“Se for para tirar a dor dos pais, me condenem”, diz réu da Boate Kiss
Produtor de palco, Luciano Augusto Bonilha Leão, 43 anos, um dos quatro réus da Boate Kiss, deu seu depoimento nesta quinta
atualizado
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Luciano Augusto Bonilha Leão (foto em destaque), 43 anos, um dos quatro réus da Boate Kiss, prestou depoimento nesta quinta-feira (9/12). Ele mandou uma mensagem aos familiares das 242 vítimas. “A luta deles é legítima. Minha mãe é a maior joia da minha vida. Se eu tivesse morrido, ela não teria a escolha de pensar se o filho é assassino ou inocente. Mas tenho a consciência de que não queria a tragédia, sou inocente. Mas se for para tirar a dor desses pais, que me condenem”, disse, diante do tribunal do júri.
Elissandro Spoh, um dos sócios da Boate Kiss, foi o primeiro réu a depor no tribunal do júri. Nessa quarta-feira (8/12), ele disse que perdeu muitos amigos e funcionários no incêndio. “Querem me prender, me prendam, eu estou cansado, cara. Eu sei que perderam gente e tal, mas eu perdi um monte de amigos, eu perdi funcionários. Acham que eu não tinha amigos lá? Acham que eu ia fazer uma coisa dessas?”, disse, em choro intenso.
Ele, o sócio Mauro Londero Hoffmann e os integrantes da banda Gurizada Fandangueira Marcelo de Jesus dos Santos (vocalista) e Luciano Bonilha Leão, produtor de palco, são acusados por homicídio e tentativa de homicídio simples por dolo eventual pelas mortes ocorridas na tragédia.
“Não é fingimento! Eu não aguento mais, cara. Eu estava tremendo, eu estava sem ar. Eu tive que pegar ar para dar esse depoimento”, disse Spoh.
A tragédia
No dia 27 de janeiro de 2013, a Boate Kiss, casa noturna localizada na Rua dos Andradas, no centro da cidade de Santa Maria, recebeu centenas de jovens para uma comemoração. No palco, havia dois shows ao vivo. O primeiro, de uma banda de rock. Depois, foi a vez da Gurizada Fandangueira, de sertanejo universitário. A casa estava lotada: entre 800 e mil pessoas. A boate tinha capacidade para 690 pessoas.
Segundo contou na época o guitarrista da banda Rodrigo Lemos, o fogo começou depois que um sinalizador foi aceso. Ele disse que os colegas de banda logo tentaram apagar o incêndio, mas o extintor não teria funcionado. Um dos componentes da bando, o gaiteiro Danilo Jaques, morreu no local.
Naquele dia, as faíscas atingiram o teto revestido de espuma. Em pouco tempo, o fogo se espalhou pela pista de dança e logo tomou todo o interior da boate. De acordo com os bombeiros, a fumaça altamente tóxica e de cheiro forte provocou pânico. Aí começou a tragédia.
Ainda sem saberem do que se tratava, seguranças tentaram impedir a saída antes do pagamento. Houve empurra-empurra. Alguns conseguiram deixar o local. Muitos que não conseguiram, desmaiaram, intoxicados pela fumaça. Outros procuraram os banheiros para escapar ou buscar uma entrada de ar e acabaram morrendo. Segundo peritos, o sistema de ar condicionado ajudou a espalhar a fumaça. Além disso, um curto-circuito provocado pelo incêndio causou uma explosão — 242 pessoas morreram.