Sem Marielle Franco, Brasil tem apenas 5 vereadoras pretas em capitais
No Rio de Janeiro, ela era a única mulher declarada como preta a ocupar o cargo
atualizado
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A morte de Marielle Franco, vereadora executada a tiros no Rio de Janeiro, nessa quarta-feira (14/3), é um duro golpe para a inclusão conquistada lentamente pelas mulheres negras na política brasileira.
Nas eleições municipais de 2016, o país elegeu apenas 7.818 vereadoras, que representam 4,66% do total. Entre elas, nas capitais, somente 32 – agora 31 – são negras. Dessas, 26 se declaram pardas, e 6, pretas.
Nove capitais só tiveram mulheres brancas como vereadoras. Nem mesmo São Luís (MA), onde 74% da população é negra, segundo o IBGE, conseguiu nomear uma vereadora preta.
Os dados são de uma pesquisa feita pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) divulgada à época das eleições municipais, pela Revista Fórum.
Das 465.446 candidaturas em todo o Brasil, apenas 14,2% eram de mulheres (156.317) e, dessa parcela, elegeu-se apenas 0,3%. Além das vereadoras, ocuparam cargos 638 prefeitas, todas brancas.
Marielle tinha força na política, foi a quinta vereadora mais votada do país em 2016. Era um exemplo de engajamento social nesse setor. Pouco antes de morrer, ela estava em um evento com o tema Jovens Negras Movendo as Estruturas, sobre projetos artísticos tocados por mulheres negras na Casa das Pretas, na Lapa, centro do Rio.
“Quem matou a Marielle tentou matar a possibilidade de uma mulher negra, nascida na Maré, feminista, estar na política. Isso não é aceitável em qualquer lugar do mundo. Vamos exigir até o último momento que se descubra o que aconteceu”, afirmou o chefe da Polícia Civil no Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa.
Entenda os termos
Durante muito tempo, a palavra “preto” foi sinônimo de xingamento no Brasil, por conta do racismo. A expressão, no entanto, é um critério formal para definir a cor de pele, reconhecido pelo IBGE e usado na pesquisa do Inesc.
O negro é caracterizado em várias definições. Pretos e pardos são duas delas. Foram as próprias mulheres que, ao se candidatarem ao cargo de vereadora, se autodeclararam “pretas”.