Secretário preso visitou Marcinho VP, do Comando Vermelho, na cadeia
Montenegro foi preso nesta terça, por suspeita de agir em prol do Comando Vermelho, maior facção do Rio; ele visitou Marcinho VP na cadeia
atualizado
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Rio de Janeiro – Preso na manhã desta terça-feira (17/8) pela Polícia Federal acusado de “práticas espúrias para beneficiar organização criminosa”, o secretário de Estado de Administração Penitenciária, Raphael Montenegro, vem chamando a atenção por ações suspeitas desde maio, quando enviou e-mail para o juiz federal da Seção de Execução Penal de Catanduvas, Danilo Pereira Junior, solicitando uma visita à unidade.
Em 28 de maio, 24 dias após o pedido enviado ao magistrado, o secretário Raphael Montenegro conseguiu visitar Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, que chegou a ser retirado de cela na Penitenciária Federal de Catanduvas para a conversa no pátio.
A visita, considerada inusitada, só não é mais incomum que a retirada do preso de cela, uma vez que, em presídios federais, encontros são individuais e monitoradas em tempo real, contando com um sistema escuta ambiental, que registrou toda a conversa entre Montenegro e Marcinho VP. O conteúdo encontra-se em segredo de justiça.
Comando
Marcinho VP cumpre a determinação de prisão decretada pela Justiça fora do Rio desde 2007, quando foi incluído no chamado Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), em penitenciária federal e sua permanência fora do estado de origem é justificada por sua atuação como liderança criminosa de extrema periculosidade e sua ligação com o Comando Vermelho, maior facção criminosa do Rio, que seria beneficiada pela secretário.
Montenegro, que assumiu a gestão em janeiro nomeado pelo governador Cláudio Castro e foi exonerado após ser preso, argumentou no pedido que, “tendo em vista a crescente demanda” para que a secretaria se manifeste “acerca da pertinência de retorno dos apenados” do Rio, ele precisava da autorização para visitá-los na condição de secretário.
De acordo com reportagem do Extra, Montenegro ainda ressaltou ter submetido o requerimento à Vara de Execuções Penais (VEP) do Rio, que teria se manifestado “favoravelmente”, documento que não foi anexado ao pedido.
Procura informal
Pelo contrário. A VEP do Rio enviou, ao juiz federal da Seção de Execução Penal de Catanduvas, documento datado de 7 de agosto informando que não houve manifestação favorável à visita, como consta nas investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF). De forma contundente, o juiz titular da VEP, Marcello Rubioli, assina ofício no qual afirma que nunca autorizou, solicitou, concordou ou incentivou ninguém a entrevistar presos.
Rubioli informou ainda que foi procurado pelo então secretário informalmente, dizendo que pretendia “traçar o perfil” dos detentos “para qualificar os relatórios de inteligência”. Segundo o magistrado, Montenegro disse ainda que achava os materiais produzidos pela inteligência “tendenciosos e, na sua opinião, muitos presos poderiam retornar ao Rio de Janeiro, desejando apurar a quem assistiria tal possibilidade”. No ofício, o juiz argumenta que não tinha atribuição para avaliar o pedido e que permitir ou negar seria de competência federal.
Abelha
Outro preso visitado pelo secretário foi Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, de 50 anos, que foi solto, após ordem assinada por Montenegro, no último dia 27/7, mesmo com mandado de prisão ativo, informação que, de acordo com a pasta, não estaria no sistema. A Polícia Federal, no entanto, informou que a Seap fora alertada do mandado pela Polícia Civil e pelo cartório da 3º Tribunal do Júri da Capital, tornando a soltura do traficante foi irregular, mesmo com a ordem de libertação emitida pela 29ª Vara Criminal, situação que gerou desconforto entre o Tribunal de Justiça do Rio, o Conselho Nacional de Justiça, a Polícia Civil e, por último, o Ministério Público.
A entrada de encomendas para presos no Complexo de Gericinó, na zona oeste do Rio, também gerou polêmica. Abelha teria recebido três tortas, salgadinhos e embalagens de frango na cantina do Presídio Vicente Piragibe, no dia 24 de julho, três dias antes de ser solto. O Ministério Público investiga se os produtos foram para a realização de uma festa de aniversário para o chefe da fação criminosa dentro da cadeia.
A exoneração do secretário seria publicada na última sexta-feira pelo governador. No entanto, Castro voltou atrás e só desligou o gestor do cargo após sua prisão. Em seu lugar, o governador Cláudio Castro nomeou Victor Hugo Poubel, delegado da Polícia Federal.