Wesley Batista frustra parlamentares e fica em silêncio no Senado
O executivo é investigado por usar a delação premiada à Justiça para beneficiar seu grupo no mercado financeiro
atualizado
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Assim como Ricardo Saud, na semana passada, o executivo Wesley Batista optou por ficar em silêncio, nesta quarta-feira (8), no Senado Federal, durante sessão conjunta das comissões parlamentares de Inquérito (CPI) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Mista de Inquérito (CPMI) da JBS. Ainda assim, os integrantes dos dois colegiados mantiveram a reunião por pouco mais de duas horas, dirigindo perguntas – que ficaram sem respostas – a um dos donos da holding J&F e delator do suposto esquema de repasse de propina de suas empresas a políticos.
O empresário manifestou-se apenas no início e disse ter medo das delações que tem feito à Justiça. “Não me arrependo de ter decidido colaborar com a Justiça brasileira. Eu não tinha noção do quanto essa delação afetaria a minha vida e de minha família. Ser colaborador dá medo e causa muita apreensão. Hoje descobri que é um processo imprevisível e inseguro”, declarou.
As revelações de Wesley e seu irmão Joesley motivaram a segunda denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência). Também atingiram, entre outros, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, que acabou preso. No entanto, o acordo de colaboração firmado com o Ministério Público Federal acabou suspenso devido a suspeitas de que os delatores omitiram informações e contaram com a atuação ilegal de um ex-procurador da República para fechar a colaboração.
Continuo acreditando na Justiça. Estamos vivendo, agora, um retrocesso que eu esperava. Vejo colaboradores sendo punidos e perseguidos pela verdade que dissemos. Fizemos o Brasil olhar no espelho, e ele não gostou do que viu
Wesley Batista, durante reunião da CPMI da JBS e da CPI do BNDES
Wesley Batista encerrou seu curto pronunciamento negando ter cometido qualquer crime. “Delatores presos e delatados soltos. Por recomendação dos meus advogados, ficarei em silêncio. Estou preso por um crime que jamais cometi, não descumpri o acordo”, destacou o empresário.
O relator da CPMI da JBS, Carlos Marun (PMDB-MS), minimizou a mudez do depoente e garantiu que os trabalhos têm avançado. “Nós esperávamos que ele falasse para descobrir o que tem nesse acordo de delação premiadíssimo que fechou com a PGR, mas a comissão já avançou muito e vai avançar muito mais”, disse o político, fazendo referência à suposta participação do procurador Marcelo Miller, acusado de ter costurado a delação da JBS. Ao deixar a PGR, Miller foi trabalhar para o grupo J&F.
“Eu estou convencido de que essa colaboração desastrosa só aconteceu porque teve um maestro maior, o Marcello Miller”, disse, ao fim da reunião desta quarta, o presidente da CPMI da JBS, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO). Na segunda-feira, ele negou pedido da defesa de Wesley Batista para que o depoimento desta manhã fosse adiado.
“A referida reunião foi agendada em conjunto com outro colegiado, a CPI do BNDES do Senado, de modo que tal data foi combinada há semanas, para conciliar a agenda das duas comissões. Assim, seu adiamento acarretaria em dificuldade na definição de um novo dia para a oitiva do peticionário”, argumentou o senador tucano.
Nos pedidos apresentados pelas CPIs da JBS e do BNDES para ouvir Wesley Batista, os membros alegaram que o Executivo poderia ajudar os parlamentares a entender a maneira como a empresa se beneficiou de financiamentos contraídos junto ao banco de desenvolvimento e das delações premiadas.
“Há conhecimento notório de que o grupo teria sido um dos maiores coletores de recursos do BNDES, em valores superiores a R$ 8 bilhões. As circunstâncias em que as transações ocorreram constitui matéria de grande interesse para esta CPI, sobretudo no que tange ao contraditório, uma vez que até o momento somente se dispõe da versão apresentada pelos representantes do banco”, consta em um dos requerimentos aprovados pela comissão para justificar a presença dos irmãos Batista.
Nesta quarta, foram confirmados os próximos depoimentos à CPMI da JBS. No dia 22 de novembro, será ouvido o procurador Eduardo Pelella, que foi braço direito do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e é acusado pelos delatores de ter atuado para que os executivos da J&F fechassem a delação com o MPF. Em 28 de novembro, será a vez do outro dono da holding, Joesley Batista. E, no dia seguinte, deputados e senadores recebem o procurador Marcelo Miller.
Parlamentares exaltados
Apesar de se recusar a responder a qualquer questionamento, o dono da JBS foi alvo de discursos inflamados de alguns parlamentares. O deputado João Rodrigues (PSC-SC) desejou que a cadeia do executivo seja a mais longa possível. “Neste momento, o senhor quer ser o açougueiro do frigorífico e não o dono do grupo. O senhor pegou o dinheiro do BNDES de forma ilícita, tanto que pagou propina. Boa hospedagem na cadeia e que ela dure muito tempo”, disparou.
Já o deputado Izalci Lucas (PSDB-DF) teme que os trabalhos da CPMI caiam em descrédito com os sucessivos silêncios dos réus convocados. “Nós estamos perguntando coisas que não têm nada a ver com a delação dele. Se todo mundo chegar aqui e não quiser falar, pode acabar com a CPMI”, disse.
Prisão
As detenções de Wesley e seu irmão Joesley Batista foram determinadas pela 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, a pedido da Polícia Federal, que investiga o uso indevido de informações privilegiadas em transações no mercado financeiro ocorridas entre abril e 17 maio de 2017, data de divulgação de informações relacionadas a acordo de colaboração premiada firmado por ambos e a Procuradoria-Geral da República (PRG).