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Sobrevivente volta à Muzema e relata o resgate: “escavei com as mãos”

“Comecei a tirar as pedras e me locomover igual a uma minhoca entre os escombros”, relatou Luciano Paulo dos Santos

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Fernando Frazão / Agência Brasil
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1 de 1 muzema-fernando-frazao-abr - Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

Um dia depois de ter sido retirado dos escombros, Luciano Paulo dos Santos, de 38 anos, voltou neste sábado (13/4) ao local dos desabamentos que deixaram sete mortos na Muzema, zona oeste do Rio de Janeiro, para tentar recuperar documentos que ficaram em seu apartamento. Ele foi resgatado pelos bombeiros após cerca de quatro horas soterrado e conta que ficou consciente o tempo todo.

“Eu não costumo acordar às 6h, mas devido às fortes chuvas, acordei para não chegar atrasado no trabalho”, conta ele, que primeiro ouviu os gritos dos moradores do prédio ao lado. “Quando abri a janela, vi o ar condicionado passando [conforme o prédio desabava]”.

O chefe de cozinha mineiro conta que fugiu para o corredor, e lá sentiu que o seu prédio também começou a afundar sobre os seis andares de baixo, já que ele morava no último. Luciano caiu, e uma coluna de seu apartamento caiu ao seu lado. Sobre ela, caiu uma parede e a laje. “Fiquei em uma caverninha”, lembra ele.

“Ai, fui escavando com a mão. Comecei a tirar as pedras e me locomover igual a uma minhoca entre os escombros”, conta ele, que afirma que teve elasticidade para se contorcer porque fazia yoga

Ao ouvir o trabalho dos bombeiros, ele pediu socorro e foi localizado. Depois de resgatado, Luciano foi levado para o Hospital Lourenço Jorge, de onde teve alta, aliviado e triste com a notícia da morte de seus vizinhos. “Conhecia todos eles”, lamentou ele, que morava sozinho e agora está abrigado na casa de uma amiga.

Em busca de um apartamento próprio, Luciano se mudou para o prédio que desabou em setembro, e conta que ainda não havia percebido nenhum sinal de instabilidade na estrutura. “Nem depois das chuvas”, reforça ele.

Durante a manhã de hoje, a rua do desabamento continuava interditada para o trabalho de resgate. Ao menos 12 pessoas são consideradas desaparecidas. Moradores de outros prédios vizinhos aos que estão interditados se revezam para buscar coisas em casa, acompanhados de agentes da Defesa Civil.

A arrumadeira Socorro Rodrigues, de 55 anos, conta que chegou ao condomínio há um ano em busca de uma vida mais tranquila. Os tiroteios frequentes na Favela da Rocinha fizeram com que se mudasse para a zona oeste. Sem poder entrar em sua casa, ela acompanha o trabalho de resgate.

“Está difícil pra todo mundo. A gente só pode entrar para pegar roupas e sair. Não pode dormir, não pode fazer nada”, lamenta ela, que espera voltar para o apartamento que comprou, mesmo após o desabamento do prédio vizinho. Ela conta que a primeira vez que sentiu medo foi ao ver a grande quantidade de lama que desceu a rua durante os temporais desta semana, mas tem fé de que poderá voltar para casa onde mora com o irmão e dois sobrinhos

“Não posso perder a fé. Se Deus quiser, vai dar tudo certo”.

Peritos da Polícia Civil estiveram no local do desabamento na manhã deste sábado (13). Em meio à apreensão e ao trabalho dos profissionais de resgate, voluntários católicos e evangélicos se uniram para servir água e comida.

A Paróquia de São Bartolomeu, no Itanhangá, está recebendo doações para montar cestas básicas para as familias afetadas pelo desastre. Além disso, os voluntários servirão entre 100 e 150 almoços para os bombeiros, guardas municipais e outros profissionais no local. Já fiéis da Igreja Batista Recomeço, que fica ruas abaixo do desmoronamento, serviu café da manhã.

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