Sobrevivente do massacre de Suzano ganha indenização: “Ela não esquece”
Mãe de aluna que presenciou mortes de colegas em escola pública paulista relata sofrimento da filha para lidar com trauma
atualizado
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São Paulo – Adriana de Oliveira Martins é mãe de uma jovem que sobreviveu ao massacre de Suzano (SP), tiroteio em massa que ocorreu em um colégio público na região metropolitana de São Paulo e que deixou dez mortos em 2019. Na última quarta-feira (9/10), a filha de Adriana conseguiu na Justiça, em segunda instância, o direito de receber do estado de São Paulo uma indenização de R$ 20 mil.
A adolescente, que tinha 15 anos na época, se trancafiou em uma sala para fugir dos tiros. Ao sair da escola, a cena do massacre foi demais para ela: precisou passar por cima dos corpos de colegas, professores e funcionários mortos.
“Ela não esquece a cena, ficou com trauma e teve que fazer tratamento psicológico. Hoje, ela tem outro comportamento, é bem mais calada, teve dificuldade na escola”, afirmou a mãe, em conversa com o Metrópoles.
Adriana também relatou que a filha prefere não sair de casa, é bastante reservada e não gosta de conversar sobre o que ocorreu.
Para a Justiça, a situação da estudante, que ainda está sofrendo de abalos psíquicos, “é muito mais do que mero percalço ou dissabor”.
“Quanto à conduta, não há nenhuma dúvida, visto que o massacre se deu em uma escola pública, onde o Estado era o responsável pela segurança dos funcionários e dos alunos”, ressaltou o relator do recurso no Tribunal de Justiça de São Paulo, Marcos Pimentel Tamassia.
De acordo com mãe da sobrevivente, o trauma afetou toda a família. “Eu fiquei com receio de que minhas filhas fossem para a escola naquela época. A menor, de 6 anos, ainda fala do que aconteceu quando conhece um lugar novo. Imagina uma criança ficar com medo de ir para a escola?”
Ainda segundo Adriana, nem todas as famílias procuraram a Justiça “achando que não vai dar em nada”. “Nós procuramos [a Justiça] porque foi algo muito ruim que aconteceu com a gente. Espero que isso beneficie outras famílias. A escola mudou desde o que aconteceu, mas a gente ainda ouve muitos relatos de violência nos colégios e espero que nunca mais ninguém passe pelo que passamos”.
Massacre de Suzano
Em março de 2019, Guilherme Taucci Medeiros, 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25 anos, invadiram o Colégio Raul Brasil, que fica em Suzano, município distante 55 km de São Paulo (SP).
Guilherme atirou contra alunos e funcionários. Luiz Henrique atingiu o maior número de pessoas que conseguiu com golpes de machadinha.
Dez pessoas morreram: cinco alunos, duas funcionárias, os dois ex-alunos e autores do crime, além do tio de um dos atiradores.