SinoVac cobrou fim de ataques do governo à China para enviar insumos
Informação consta em um documento sigiloso do Palácio do Itamaraty enviado à CPI da Covid no Senado
atualizado
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A farmacêutica chinesa SinoVac, responsável pela produção do insumo necessário para a fabricação da vacina Coronavac, cobrou uma mudança de posicionamento do governo brasileiro para garantir o envio da substância ao país.
A informação consta em um documento sigiloso do Palácio do Itamaraty enviado à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado Federal. O ofício foi obtido com exclusividade pelo jornal O Globo, divulgado em reportagem desta quarta-feira (9/6).
O pedido da farmacêutica foi feito duas semanas depois que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) insinuou que o coronavírus teria sido criado em laboratório na China, e que o país tentaria promover uma “guerra química”.
O documento reproduz uma carta enviada pela Embaixada do Brasil na China ao Itamaraty, com a ata de uma reunião entre diplomatas, representantes brasileiros e o presidente da SinoVac, Widong Yan. O encontro foi realizado no dia 19 de maio, em Pequim, capital chinesa.
De acordo com o ofício, Widong Yan teria pedido uma mudança no posicionamento político brasileiro para garantir uma “relação mais fluída” entre os países. O presidente do laboratório também teria ressaltado a “importância do apoio político para a realização de exportações”.
A China é o único exportador de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) ao Brasil, substância necessária para fabricar vacinas contra a Covid-19. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Butantan dependem da matéria-prima para dar continuidade à produção em solo nacional.
Butantan
Em maio, os dois laboratórios chegaram a paralisar a produção devido ao atraso na entrega do IFA. No fim do mês, o Butantan, que deveria receber 4 litros da substância, recebeu apenas 3 litros.
O relato entregue ao Itamaraty mostra que representantes brasileiros questionaram a SinoVac se seria possível enviar a quantidade esperado de IFA ao Butantan. O presidente da empresa, no entanto, disse que há um “processo de alocação da produção para os diversos clientes da empresa”. O CEO afirmou que, para facilitar esse processo, seria conveniente que o governo brasileiro desenvolvesse “uma relação mais fluída com o governo chinês”.
“Bom relacionamento”
O relato afirma, ainda, que o presidente da SinoVac citou o “bom relacionamento da empresa com o Instituto Butantan” e o “apoio da Chancelaria à cooperação com o Brasil” como características positivas. No entanto, para o CEO, “poderia ser útil que o acordo entre as empresas fosse visto como uma demanda do povo brasileiro”.
O executivo pediu, ainda, que o Brasil enviasse uma carta “no nível político” para explicar a espera pela chegada dos insumos. O documento ajudaria a SinoVac nas “conversações” com o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China.
O presidente da empresa chegou a citar o relacionamento com a Indonésia e o Chile como exemplo. Segundo o relato do Itamaraty, o problema não é visto pela farmacêutica como algo totalmente comercial, mas também como “diplomático”.
“Afirmou que a questão não é meramente comercial, mas também diplomática. Citou, como exemplo, o reflexo positivo das boas relações que a Indonésia e o Chile mantêm com a China sobre o suprimento de vacinas para aqueles países”, consta no documento.
Queiroga
Em maio, quando o Brasil enfrentava dificuldades no recebimento do IFA, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, chegou a declarar que o país não tinha problema em relação a esse tema.
“O Brasil tem uma relação excelente com a China e não há nenhum problema em relação a esse tema”, disse. O cardiologista também disse à CPI que as falas do presidente Jair Bolsonaro não influenciaram negativamente na importação dos insumos.