metropoles.com

Sob gestão Bolsonaro, EBC tem “censura, governismo e boicote”, dizem funcionários

Privatização da estatal é analisada. Jornalistas da empresa criticam uso dos veículos para propaganda e promoção pessoal do presidente

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Arquivo/Agência Brasil
Empresa Brasil de Comunicações (EBC)
1 de 1 Empresa Brasil de Comunicações (EBC) - Foto: Arquivo/Agência Brasil

A pressão feita pelo Palácio do Planalto no conteúdo produzido pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC) tem levado a estatal a registrar casos de censura e de boicote a opiniões contraditórias do que prega o governo. A situação se agravou nos últimos dias com a troca de diretores da EBC.

Chegaram aos quadros da estatal, recentemente, o  ex-diretor do programa Pânico na Band Alan Eduardo Rapp e o publicitário Glen Lopes Valente, ex-diretor do SBT.

Funcionários reclamam que, em vez de comunicação pública, os veículos como TV Brasil, Agência Brasil e Rádio Nacional estão sendo usados para propaganda e promoção pessoal do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Além disso, o conteúdo veiculado vem sofrendo modificações. Na última terça-feira (13/10), por exemplo, o canal conseguiu os direitos de transmissão da partida entre Brasil e Peru, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Confrontos da Série D do Campeonato Brasileiro também passaram a ser exibidos.

3 imagens
Ex-diretor do programa Pânico na Band Alan Eduardo Rapp
Funcionários da EBC reclamam da gestão da empresa durante a presidência de Jair Bolsonaro
1 de 3

Diretores e conselheiros Empresa Brasil de Comunicações (EBC) terão seguro de R$ 1,6 milhão

Marcelo Camargo/EBC
2 de 3

Ex-diretor do programa Pânico na Band Alan Eduardo Rapp

Reprodução/ redes sociais
3 de 3

Funcionários da EBC reclamam da gestão da empresa durante a presidência de Jair Bolsonaro

Rafaela Felicciano/Metrópoles

Preservar a imagem dos governos não é novidade na estatal, mantida com dinheiro público e com capital social no valor de R$ 300 milhões, divididos em 200 mil ações ordinárias nominativas e sem valor nominal.

Ultimamente, no entanto, empregados se queixam de que a ingerência governamental está cada vez mais taxativa. A cobertura das queimadas no Pantanal e na Amazônia, por exemplo, teve pouco espaço para visão crítica e contemplou as explicações do governo. O mesmo se repete com a pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

Fusão

A fusão entre a TV Brasil e a TV NBR, feita no ano passado, acentuou os problemas, disseram os profissionais ao Metrópoles com a condição de terem as identidades preservadas. Antes existia uma separação entre o jornalismo da NBR, que acompanha a agenda da Presidência e de ministros, e o jornalismo da TV Brasil, que deve ser público de fato, para ouvir a sociedade em geral e trazer as diferentes visões.

“Com a fusão entre os canais, o jornalismo da TV acabou trazendo muito mais a pauta oficial de governo e, por consequência, a figura do presidente. Quase toda pauta governamental é exibida sem qualquer contraditório na TV Brasil. Isso se reproduziu nas rádios e na Agência Brasil”, conta um jornalista, que trabalha há anos na empresa.

Um dos motivos para essa fusão foi a tentativa de diminuir os gastos. Em 2018, houve dois planos de demissão voluntária. A EBC, que naquele ano tinha 2.278 funcionários, hoje conta com 1.600. Também há um esforço para que os orçamentos não sejam totalmente executados.

No ano passado, por exemplo, o orçamento da empresa alcançou de R$ 617 milhões, mas foram executados R$ 471 milhões. Em 2020, o orçamento é de R$ 652 milhões. Até outubro, a execução está em R$ 345,5 milhões, segundo o Portal da Transparência.

Foco no presidente

Até mesmo as notícias que partem do próprio governo, mas com potencial de desgastar a imagem do presidente, acabam sendo evitadas. Um dos exemplos é o uso da cloroquina, remédio defendido por Bolsonaro como tratamento para a Covid-19. A droga não tem eficácia científica reconhecida para esse fim.

A TV Brasil chegou a fazer programas com especialistas que questionam a serventia da medicação. Porém, quando o presidente passou a defender mais abertamente o remédio, os obstáculos surgiram.

“Os colegas relatam muitas dificuldades em fazer uma cobertura mais crítica ao governo. A empresa não pode virar máquina de propaganda e de promoção pessoal do presidente. Isso é uma violação da Lei da EBC”, aponta um funcionário.

“Como os chefes da TV Brasil, em sua maioria, não são do quadro, não questionam o uso político do jornalismo da TV para beneficiar o governo, fugindo do propósito legal para o qual a empresa foi criada”, complementa o servidor.

A ida de figuras como Alan Rapp para o comando da EBC reforça o objetivo do governo em reforçar conteúdos positivos para o Planalto e evitar exposições desgastantes. Nas redes sociais de Rapp, é comum vê-lo elogiando Bolsonaro e ministros, além do hábito de reproduzir mensagens pró-governo.

Privatização

As recentes declarações feitas pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, de que a empresa precisa passar por algumas adequações antes de ser privatizada, gerou ainda mais desconforto entre os servidores.

“Somos contra a privatização. Nossa perspectiva é de uma EBC de fato pública e com garantias de independência editorial”, defende outro funcionário.

Com a insatisfação dos servidores cada vez maior, os conflitos aumentaram. Até mesmo o teletrabalho se tornou motivo para desavença. “Os chefes tiveram que – exceto os do grupo de risco – seguir trabalhando de forma presencial. E isso acirrou ainda mais os ânimos”, relata um colaborador.

Ele continua: “Antes, as divergências eram relacionadas às pautas, às censuras, às práticas de governismo. Agora, esses chefes, com o suporte da direção, querem impor um retorno ao trabalho presencial de forma obrigatória, mesmo o jornalismo da empresa funcionando bem com o trabalho remoto. É como se fosse uma vingança , uma birra”, pondera.

Versão oficial

O Metrópoles entrou em contato com o Palácio do Planalto, que não quis comentar o caso.

A EBC também foi questionada sobre as queixas feitas pelos funcionários, mas não obteve retorno. O espaço continua aberto para esclarecimentos.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) acompanham a situação.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?