SP: 49 moradores de prédio que desabou após fogo não foram localizados
Oficialmente, a equipe só tem certeza de uma morte: um homem que estava sendo resgatado na hora do incêndio no edifício
atualizado
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O número de moradores do Edifício Wilson Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, que ainda não se apresentou à equipe de assistência social da Prefeitura de São Paulo subiu para 49 pessoas. Conforme noticiado na madrugada desta quarta (2/5), mais pessoas teriam sido identificadas, reduzindo para 29. Mas, depois, a quantidade voltou para os 44 informados no dia anterior.
A única pessoa considerada oficialmente desaparecida é um homem identificado como Ricardo. Ele chegou a passar pelo processo de resgate, interrompido em virtude do desabamento. Os dados da administração municipal revelam que havia 317 pessoas vivendo no local.
“Todo mundo conhecia a Selma, lutadora como a gente. Ela morava no oitavo andar e não conseguiu sair”, contou o desempregado Cosme Aleixo da Silva, de 54 anos.
De acordo com os bombeiros, 75 membros da equipe de resgate trabalharam na madrugada desta quarta (2) com o objetivo de tentar salvar algum sobrevivente dos escombros. Segundo afirmou o major Max Alexandre Schroeder, os agentes estão usando equipamentos pequenos, como britadeiras, para remover as estruturas. Somente depois de 48 horas da tragédia, quando a chance de encontrar alguém com vida é quase nula, que eles usarão máquinas pesadas, como retroescavadeiras.
O prédio estava ocupado irregularmente por sem-teto. Com base em relatos dos invasores, eles pagavam um aluguel de até R$ 400 para morar no edifício. O dinheiro era usado a fim de custear as despesas do prédio, que tinha até porteiro.
Tragédia
O prédio, de 24 andares, desabou durante um incêndio de grandes proporções. A Igreja Luterana situada ao lado da estrutura que ruiu também pegou fogo. O templo ficou parcialmente destruído e teve de ser interditado.
A única vítima confirmada até agora era resgatada por corda pela equipe de socorro quando a estrutura do edifício foi ao chão. A corda que o prendia se rompeu e o homem caiu. Um bombeiro também se feriu durante o desabamento.
A estrutura era uma instalação desativada da Polícia Federal. Segundo comerciantes do entorno, o local era ocupado ilegalmente. Antes de ruir, algumas pessoas pediam socorro no último andar. As chamas começaram no quinto andar, depois se alastraram rapidamente para os níveis superiores. Ao todo, 160 militares atuam no combate ao incêndio e no resgate das vítimas.
Vídeos mostram o momento exato do desabamento. Em um deles, uma moradora que reside ao lado do edifício narra desesperadamente: “Tem gente pendurada? Será que vão conseguir pegar essa pessoa? Meu Deus! Meu Deus do céu!”, grita aos prantos após a estrutura ruir. Veja algumas imagens:
Nobel da Paz
O prédio foi palco de eventos célebres nos anos 1980 e alojou o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), mas estava ocioso desde 2009. A PF mudou para o atual endereço, na Lapa, em 2003. O argentino Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, ficou preso no local, em 1981, após criticar a Lei da Anistia e encaminhado ao prédio da Antônio de Godói.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o prédio havia passado por vistoria, na qual foram relatadas as péssimas condições do local às autoridades do município. Conforme informou a corporação, os compartimentos entre os andares eram divididos por madeira, o que ajudou a propagar as chamas.
Um edifício vizinho também foi atingido e as chamas se espalharam por dois andares. A estrutura foi esvaziada e interditada. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o risco de colapso é mínimo e não há vítimas deste incêndio.
Devido ao combate às chamas, no trecho entre a Avenida Rio Branco e a Rua Antônio de Godói, os militares recomendam aos motoristas evitarem passar pela região do Largo do Paissandu. Três quarteirões estão fechados.
Investigação
O Ministério Público do Estado de São Paulo determinou que sejam investigadas as causas do acidente, bem como a veracidade dos relatórios técnicos encaminhados pelos órgãos públicos responsáveis pela manutenção e fiscalização do edifício Wilton Paes de Almeida.
A Promotoria de Habitação de Urbanismo havia instaurado, em 24 de agosto de 2015, um inquérito civil para apurar a possível existência de risco no imóvel, que foi arquivado. De acordo com nota do Ministério Público, o caso foi reaberto em virtude dos “gravíssimos fatos ocorridos”.
Com base no alegado na nota, ao longo de dois anos e sete meses de investigação, os órgãos públicos incumbidos de fiscalizar o imóvel, em especial a Defesa Civil de São Paulo e a Secretaria Especial de Licenciamentos, informaram que, a despeito do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) estar vencido, não havia risco concreto para fazer a interdição da estrutura.