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Seca no Amazonas impacta distribuição de alimentos e energia no Brasil

Os principais rios da Amazônia enfrentam uma estiagem histórica e a seca traz consequências para outras partes do país

atualizado

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Cadu Gomes/VPR
Foto colorida de seca no Amazonas - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida de seca no Amazonas - Metrópoles - Foto: Cadu Gomes/VPR

A seca extrema que assola o Amazonas traz consigo consequências severas, que atingem principalmente as comunidades ribeirinhas que vivem dos rios e a fauna, com a morte de animais aquáticos. Mas os efeitos da estiagem na Amazônia são mais amplos. Especialistas ouvidos pelo Metrópoles alertam que os efeitos também poderão ser sentidos em outras partes do país, em especial na distribuição de alimentos e na geração de energia elétrica.

O Rio Amazonas, um dos principais do mundo, está passando por uma baixa histórica de aproximadamente oito metros de profundidade. Isso gera consequências diretas para as comunidades que usam o rio para a pesca, como meio de transporte, e como via de distribuição de alimentos e produtos que abastecem os comércios locais.

Com as rotas fluviais cada vez mais secas, os amazonenses enfrentam dificuldades até para acessar serviços básicos, como médicos e escolas. A crise é tal que a prefeitura de Manaus, capital do Amazonas, decidiu adiantar o fim do período letivo das escolas ribeirinhas devido a estiagem.

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Seca no município de Benjamin Constant (AM)
Seca afeta Benjamin Constant, no Amazonas
Vista do Rio Amazonas da janela do hotel de Raimundo Coelho, em Jutaí (AM)
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Praia de Ponta Negra, em Manaus, Amazonas

Divulgação/Núcleo de Comunicação SGB
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Seca no município de Benjamin Constant (AM)

Secretaria Municipal de Comunicação de Benjamin Constant
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Seca afeta Benjamin Constant, no Amazonas

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Vista do Rio Amazonas da janela do hotel de Raimundo Coelho, em Jutaí (AM)

Raimundo Coelho

Causas

O período de seca na Amazônia começa historicamente em agosto, mas se acentua em outubro, quando as temperaturas ficam cada vez mais elevadas. No entanto, em 2023, a estação de estiagem está mais intensa devido a ocorrência do fenômeno climático El Niño, responsável pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico.

O El Niño ocorre em intervalos que variam entre cinco e sete anos e tem uma duração que varia de um a um ano e meio. O climatologista Francisco Eliseu Aquino, chefe do departamento de geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica a influência do fenômeno nessa estiagem extrema.

“O El Niño é caracterizado por uma anomalia na temperatura da superfície do mar. Ele modifica a circulação atmosférica na região tropical e isso significa dizer que os alívios enfraquecem e diminui a humildade do Atlântico para região amazônica. E, ainda por cima, o El Niño altera o padrão de desenvolvimento da chuva na Amazônia”, esclarece Francisco Aquino.

A seca teve forte influência do El Niño durante o inverno e a primavera deste ano, mas a situação deve se intensificar ainda mais durante dezembro e janeiro de 2024, durante o início do verão.

Consequências

O governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), decretou situação de emergência em 55 cidades afetadas pela estiagem. Dos 62 municípios amazonenses, 35 estão com um cenário de alerta, dois de atenção e dois de normalidade.

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Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil, está em Tefé, cidade a 522 quilômetros de Manaus, e contou como a população amazonense tem tentado sobreviver em meio às dificuldades causadas pela seca.

“Já existem comunidades isoladas, algumas com necessidades em receber alimentos e outras comunidades com necessidades de água”, conta Rômulo que tem auxiliado essas populações por meio do projeto Asas da Emergência.

O porta-voz do Greenpeace acrescenta que, além das populações, os animais aquáticos sofrem com a seca dos rios. Segundo o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, foram recolhidas 125 carcaças de botos na região amazônica por causa da seca neste ano.

“O boto é um animal de topo de cadeia [alimentar], um mamífero grande, se até ele tá sofrendo se espera então que toda essa cadeia está sendo prejudicada”, destaca Rômulo.

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por sua vez, informou que irá investigar as mortes dos botos no Amazonas. Os animais foram encontrados, em sua maioria, no Lago Tefé, no interior do estado.

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Rômulo Batista ressalta que, mesmo com a normalização dos níveis dos rios, os peixes, um dos principais alimentos da região amazônica, irão precisar de um tempo mais longo para procriarem e isso pode influenciar na alimentação dos amazonenses por algum tempo.

“Depois que a chuva retorna e os rios voltam a subir, há um intervalo de tempo até que, por exemplo, o estoque pesqueiro nessas regiões volte a se normalizar. E a gente tem que lembrar que aqui na Amazônia, principalmente as populações indígenas, extrativistas, ribeirinhos, têm a sua alimentação baseada nessa proteína [o peixe], que é mais barata”, afirma o porta-voz do Greenpeace.

“Os ribeirinhos, os pescadores, as comunidades indígenas, a população preta e trabalhadora são os primeiras a sofrerem as consequências dessa seca e são as últimas a deixarem de sentir”, completa Rômulo Batista.

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Francisco Aquino esclarece que outras regiões do país também irão sentir os efeitos da estiagem que afeta a região Norte, em especial o estado do Amazonas.

“A estiagem na região amazônica torna toda a região centro-sul mais quente. E por isso você observou os recordes de temperatura e ondas de calor no mês que passou”, salienta o climatologista da UFRGS.

Distribuição de energia elétrica

A seca no Norte, também provocou a suspensão temporária das atividades da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia. A decisão foi tomada em função da baixa vazão no Rio Madeira, que está 50% menor do que a média histórica.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), junto do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), não descarta a possibilidade de utilizar as térmicas Termonorte I e II, instaladas em Porto Velho, capital de Rondônia, para suprir o fornecimento de energia na região.

Mas mesmo com as secas nos rios, o aind ONS estima que a demanda para o fornecimento de energia elétrica, por meio do Sistema Interligado Nacional (SIN), ficará estável em todo o país durante o mês de outubro.

O operador destaca que os principais reservatórios do SIN estão concentrados nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, que passaram por uma intensa onda de calor, mas estão abastecidos.

Ainda que o ONS não preveja uma instabilidade no sistema de distribuição de energia elétrica, o Roberto Kishinami, coordenador do portfólio de Energia Elétrica do Instituto Clima e Sociedade (iCS), alerta que a diminuição na vazão dos rios pode trazer consequências para as populações que muitas vezes dependem de diesel para geração de energia.

“Tem uma parte grande dos consumidores [da região Norte] que são abastecidos por diesel, que é usado em geradores que estão em comunidades espalhadas. Vai ter uma dificuldade para levar diesel para região por causa seca, pode ter um aumento sim, mas não um aumento direto na geração de eletricidade, mas um aumento do custo de entrega do diesel”, reforça o coordenador do iCS.

Roberto afirma que a princípio o impacto da seca no Norte na geração de energia é pequena, uma vez que outras regiões do país também possuem uma boa capacidade de geração, em especial por hidrelétricas.

Vale destacar que o uso de usinas termelétricas, que geram energia por meio da queima de combustível fósseis, é, em média, três vezes mais caro do que o uso das usinas hidrelétricas. No entanto, a Aneel não respondeu aos questionamentos do Metrópoles sobre um possível aumento na conta de luz.

A depender do combustível fóssil utilizado na geração de energia na termelétrica, o preço da conta de luz pode ficar mais caro.

De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), as hidrelétricas têm um potencial de geração de energia de 109 kW, isso corresponde a 56% de tudo que é gerado no país.

As principais hidrelétricas do Brasil são a de Itaipu (PR), Belo Monte (PA) e São Luíz do Tapajós (PA).

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