“Sou o pai e sofro a mesma dor”, diz dono de prédio que desabou
Vítimas do desabamento de prédio em Rio das Pedras são enterradas com homenagens de parentes, amigos e vizinhos da comunidade na zona oeste
atualizado
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Rio de Janeiro – A saudade e a dor da perda de Natan de Souza Gomes, 38, e da pequena Maitê, de 2 anos e 8 meses, foi estampada em camisetas com uma foto de pai e filha para marcar a despedida daqueles que não sobreviveram ao desabamento do edifício de quatro andares, construído pelo pai e avô das vítimas, Genival Gomes Macedo. Na imagem estampada estava a frase: “Ficam as lembranças para contar como foram suas vidas e sobram as saudades para lembrar a falta que vocês farão”.
“Sou pai, estou sofrendo a mesma dor. Triste seria se tivesse perdido ele para o mundo. Tem que guardar as lembranças no coração. De onde ele está, está te vendo”, disse Genival a mãe de Natan, Antônia de Souza Gomes, 58 anos, durante o enterro do filho e da neta. “Nos é que estamos mal. Ele está no céu”, sendo muito abraçado por amigos e parentes.
Na cerimônia, realizada no fim da tarde desta sexta-feira (4/6), no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, na Zona Portuária, Dona Antônia, chorando muito, chamou diversas vezes pelo nome do filho e precisou ser amparada por amigos e parentes. Irmão de Antônia, o garçom José Soares Conrado de Souza, 53 anos, ressaltou a dor da família, em especial a do pai de Natan, que construiu o prédio.
“A gente não pode fugir a realidade, uma tragédia que não se pode prever. Agora, é ir em frente e pedir força para Deus. Genival queria que respeitasse o momento. Ele está muito triste, a gente perdeu pessoas que a gente ama. A família está triste. Você perde uma pessoa, uma criança que não tinha vivido nada”, lamentou.
Ainda segundo o garçom, Kiara Abreu, mulher de Natan e mãe de Maitê, ainda não foi informada das mortes e dos detalhes da tragédia. “A família era pura harmonia, a relação do pai com a criança era uma joia. Eles trabalhava praticamente em casa, sempre estavam juntos. A gente tem psicólogo acompanhando ela, mas num momento desse não tem como ficar calma”, completou.
Em um momento de muita emoção, Genival e Antônia se despediram juntos da neta, tiraram fotos do caixão e deram adeus à Maitê. “Ah meu Deus. A vovozinha te ama. Queria que você saísse desse caixão. Ô, minha netinha. Vovozinha vai te amar sempre. Você e seu pai vou amar sempre”, disse Antônia. Antes, a despedida foi de Natan. “Ele está no céu. Deus ganhou ele. Tem que ser forte”, disse Genival à ex-mulher, que respondeu: “não queria perder meu filho”.
Também vítima do acidente, Tatiana Conrado Souza, irmã de Natan, preferiu não falar com a imprensa. Tatiana também estava no prédio quando houve o desabamento, mas teve apenas escoriações e ferimentos leves. Já a outra vítima, Nataniela Souza Gomes, de 28 anos, socorrida para o Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, permanece internada e recebeu a visita do pai.
“Ela queria saber da Kiara e do Natan. Chorou muito, mas não falei nada. Disse para ela ficar bem, que estava esperando notícias. Como pai, fiquei pouco tempo, mas disse que queria que ela ficasse bem”, contou Genivan. A vítima ainda não tem previsão de alta hospitalar. O marido da jovem, Jonas Rodrigues de Souza, 39, também ficou ferido, foi atendido no mesmo hospital e liberado no mesmo dia.
Perto do fim da cerimônia, o pai de Natan agradeceu as orações e o pensamento positivo. “Todas as pessoas estão orando para ele ter um lugar bom no céu. Será que ele queria estar embaixo dos escombros? Quando recebi a notícia de madrugada, fiquei louco. Mas Deus me da força. Nós temos que ter força. Saber que tem um anjinho recebendo a Maitê no céu. Toda noite oro a Deus por toda família. Natan é Maitê estão com Deus. A irmã que está no hospital é que precisa de força. Deus tirou meu filho, mas deixou a filha, foi bondoso comigo”, disse, resiliente.
Antes do enterro, Antônia, em entrevista exclusiva ao Metrópoles, lembrou sobre o esforço e o investimento que fizeram na construção do prédio, para que a família tivesse um lar como legado. Ela ajudou o marido a construir o edifício de quatro andares onde morava a família.
“Um sonho desabou ali. Foram muitas noites viradas de sol a sol, muitas vezes sem nem parar para comer, para erguer aquele prédio e abrigar a nossa família. Casada com ele, também peguei no pesado, carreguei areia, vigas, e o mesmo sonho que ele tinha, de deixar nossos filhos amparados”, lembrou a cuidadora, que não estava em casa na hora do acidente por conta do trabalho – ela dorme na casa onde cuida de um idoso.