“Sinto muita falta do outro bebê”, diz mãe que teve filho trocado
Exame de DNA comprovou que os pais receberam outras crianças na maternidade do Hospital de Urgências de Trindade (Hutrin)
atualizado
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Enviado especial a Trindade (GO) – Menos de 24 horas depois de recuperarem o filho, Genésio Vieira, 43 anos, e Pauliana Maciel, 27, passaram a primeira noite com o menino em casa, no Setor Monte Sinai, em Trindade, município da região metropolitana de Goiânia.
Vinte e quatro dias após o nascimento, a criança, enfim, dormiu no berço preparado pelos pais. “Foi um turbilhão de sensações. Sinto muita falta do outro bebê. Não tem como esquecer do cheirinho que ficou nas minhas coisas”, destaca Pauliana.
A dona de casa contou pela primeira vez os detalhes do que aconteceu após devolver o filho biológico de Murilo Lobo, 22 anos, e Aline Alves, 20. Pauliana tenta construir laços com o bebê. “Estou vivendo um dia de cada vez. Tem de ser assim. Não quero ficar pensando como vai ser lá na frente”, detalha.
Logo ao amanhecer, as famílias se falaram. “Estamos mantendo contato, não vamos nos separar. Nós perguntamos se dormiram bem. São nossos filhos para o resto da vida”, garante Pauliana. Os casais já combinaram de passar o fim de semana juntos, e planejam comemorar o aniversário de um ano com uma só festa.
Para ela, o caso não tem explicação. “Tento imaginar o que aconteceu. O que as enfermeiras fizeram, por que fizeram isso. Pode não ter sido intencional. Não quero ter um sentimento de raiva, mas está difícil perdoar”, lamenta. Agora, é tentar retomar a rotina. “Desde quando soubemos da confusão, trocamos a amamentação. Estou um pouco aliviada. Estava preocupada se realmente eles eram nossos filhos”, frisa.
Pauliana é categórica. “Vamos construir esse vínculo”, diz. Genésio emenda. “Foi criado um amor grande. Esse foi o que eu carreguei durante os últimos nove meses. Era doida para vê-lo no mundo. É um amor que está sendo construído”, conclui.
Um pai apaixonado
Genésio, desde que retomou o filho, é um carinho só. Nessa quinta-feira (01/08/2019), ao recuperar o bebê na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), em Trindade, deitou com o menino na cama e esqueceu do tempo.
“Está sendo como se estivéssemos o encontrado pela primeira vez. Parece que ele chegou ontem. Ainda não sabemos como ele gosta de dormir. O que mais queria era estar com ele. Nosso coração se acalmou depois dessa angústia”, conta.
Murilo e Aline, após acompanharem a investigação do caso hospedados na casa de Genésio e Pauliana, voltaram para Santa Bárbara, município goiano distante 27 quilômetros de Trindade. Eles informaram, pelos advogados, que passam bem e estão descansando.
Investigações continuam
Nesta sexta-feira (02/08/2019), a chefe da DPCA, Renata Vieira, ouvirá as avós dos bebês trocados. Elas contarão o que viram naquele 9 de julho na maternidade do Hospital de Urgências de Trindade (Hutrin). As investigações continuam. Ao todo, 11 pessoas já prestaram depoimento.
Uma técnica em enfermagem do berçário do Hutrin é investigada pela Polícia Civil de Goiás como a responsável pela troca. Ela não teve o nome divulgado. Segundo Renata Vieira, a mulher negou qualquer falha no atendimento de Pauliana e Aline.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás destacou que cobrará esclarecimentos da organização social que gere o hospital. “O contrato de gestão tem metas de produção e qualidade a serem atendidas. Entendemos que o ocorrido afeta a segurança e a qualidade dos processos assistenciais da unidade”, finaliza o texto.
Segundo o porta-voz do Hutrin, Hemiltom Prateado, o hospital investigou preliminarmente e fez mudança no protocolo. Uma sindicância foi aberta e a apuração está em curso, por isso ainda não é possível detalhar o que ocorreu naquele dia. Contudo, de acordo com Prateado, o hospital acredita que a troca tenha ocorrido somente entre os dois bebês.