Sem supervisão, ChatGPT poderá atrapalhar pensamento crítico dos alunos
Professores ouvidos pelo Metrópoles alertam sobre riscos do uso não supervisionado da inteligência artificial ChatGPT por estudantes
atualizado
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A inteligência artificial ChatGPT já é realidade nas escolas. Cada vez mais estudantes adotam o mecanismo para auxiliar na redação de textos e outras tarefas diárias. Professores ouvidos pelo Metrópoles, no entanto, demonstram preocupação sobre como a ferramenta será adotada na rotina escolar.
Nos colégios, a inteligência artificial pode ser utilizada no desenvolvimento de planos de ensino, aperfeiçoamento do processo de aprendizagem, além de fonte para pesquisa sobre assuntos variados. O ChatGPT também é capaz de gerar textos, imagens, músicas e até vídeos, mas necessita de orientações de um ser humano para desenvolver o conteúdo.
Apesar do uso variado da inteligência artificial, a professora de língua portuguesa da rede pública do Distrito Federal Ana Carolina de Castro acredita que a tecnologia pode atrapalhar o aprendizado dos alunos caso seja utilizada como plataforma de apoio e não uma ferramenta complementar.
“Isso acaba causando um grande déficit, não estamos potencializando o raciocínio lógico, a criatividade, porque a inteligência artificial não possui as ferramentas necessárias para a instrução dos alunos”, explica a docente.
Não é exagerado, contudo, dizer que o uso do ChatGPT pode aprimorar o aprendizado do aluno. “Podemos trabalhar presencialmente na potencialização desses alunos, promover oficinas práticas, em sala. É uma estratégia bem palpável e rápida com a inteligência artificial”, diz Ana Carolina.
A professora da Universidade de Brasília (UnB) e doutora em educação Catarina de Almeida explica que é impossível a não inserção do ChatGPT dentro da sala de aula, mas é necessário que a ferramenta seja utilizada de forma crítica e com apoio de educadores.
“Ter cuidado para a forma com que a gente traz essa facilidade para os alunos e como eles estão se expressando nela”, apontou a docente Catarina de Almeida.
Apesar de ser um facilitador, o uso sistemático da inteligência artificial poderá tirar a capacidade crítica e de raciocínio dos alunos, defende a professora da UnB. “O currículo não são voltados para formação crítica, mas cada vez mais por questões técnicas”, afirma.
A professora Ana Carolina defende a presença da tecnologia dentro da sala de aula, mas com responsabilidade e aliada a outras ferramentas de ensino. “Acredito que o ChatGPT pode, sim, ser utilizado como ferramenta educativa, seja para ampliar o repertório dos alunos em diferentes temáticas, seja para auxiliá-los na leitura e visão de mundo, ou ainda para revisão de textos e para acesso dos alunos a dados linguísticos e pragmáticos com os quais eles não têm contato em suas comunidades”, destaca Ana Carolina.
Uso do ChatGPT
Na prática, a escola Lumiar, em São Paulo, adicionou a ferramenta ChatGPT dentro de sala de aula no final do ano passado. Com o auxílio de professores especializados, a inteligência artificial é adotada para ampliar o potencial dos estudantes.
“Temos o projeto chamado AI (Inteligência Artificial) Boost, pensado com os alunos para acelerar projetos criativos usando inteligência artificial. Esse projeto é uma das frentes da proposta de utilizar inteligência artificial”, afirma a diretora geral das unidades da escola Lumiar, Graziela Miê Peres Lopes.
“Estamos entendendo juntos como a IA pode acelerar vários processos criativos, como pensar em nomes, descrições, gerar imagens e assim por diante, os alunos estão trabalhando em um projeto de quatro etapas”, acrescentou Graziela sobre o uso do ChatGPT dentro de sala de aula.
Os alunos utilizam a inteligência artificial com o auxílio de professores treinados.
“Claro que os estudantes vão buscar caminhos mais fáceis para executar as suas tarefas, isso não é necessariamente um problema. Vai depender do contexto. Se utilizarem a ferramenta de forma irresponsável, como por exemplo para enganar o professor, estarão perdendo a chance de realmente aprender coisas importantes”, declara Lopes.
A diretora da escola Lumiar ainda defende que barrar o uso da tecnologia está longe de ser a melhor forma de lidar com isso.
“A proibição não é a melhor estratégia para lidar com novas ferramentas tecnológicas, temos que entender como a ferramenta deve ser utilizada e quais habilidades necessárias para usá-la da melhor maneira, de forma positiva”, acrescenta Graziela Miê Peres Lopes.