Empregados de bancos públicos preparam arrancada contra privatizações
Leilão na Caixa e eleição de conselheiros no Banco do Brasil mobilizam categoria contra venda e “enfraquecimento” das instituições
atualizado
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Bancários de todo o país prometem intensificar ações contra a privatização de instituições financeiras públicas como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. A categoria vai buscar apoio no Congresso Nacional para criar a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Bancos Públicos, prevista para ser lançada em 8 de maio.
A intenção dos empregados é impedir a venda de partes dos bancos públicos, o que, segundo eles, ameaçaria empregos e desarticularia a função social das instituições. O governo federal estuda a privatização de estatais, de modo que reduza os gastos públicos. No radar do Ministério da Economia, está a possibilidade de venda dos bancos ou, ao menos, de alguns negócios mantidos por eles.
Os funcionários usam como exemplo das possíveis perdas o leilão de concessão de loterias instantâneas da Caixa, Lotex, previsto pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para 9 de maio. Eles acreditam que esse é o primeiro passo para “desestruturar” as instituições. O processo já foi adiado cinco vezes e se arrasta desde junho de 2018.
Notas de repúdio
Para o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal, Jair Ferreira, o que o governo propõe é “desmonte”. “A política que estão destinando aos bancos públicos é perversa por tirar a característica social dos bancos. Não é uma ameaça só às empresas e aos servidores, mas faz mal às pessoas. É uma política de desmonte”, sustenta. “A forma como estão fazendo é muito sutil, vendendo ativos, ações. Nos últimos 15 anos, é o pior período para nós”, conclui.
As principais entidades de classe divulgaram cartas e notas de repúdio no mesmo sentido. A Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT
Para ela, os bancos privados não têm interesse em prestar serviços para a população menos favorecida e tampouco se instalar em cidades e bairros afastados dos grandes centros comerciais e financeiros. “Dias atrás a imprensa divulgou que é cada vez maior o número de cidades sem agências bancárias e mostrou os prejuízos que isso traz para a população e para a economia dessas localidades”, completa a dirigente da Contraf.
Na última semana, bancários realizaram atos em todo o país. Para o coordenador da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE-Caixa), Dionísio Reis, a mobilização da categoria é o único caminho para evitar o “desmonte” das instituições.
“Estão ameaçando a venda dos ativos da Caixa, que têm o maior retorno para o banco, e fazendo que esse retorno seja revertido para as empresas privadas. Dessa forma, não será investido nas questões sociais. Um exemplo disso é a Lotex, que investe 40% de seus retornos em políticas sociais e, após o leilão, investirá apenas 15%”, reclama.
Crise no BB
A tensão no Banco do Brasil aumentou após o presidente Jair Bolsonaro (PSL) vetar uma campanha publicitária e pedir a demissão do diretor responsável pelo setor. Antes, a eleição dos conselheiros com atuação em empresas concorrentes já havia causado uma cizânia entre empregados e governo, que temem enfraquecimento do banco.
A Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (ANABB) votou contra a medida durante assembleia realizada na última sexta-feira (26/04/2019). Para a entidade, a eleição de um conselheiro que tenha ocupado recentemente cargo com alto poder decisório em empresas concorrentes do Banco do Brasil compromete a credibilidade da instituição e causa danos à sua reputação, além de desrespeitar a legislação vigente.
Em resposta ao Metrópoles, o Ministério da Economia afirmou que não há previsão para a privatização do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. A pasta chefiada por Paulo Guedes é a responsável pelos estudos de estatais do governo federal, sobre as instituições que poderão ser privatizadas para reduzir os gastos públicos.