Senado contabiliza 14 obras de arte danificadas em atos terroristas
A restauração total das obras ainda não tem prazo estipulado. Valor da reparação pode chegar a R$ 1 milhão
atualizado
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Após a invasão de terroristas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Praça dos Três Poderes, os rastros de destruição ainda estão sendo identificados. Nesta sexta-feira (13/1), a coordenadora do Museu do Senado, Maria Cristina Monteiro, afirmou que 14 obras de arte foram danificadas no Senado Federal, com o valor de reparação chegando a R$ 1 milhão.
Ao Metropóles, Maria Cristina disse que o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) deu até o final de fevereiro como prazo para a restauração das estruturas essenciais do Senado, como vidros, tapetes, divisórias e mesas.
A restauração das obras, no entanto, ainda não tem prazo estipulado. “As obras de artes dependem de especialistas de restauração, mas a nossa equipe é pequena, então não dá para saber quando todas estarão prontas novamente”, afirmou.
Há 32 anos na coordenadoria do Museu do Senado, Maria relatou que, ao ver as cenas da invasão pela televisão, sentiu como se fosse sua própria casa sendo destruída.
“Ver aquelas cenas pela televisão deu uma vontade imensa de chorar. Como estamos lá dentro todo dia, foi um sofrimento muito grande, de muita angústia. Teve gente que passou mal na equipe, porque a pressão subiu vendo aquela cena deles invadindo o museu”, contou Maria Cristina.
De acordo com a coordenadora, obras históricas do século XIX estão entre os danos: cadeiras, tinteiro e mesa.
Veja a lista:
- Tapeçaria de Burle Marx: rasgada, embolada, contaminada de urina e arremessada na entrada da galeria do Plenário. Restauro necessário: higienização parte a parte, pois a peça é antiga.
- Quadro “Ato de assinatura do Projeto da primeira Constituição”, de Gustavo Hastoy, que tentaram derrubar, mas não conseguiram. Parte inferior da moldura danificada, além de alguns arranhões na pintura. Restauro necessário: precisa ser retirado da moldura, pois é banhado a ouro com três metros de largura. A pintura deve ser colocada sobre uma plataforma de madeira, com auxílio de uma estrutura de ferro a ser montada pontualmente para o reparo.
- Quadros de Urbano Villela na galeria dos presidentes: cinco quadros vandalizados. Restauro necessário: artista Urbano Villela será chamado para repor as obras que não puderem ser recuperadas pela equipe do museu.
- Tinteiro de bronze da época do império: amassado e dobrado ao meio. Restauro necessário: aquecimento do metal.
- Vitrine com fotos e réplica da Constituição: vidro estilhaçado. Restauro necessário: reposição do vidro.
- Mesa de centro vinda do Palácio Monroe: teve o tampo lascado e uma coluna lateral danificada. Restauro necessário: trabalho da própria equipe do Museu.
- Painel vermelho de Athos Bulcão: sofreu arranhões devido aos estilhaços. Restauro necessário: Serão necessários três vidros de 20 ml de tinta vermelha específica, cada um ao preço estimado de R$ 800.
- Tapete persa de decoração do dispositivo de receptivo dos chefes de estado: foi encharcado e possivelmente sujo de urina. Restauro necessário: lavagem inicial para verificar se necessita de outra intervenção.
- Quadro de Guido Mondim: foi arrancado da moldura e jogado ao chão. Restauro necessário: avaliação das avarias e recolocação na moldura.
- Mesa de trabalho do século 19, que pertenceu aos palácios dos Arcos e Monroe: totalmente danificada, com partes e pedaços espalhados por diversos pontos da Casa. Restauro necessário: ainda é incerta sua recuperação. É preciso recolher todas as partes e tentar recompô-la com novas peças de madeira.
- Cadeira que pertenceu ao Palácio Monroe: braço quebrado. Restauro necessário: recolocação da peça.
Prejuízo
Em um levantamento preliminar, o Senado estima que as reformas para reparar a destruição provocada pelos atos terroristas vão custar entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões para a Casa.
O valor abarca a instalação de novos vidros, reforçados por uma película antivandalismo, e a troca de todo o carpete do Salão Azul. Os dados foram levantados em reunião na segunda-feira (9/1) entre diretores das áreas técnicas do Senado.
Computadores, teclados e equipamentos de comunicação também foram danificados. Além disso, os equipamentos usados pela Polícia Legislativa durante a ação terão de ser repostos.
Apenas dois gabinetes de senadores foram invadidos, do senador José Serra (PSDB-SP) e da senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS). Para o Metrópoles, a coordenadora do museu do Senado revelou que os terroristas ainda tentaram atear fogo nas cortinas do prédio. Porém, não tiveram sucesso.
Um item inusitado também chegou a ser danificado: o livro de visitas do Senado. Maria Cristina diz que frases como “o poder emana do povo” e “fora esse governo corrupto” foram escritas nas páginas.
Ainda segundo a coordenadora, o livro danificado deve ser guardado no acervo do Senado. “Vai ser uma recordação desse dia que nunca mais vai acontecer. Isso vai para o acervo, e se um dia tivermos a oportunidade, vamos retomar esse material”, afirmou.