Selfies e sermões: os 1ºs dias de padre Robson em nova igreja
Com reflexão sobre hipocrisia e selfie com fiéis, padre afastado após investigação de desvio de recurso volta a celebrar missa em SP
atualizado
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Depois de três anos afastado de suas funções religiosas, o padre Robson de Oliveira Pereira voltou a celebrar missas em Mogi das Cruzes, região metropolitana de São Paulo. A primeira celebração foi no Dia dos Pais, 13 de agosto, na Catedral Sant’Ana, que estava lotada. Havia fiéis inclusive de outros estados que viajaram para recepcionar o padre pop.
Ex-reitor da Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), Robson era um dos padres de maior prestígio de Goiás e um dos mais conhecidos do Brasil. Suas missas recebiam fiéis de todo o país, e ele foi um dos responsáveis pela expansão da basílica.
Em 2020, Robson foi afastado após uma investigação do Ministério Público de Goiás (MPGO) apontar suspeita de um esquema de desvio milionário de dinheiro doado por fiéis e que deveria ser aplicado em obras religiosas. A suspeita era de que Robson havia desviado ao menos R$ 120 milhões. A investigação foi posteriormente arquivada.
Na primeira missa de seu retorno, Robson disse ter sido vítima de uma “perseguição maldosa”. “A igreja reconheceu que tudo que fizeram contra mim não passou de uma perseguição maldosa e muito conveniente para um momento da história lá em Goiás. Mas eu também quis aproveitar esse momento para experimentar o meu sacerdócio em outro ambiente”, afirmou.
Acolhida, aplausos e hipocrisia
Apontado como responsável por receber o padre na cidade paulista, o bispo Dom Pedro Luiz Stringhini pediu para que fosse lido um comunicado oficial no início da missa pontuando que decidiu acolher Robson após um pedido do padre, que foi ovacionado em alguns momentos da missa transmitida pela Rede Vida. Depois da missa de inauguração, no Dia dos Pais, Robson já celebrou outras duas missas na catedral.
Pelas redes sociais, o padre manteve um ritmo de publicações mesmo no período em que esteve afastado das missas. Com 197 mil inscritos em seu canal no YouTube, ele publica diariamente um vídeo com reflexões. Nesta semana, depois do retorno à igreja, Robson falou sobre hipocrisia.
“As aparências enganam. E nós precisamos pedir sempre que o Espírito Santo nos oriente para que nunca sejamos hipócritas em nossas vidas”, afirmou. No Instagram, ele tem postado selfies com fiéis e imagens celebrando missas na catedral de Mogi das Cruzes.
As investigações
O Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) determinou a suspensão da ação contra o padre e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a decisão, em 2021. Em março do ano passado, o STJ rejeitou mais um pedido do MPGO e manteve arquivada a investigação.
Robson foi alvo do MP por suspeita de desviar recursos doados por fiéis para Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). O dinheiro desviado, conforme investigação, deveria ter sido usado para a construção do novo Santuário Basílica de Trindade, mas o padre teria usado para negociar fazendas, casa na praia e avião.
Na época da apuração, foi revelado um áudio no qual Robson admitia ser “chefe da quadrilha” de “crime organizado”. Depois que a investigação do MP foi remetida ao Judiciário, o órgão enfrentou uma série de reveses, como a decisão do TJ em trancar a apuração.
Além desta apuração, havia outra frente de investigação, tocada pela Polícia Federal, na qual o padre era suspeito de ter pagado propina a magistrados do TJ-GO para que o favorecessem em processo sobre compra de fazenda em Abadiânia (GO).
Em 2021, o Metrópoles mostrou que a obra do novo Santuário do Divino Pai Eterno, orçada em R$ 100 milhões, foi iniciada em 2012, com previsão de conclusão em 2022. No entanto, naquele ano a obra estava apenas com 17% do projeto concluído, com valor revisado para R$ 1,4 bilhão — valor 14 vezes superior à previsão inicial.
Atuação de hacker
A investigação contra Robson foi iniciada depois que o hacker Welton Ferreira Nunes Junior acessou contas do padre e ameaçou divulgar conteúdos supostamente comprometedores (incluindo mensagens de cunho íntimo).
O hacker chegou a afirmar que Robson teria pago R$ 1 milhão para sumir com um pen drive com informações que poderiam prejudicar o padre.
Welton Junior também já disse que foi obrigado por policiais civis a fabricar documentos para extorquir o padre Robson de dentro da delegacia.