Seca histórica no Rio Madeira desafia a sobrevivência de ribeirinhos
Com a seca do Rio Madeira, ribeirinhos enfrentam dificuldades para conseguir água potável e suprimentos básicos para sobrevivência
atualizado
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As comunidades ribeirinhas que vivem às margens do Rio Madeira enfrentam um dos períodos mais críticos de sua história. A seca que atinge Rondônia tem deixado as mais de 50 comunidades instaladas ao longo do curso d’água, na região de Porto Velho (RO), em situação de calamidade. Faltam água, alimentos, medicamentos e transporte.
Desde julho, o Rio Madeira tem registrado quedas acentuadas no seu nível de água. No Dia da Amazônia, em 5 de setembro, o nível do rio ficou abaixo de 1 metro pela primeira vez desde o início da série histórica em 1967.
Nessa segunda-feira (23/9), o Madeira atingiu a marca de 25 centímetros. A previsão é que essa situação se agrave ainda mais até outubro, com expectativas de novos recordes de baixa.
Em algumas regiões, as famílias têm acesso a menos de 50 litros de água por dia — menos da metade dos 110 litros diários indicados pela Organização das Nações Unidas (ONU) como necessários para atender às necessidades básicas de uma pessoa. Os poços amazônicos, que serviam de fonte para essas populações, secaram junto com o rio.
Além da falta de água, a crise também afeta a alimentação. A pesca, fonte de subsistência para muitas famílias, foi diretamente impactada, já que o baixo nível das águas dificulta a captura de peixes.
Sem o rio em sua plena capacidade, o transporte fluvial — fundamental para distribuição de produtos e mercadorias — também foi severamente prejudicado. Barcos de passageiros e balsas que transportam alimentos e combustíveis encalham frequentemente em bancos de areia e pedras expostas.
As comunidades ribeirinhas que dependem do Madeira para se locomover com embarcações estão isoladas. Crianças e adolescentes que precisam frequentar a escola, por exemplo, estão caminhando grandes percursos a pé para não perderem as aulas.
“Sofrimento”
“Tudo aqui está muito difícil. Falta água, falta alimento, faltam remédios. Nosso rio secou, os peixes desapareceram. Nosso alimento era o peixe. E ainda tem a fumaça das queimadas. A palavra que define é ‘sofrimento’”, lamenta Maria de Fátima Batista, de 61 anos, moradora da comunidade ribeirinha Terra Firme, localizada no Baixo Madeira.
Segundo Maria de Fátima, sua comunidade não recebeu nenhum auxílio do governo estadual ou municipal. “A gente se vira como pode para não morrer. Nasci e me criei aqui na beira desse rio. E eu nunca vi uma situação como essa”, conta Maria de Fátima.
Desde junho, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em Rondônia intensificou seu apoio aos ribeirinhos do Rio Madeira. Segundo Klézio Martins, da coordenação de Comunicação do MAB, o movimento tem organizado atos públicos para pressionar as autoridades a agirem em prol das comunidades atingidas.
“As pessoas estão passando por muitas dificuldades, principalmente financeiras. Por isso, a gente cobra um auxílio emergencial, ações do governo. A situação é urgente. Só quem acompanha de perto conhece a realidade”, afirma Martins.
O Metrópoles entrou em contato com o governo do estado de Rondônia para saber quais ações estavam sendo implementadas para fornecer suporte às comunidades ribeirinhas, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.