira dose, de imunizante diferente do usado inicialmente
atualizado
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Desde que começou, 10 dias atrás, a aplicação da dose de reforço contra a Covid-19 em idosos, a escolha do estado de São Paulo vem levantando dúvidas e críticas de especialistas. O motivo é a decisão do governador de SP, João Doria (PSDB), de adotar a Coronavac para a terceira dose. A medida contraria o esquema de vacinação heteróloga recomendado pelo Ministério da Saúde, com base em estudos científicos que apontam melhor resultado com o uso de imunizantes diferentes do adotado nas primeiras duas doses.
No caso de idosos, cuja grande maioria recebeu o imunizante produzido pelo Instituto Butantan, o ideal seria a aplicação de vacinas da AstraZeneca, da Pfizer ou da Janssen.
Até o momento, ao menos 46.726 doses de reforço aplicadas em SP foram de Coronavac, o que representa 85,9% do usado como terceira dose no estado, segundo a base de dados do Ministério da Saúde até a quarta-feira (15/9). A Pfizer representa apenas 2,1% das aplicações. As demais doses de reforço foram de AstraZeneca (11,8%) e Janssen (0,1%).
Devido à demora no envio de registros pelas Unidades da Federação e da atualização da base unificada do ministério, o número não representa o total de vacinas aplicadas até o momento no estado, que notifica 114.764 doses de reforço aplicadas em seu Vacinômetro.
O Ministério da Saúde indica prioritariamente o imunizante da Pfizer e, quando indisponível, os da AstraZeneca ou da Janssen. A Coronavac é segura para qualquer idade, mas não foi indicada para dose de reforço por não oferecer uma proteção tão ampla quanto doses de outros fabricantes para idosos e porque estudos apontam que o uso de imunizantes feitos com plataformas tecnológicas diferentes da usada anteriormente pode aumentar a resposta imune.
Um estudo publicado pela Fundação Fiocruz no último mês, identificou que, para aqueles com idade entre 80 a 89, anos a Coronavac apresenta eficácia de 67,2%, com queda para 33,6% entre aqueles acima de 90 anos. Nas mesmas faixas etárias, a vacina da Astrazeneca apresentou eficácia de 89,9% e 65,4%, respectivamente.
O Metrópoles apurou que, até o momento, apenas o estado de São Paulo está utilizando o imunizante da Sinovac para este fim. Outros locais seguem a recomendação da aplicação com os imunizantes de outras fabricantes, como Espírito Santo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul.
Saiba como as vacinas contra Covid-19 atuam:
Para chegar à informação, o (M)Dados, núcleo de análise de grande volume de informações do Metrópoles, levantou apenas os registros “Reforço” e “Dose Adicional” para cada um dos registros encontrados.
A biomédica pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Mellanie Fontes-Dutra explica a vantagem da “combinação heteróloga”:
“A combinação heteróloga tem, como pontos positivos, a estimulação do sistema imunológico com uma vacina que possui outra tecnologia e, claro, ser um reforço. Temos dados muito positivos de que a resposta imunológica é melhor com esta combinação do que com a combinação de imunizantes iguais”, explica a cientista.
Em nota, o governo de São Paulo afirmou estar utilizando todos os imunizantes disponíveis na rede, “pois todos são seguros e eficazes” e que, segundo a estratégia estadual, também estão contemplados pessoas entre 60 a 69 anos, “que também têm alta vulnerabilidade ao agravamento da Covid-19 e não estão contemplados no recorte definido pelo Ministério da Saúde”.
Na contramão da decisão do governo estadual, a cidade de São Paulo começou a aplicar, a partir desta quarta-feira, a vacina da Pfizer como dose de reforço para idosos. A decisão veio após o recebimento de nova remessa do imunizante pelo Ministério da Saúde. Até então, a capital estava utilizando doses de vacina disponíveis no estoque para reforço da vacinação.