“Sempre houve tortura”, diz Regina Duarte, minimizando a ditadura
Secretária especial falou, ainda, de seus primeiros 60 dias na Cultura, da relação com Bolsonaro e dos boatos sobre sua saída do governo
atualizado
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A secretária especial de Cultura do governo Jair Bolsonaro (sem partido), Regina Duarte, detalhou, nesta quinta-feira (07/05), como estão sendo os dois primeiros meses à frente da pasta. Em entrevista à CNN Brasil, Regina discorreu sobre as recentes mortes no meio artístico, de atores e escritores vítimas do coronavírus, do boato de sua demissão e, entre outros assuntos, de seu posicionamento em relação à ditadura. “Ficar cobrando coisas que aconteceram nos anos 1960, 1970, 1980… Gente, é para frente que se olha”, disse a ex-atriz.
Regina Duarte abandonou mais de 50 anos de TV Globo para assumir a Secretaria de Cultura, a convite de Bolsonaro. “O presidente me avisou lá atrás: ‘tem certeza de que você quer aceitar essa missão?’. Eu disse ‘sim presidente, estou aqui para servir o país'”, relembrou. Segundo a secretária, o chefe do Executivo federal teria lhe advertido: “vai virar vidraça”.”‘Você vai levar muita pedrada’, me disse o presidente, e eu respondi que tenho a consciência limpa de que essas pedras não vão me atingir”, contou.
Em um dos momentos mais polêmicos da entrevista, quando questionada sobre a quantidade de mortes que poderiam ter sido evitadas durante o regime militar no Brasil, Regina disse que as “pessoas sempre morrem”. “Se você falar vida, do outro lado tem morte. Sempre houve tortura. Stalin, quantas mortes? Hitler, quantas mortes? Não quero arrastar um cemitério de mortes nas minhas costas. Não quero isso para ninguém”, disse a secretária.
Conhecida pelos seus posicionamentos conservadores, que já lhe renderam diversas críticas, inclusive, de amigos do meio artístico, a atual secretária da Cultura diz que falar sobre ditadura, tortura e as mortes provocadas pelo regime é “olhar para trás”.
Sobre a Covid-19, doença provocada pelo coronavírus que já matou mais de 9 mil pessoas no Brasil, Regina diz que a pandemia tem trazido “morbidez” aos brasileiros, que só falam sobre isso. A ex-atriz preferiu exaltar o que o “governo tem feito pela população”, por exemplo, o auxílio emergencial de R$ 600, pago a trabalhadores informais por três meses.
“Demissão? Não”
Sobre o áudio em que a secretária fala “ele está me dispensando”, referindo-se a Bolsonaro, a secretária disse que tem tido muitas dificuldades técnicas, porque não é do ramo. “Eu não sabia nem o que é DAS”, exemplifica.
“Eu tinha um encontro com o presidente para apresentar o trabalho dos 60 dias e a nomeação de uma pessoa sem que eu tivesse sido consultada… Às vezes, a palavra do presidente é mais forte que a de todo mundo. E eu pensei ‘nossa, será que estão me dispensando?'”, diz Regina.
Após 60 dias, e alvo de diversas polêmicas, Regina Duarte classifica como boatos os rumores sobre sua demissão. “Demissão? Não, isso é uma narrativa que corre lá fora, as pessoas têm uma certa ansiedade em me ver fora. ‘Agora ela cai, agora ela cai’, foi leve e descontraído [o encontro com Bolsonaro], ele está sempre rindo”, disse. “Eu estou trabalhando, gente. Eu não sou política, eu não quero ficar explicando tudo o que eu vou fazer, não”, completou.
Regina falou, também, da relação que tem com o presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo, e disse que não acredita que ele seja mais um crítico. “A gente vive um mundo tão distorcido, que eu já não sei mais se ele é um antagonista meu”, disse.
Admiradora de Sergio Moro, Duarte conta que ficou triste pelo presidente, pelo ex-ministro da Justiça e pelo povo brasileiro com a saída do ex-juiz do governo. “Pelo tanto que a gente esperava que eles ficassem juntos… Eu não quis acompanhar o que ele disse, eu fiquei traumatizada. Eles devem ter suas razões para as coisas terem se rompido dessa maneira. Muito triste para o país e para o presidente, com certeza”, lamenta.
Usando o exemplo do rompimento de Jair Bolsonaro com Sergio Moro, o entrevistador questionou o que faria Regina Duarte abandonar sua cadeira na Secretaria Especial da Cultura. “A falta de confiança no meu entorno. O que acontece lá fora não diz respeito a mim, mas eu me preocupo muito com fidelidade. E confiança. Espero ter a confiança do presidente e poder confiar na minha equipe”, finalizou.
“Chilique”
Ao final da entrevista, quando os apresentadores do programa puseram no ar um vídeo no qual a também atriz Maitê Proença faz duras críticas ao que considera “falta de ação” do governo Jair Bolsonaro e da ex-colega de Rede Globo, Regina não se aguentou e serviu a todos, entrevistadores e telespectadores, uma verdadeira “torta de climão”.
“Quem é você que está desenterrando uma fala da Maitê, quem é você? Eu tive que dar um chilique aqui!”, esbravejou a secretária, ao vivo, à apresentadora Daniela Lima, pouco antes de a entrevista ser interrompida.