Sites de venda são “mercadões” para colecionismo nazista
Páginas brasileiras e estrangeiras vendem itens que remetem à 2ª Guerra Mundial e ao Terceiro Reich, de Adolf Hitler
atualizado
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Sites de vendas – tanto nacionais quanto estrangeiros – estão repletos de anúncios para colecionadores de itens que remetem ao nazismo. Na internet, é fácil achar selos, moedas, bandeiras, brincos, anéis e até esculturas que remetem diretamente à figura de Adolf Hitler ou símbolos daquele período, como a suástica, estampada na bandeira do Partido Nazista. É possível, ainda, encontrar edições iniciais do livro Mein Kampf (Minha Luta), autobiografia de Hitler, obrigatória em escolas alemãs entre 1939 e 1945. Itens bélicos, como morteiros, capacetes, máscaras de gás e medalhas, anunciados como peças legítimas da 2ª Guerra Mundial, também estão disponíveis.
Para que as publicações não sejam retiradas do ar automaticamente pelos algoritmos dos market places onde estão anunciados, os itens sempre vêm com algum “disfarce” na descrição. O nome de Hitler, por exemplo, é proibido nas propagandas dos produtos e, para driblar tanto as regras dos sites quanto eventuais denúncias de usuários, a estátua do Terceiro Reich, por exemplo, aparece sendo vendida com o nome de “líder alemão” ou “general alemão”.
No site AliExpress, o resultado para qualquer desses verbetes retornava imediatamente com as imagens de Hitler. Na plataforma, é possível escolher a expressão facial do boneco – com cabeça vendida separadamente do corpo e das roupas da peça.
Sabendo que qualquer apologia ao nazismo é considerada crime em várias partes do mundo, os vendedores optam por borrar e censurar símbolos nas imagens, como as suásticas e o bigode característico do ditador alemão – alguns, porém, não se intimidam. Vários vendedores trazem um aviso prévio aos usuários de que a venda não se trata de promoção a discurso de ódio ou apologia ao nazismo.
Durante a produção da reportagem, o Metrópoles tentou contato com as assessorias de imprensa das empresas. Como não houve retorno, a reportagem encaminhou um e-mail para o serviço “Fale Conosco” das companhias, relatando a situação de alguns anúncios. Cerca de uma semana após o contato, as publicações de vários desses produtos foram retiradas do ar.
Valor histórico
Para Gilberto Cavallinni, sócio de uma loja especializada em venda de selos e moedas, itens que remetem à ditadura de Adolf Hitler (1933-1945) possuem valor histórico para colecionadores, mas também atraem simpatizantes do nazismo, interessados somente em objetos relacionados ao período.
“Nós temos essas moedas na loja, assim como temos centenas de outras, de vários outros países. A maioria dos colecionadores quer porque faz parte da série histórica. Se a pessoa coleciona moedas de vários países, de vários momentos históricos, também vai querer essas [reichmark – moeda da Alemanha nazista]. Mas é claro que alguns querem só porque tem a suástica ou a figura do Hitler”, comenta Gilberto.
“Crescimento da extrema-direita”
Para a doutora em sociologia Maria Beatriz Coelho, a polarização política e o crescimento da extrema-direita em todo o mundo ajudam a explicar parte da clientela do nicho de mercado de colecionismo nazista. “Os simpatizantes do nazismo também são antissemitas e supremacistas raciais. Acham que são superiores, desprezam negros, judeus e pessoas de outras nacionalidades. A suástica e a figura de Hitler para essas pessoas têm uma função quase religiosa, de idolatria, e isso está muito relacionado com o crescimento da extrema direita”, opina.