Sem pagode, Guilherme Boulos ganha apoio de rappers e busca votos na Cohab
Pouco popular na periferia de São paulo, candidato do PSol deixa MPB de lado, abraça rappers e ataca Celso Russomanno
atualizado
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São Paulo – Guilherme Boulos (PSol) chegou causando aglomeração e tirando fotos com apoiadores na Praça Brasil, coração da Cohab 2, como é conhecido o Conjunto Habitacional José Bonifácio, na zona leste. “Pessoal, vamos espalhando até lá em cima, vamos que a foto vai ficar bonita”, disse um assessor ao microfone.
O cantor de pagode Salgadinho fez o convite nas redes sociais para o evento, mas quem marcou presença foram rappers e funkeiros. O evento evitou apresentações, mesmo que um ou outro verso escapasse. Rincon Sapiência circulou pela praça; Edi Rock, integrante dos Racionais MC’s, participou por transmissão de vídeo; os rappers Ferréz e Função, do grupo Di Função, assumiram o microfone.
“Estou cansado de companheiros do rap silenciarem sobre o governo com medo de não conseguirem se apresentar na Virada Cultural,” disse o líder do Di Função.
O movimento funk também pediu justiça para os nove jovens mortos em 2019 no Baile da 17, em Paraisópolis, e também lembrou do caso de uma jovem que foi baleada pela polícia militar no olho no Baile do Aurora, em Itaquera.
Apenas no fim do evento, Guilherme Boulos discursou, prometendo regulamentar o Sistema Municipal de Cultura, criando um conselho, um plano e um fundo permanentes na área. O candidato também atacou Celso Russomanno, líder nas pesquisas de intenções de votos na periferia.
“O Russomanno é o candidato do Bolsonaro. E nós não vamos deixar que o Bolsonaro faça de São Paulo mais um puxadinho para a família dele”, afirmou Guilherme Boulos.
Nos últimos dias, Guilherme Boulos recebeu apoio da elite artística brasileira, incluindo o cantor Chico Buarque (que não vota em São Paulo) e da atriz Sônia Braga (que tem cidadania americana). Em São Paulo, tem a torcida de mais de 40 companhias teatrais, uma delas o Teatro Oficina.
Os apoios, porém, não surtiram efeito imediato entre as camadas mais pobres da população. Segundo pesquisa Ibope, divulgada em 15 de outubro, o candidato de esquerda vai mal justamente entre aqueles que ganham até um salário mínimo (3% das intenções de voto) e que cursaram apenas o ensino fundamental (1%). No entanto o psolista cresceu na preferência entre jovens até 24 anos (16%) e jovens adultos até 34 anos (15%).
Com forte presença da militância, o evento atraiu alguns moradores da região. O vendedor ambulante de doces Marcos Antônio Tenório, 49, foi um dos moradores da Cohab que aproveitou o movimento para ganhar um dinheiro extra. Após perder seu carrinho na pandemia, se diz decepcionado com a política atual.
“Bolsonaro decepcionou muito, então acho que vou preferir que continue o [Bruno] Covas, que fez o que tinha que fazer e é um candidato mais discreto”. Sem conhecer Boulos, Tenório desejou sucesso ao psolista.