Sobrevivente da Boate Kiss: “Última vez que corri foi para me salvar”
Kellen Giovana Leite Ferreira, que teve a perna amputada após a tragédia, deu relato emocionante no 1º dia de julgamento de réus
atualizado
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O segundo dia de julgamento de quatro réus acusados pela tragédia na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), no ano de 2013, terá início na manhã desta quinta-feira (2/12), com o depoimento de testemunhas do caso. Nessa quarta-feira (1º/12), vítimas que sobreviveram ao incêndio relataram o terror vivido no começo daquele ano. A tragédia matou 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos.
Uma das sobreviventes do incêndio da Boate Kiss que prestou depoimento na quarta foi Kellen Giovana Leite Ferreira (foto em destaque), 28 anos. Ela teve parte de uma perna amputada devido aos ferimentos sofridos. Emocionada, Kellen disse que caiu ao tentar escapar das chamas dentro da boate e que sua sandália ficou presa no tornozelo, cortando a circulação sanguínea. “A última vez que eu corri foi para tentar me salvar da morte”, destacou.
O Metrópoles transmite pelo YouTube o julgamento da Boate Kiss:
Ela estava acompanhada de sete amigos, dos quais três morreram. A jovem teve 18% do corpo queimado e ficou 78 dias internada no Hospital das Clínicas de Porto Alegre. No depoimento no Foro Central I, em Porto Alegre (RS), local do júri, relatou traumas psicológicos, além dos físicos.
“Vivemos numa sociedade que exige corpo perfeito. Eu comecei um processo de aceitação do ano passado para cá. Eu tinha medo de sair nas ruas e as pessoas me julgarem. Só ano passado passei a usar short. Eu usava calça jeans até no calorão de 40 graus”, afirmou Kellen, sobre ter perdido o pé, de acordo com informações do Jornal Zero Hora.
Estão sentados nos bancos dos réus Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, sócios da boate, e Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, da banda Gurizada Fandangueira. O julgamento pode durar 15 dias. As sessões começam às 9h e vão até as 23h.
A tragédia
No dia 27 de janeiro de 2013, a Boate Kiss, casa noturna localizada na Rua dos Andradas, no centro da cidade de Santa Maria, recebeu centenas de jovens para uma comemoração. No palco, havia dois shows ao vivo. O primeiro, de uma banda de rock. Depois, foi a vez da Gurizada Fandangueira, de sertanejo universitário. A casa estava lotada: entre 800 e mil pessoas. A boate tinha capacidade para 690 pessoas.
Segundo contou na época o guitarrista da banda Rodrigo Lemos, o fogo começou depois que um sinalizador foi aceso. Ele disse que os colegas de banda logo tentaram apagar o incêndio, mas o extintor não teria funcionado. Um dos componentes da bando, o gaiteiro Danilo Jaques, morreu no local.
Naquele dia, as faíscas atingiram o teto revestido de espuma. Em pouco tempo, o fogo se espalhou pela pista de dança e logo tomou todo o interior da boate. De acordo com os bombeiros, a fumaça altamente tóxica e de cheiro forte provocou pânico. Aí começou a tragédia.
Ainda sem saberem do que se tratava, seguranças tentaram impedir a saída antes do pagamento. Houve empurra-empurra. Alguns conseguiram deixar o local. Muitos que não conseguiram, desmaiaram, intoxicados pela fumaça. Outros procuraram os banheiros para escapar ou buscar uma entrada de ar e acabaram morrendo. Segundo peritos, o sistema de ar condicionado ajudou a espalhar a fumaça. Além disso, um curto-circuito provocado pelo incêndio causou uma explosão — 242 pessoas morreram.