Só 3 estados têm mais de 20% da população vacinada com dose de reforço
Seis não dispõem de dados atualizados sobre a vacinação. Estados dizem que ataque hacker ao Ministério da Saúde comprometeu sistema
atualizado
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Levantamento feito pelo Metrópoles mostra que apenas três estados conseguiram aplicar a dose de reforço das vacinas contra a Covid-19 em mais de 20% de suas populações: São Paulo (26,7%), Mato Grosso do Sul (26,4%) e Espírito Santo (22,2%).
Ou seja, na maior parte do Brasil, os elegíveis para mais uma dose dos imunizantes ainda não compareceram aos postos de vacinação.
Para chegar a esse número, o (M)Dados, núcleo de análise de grande volume de informações do Metrópoles, consultou cada um dos vacinômetros e boletins epidemiológicos dos 26 estados e do Distrito Federal.
O levantamento verificou a quantidade de doses de reforços aplicadas em cada estado e a proporção da população local contemplada. Para o cálculo, foi utilizada a mais recente estimativa da população, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além dos baixos índices de retorno aos postos, outro problema também tem contribuído para o número desapontador: em seis estados, dados sobre a Campanha Nacional de Imunização estão desatualizados há mais de um mês. O motivo alegado pelos gestores é a falta de conectividade com o sistema de informações do Ministério da Saúde, que alega ter sofrido um ataque hacker.
Com dados atualizados até 15 de dezembro, Acre, Alagoas, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima e Tocantins vivem um apagão que os impede de registrar de forma fidedigna a corrida pela terceira dose.
Desde que sofreu uma série de ataques hackers em seus sistemas no dia 10 de dezembro, o Ministério da Saúde não conseguiu solucionar o apagão de dados sobre a Covid causado pela invasão. Com isso, informações epidemiológicas estão fora do ar.
Segundo Rodrigo Cruz, secretário executivo da pasta, tudo foi apagado da nuvem do ministério durante o ataque. Os dados, porém, não estariam perdidos, diz Cruz.
A Paraíba alega não contabilizar vacinas de reforço, pois isso seria de responsabilidade dos municípios, que informariam ao ministério o montante aplicado. Em sua plataforma de acompanhamento, entretanto, o estado contabiliza primeiras, segundas e doses únicas de imunizantes aplicados.
Veja como está a situação de cada um dos estados do país:
O cenário preocupa especialistas, que veem a alta disseminação da variante Ômicron como um problema que só pode ser solucionado efetivamente com a aplicação do reforço das vacinas na população.
“Para enfrentar a Ômicron, precisamos que todos acima de 18 anos tenham ao menos três doses de vacinas. Isso é o básico”, diz Raquel Stucchi, médica infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Em todo o país, a cada 100 pessoas 15 tomaram a dose de reforço, quantidade menor do que as registradas pelas nações vizinhas. No Chile, o número sobe para 61 vacinados a cada centena; Uruguai, 46; e na Argentina 19 em cada 100 já tomaram a dose de reforço, segundo dados da plataforma Our World in Data, ligada à Universidade de Oxford.
Devido à baixa parcela de vacinados com reforço no Brasil, Stucchi afirma que o país está, mais uma vez, ficando para trás na corrida contra o vírus.
“Estamos atrasados, muito atrasados. Nosso percentual de pessoas já vacinadas com três doses é muito pequeno”, descreve a especialista.
Para o médico infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Julival Ribeiro, o problema na cobertura da terceira dose se soma a um planejamento que, segundo ele, foi mal executado para enfrentamento da Covid-19.
“Desde o início [da pandemia] não temos planejamento em relação à Covid, que deveria ter sido comandado pelo Ministério da Saúde. Faltou coordenação, e segue faltando até hoje”, critica Ribeiro.
Procurado, o Ministério da Saúde não respondeu aos questionamentos enviados pela reportagem do Metrópoles. O espaço permanece aberto.