Saúde: Queiroga define comissão para analisar uso do kit Covid no SUS
Três servidores da pasta estão responsáveis por analisar diretrizes contra remédios ineficazes, rejeitadas por secretário pró-cloroquina
atualizado
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Em despacho interno, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga estabeleceu uma comissão formada por três servidores responsáveis para analisar as diretrizes de tratamento da Covid-19. Dentre elas, está a contraindicação do chamado kit Covid para o tratamento da doença, composto por medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina, defendidos ferrenhamente pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), mas comprovadamente sem eficácia contra a doença.
A comissão tem a tarefa de aceitar ou não o relatório aprovado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao Sistema Único de Saúde (Conitec) em dezembro. Apesar da aprovação, antes que as orientações fossem incorporadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), foram rejeitadas pelo antigo secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos (SCTIE), Hélio Angotti Netto.
No documento emitido em 23 de fevereiro, o titular designa os servidores para “elaborar manifestação técnica acerca dos recursos interpostos” contra o antigo secretário da SCTIE, que não aprovou as diretrizes. Os técnicos têm 15 dias (até 10 de março) para enviar a conclusão à consultoria jurídica que assessora o ministério. A partir deste material, Queiroga elabora o parecer que finalmente ditará o veredito sobre as orientações.
Alessandra de Sá Earp Siqueira, diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia da SCTIE coordena as atividades do grupo. Max Nóbrega de Menezes, coordenador-geral de Ações Estratégicas em Pesquisa Clínica (também da SCTIE), e Gláucia Maria Moraes de Oliveira, coordenadora-geral de Articulação Intersetorial na Atenção Especializada, da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (SAES), fecham o time selecionado.
Também defensor do tratamento comprovadamente ineficaz contra a Covid, Angotti negou o recurso apresentado pelos pesquisadores. Agora, o documento está sob análise de Queiroga.
“Tenho prazo para analisar isso de acordo com o decreto. Vou fazê-lo enfrentando todas as questões, como eu já disse. Já estamos vendo com minha assessoria técnica para tomarmos as melhores decisões. O recurso nós vamos reconhecer, analisar o mérito, não há problema algum”, explicou o ministro em fevereiro.
O cardiologista paraibano já se manifestou contrário à utilização dos fármacos para o tratamento da doença. Ao ser perguntado sobre o tema, Queiroga reiterou a defesa da vacinação. “Inclusive, em relação a esses fármacos, que eu saiba não há nenhuma recomendação do Ministério da Saúde nesse sentido, nenhuma. Em relação a esses fármacos que são aludidos, né? E que sempre se quer voltar a uma questão no início da pandemia”, emendou.
Discussão encerrada?
Depois da polêmica, Hélio Angotti Netto foi realocado dentro do Ministério da Saúde. Ele deixou a coordenação da SCTIE e passou a chefiar a secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), cargo vago anteriormente ocupado por Mayra Pinheiro, a “capitã cloroquina”.
No lugar de Angotti, assumiu a servidora de carreira Sandra de Castro Barros. Quando questionada sobre o tema, a servidora foi taxativa: “Esta discussão já está encerrada, já foi feita. Estou assumindo agora a SCTIE e, conforme o ministro já colocou, há um recurso em relação a todo esse histórico a ser julgado. No momento, acredito que essa não seja a pauta principal de que eu tenho para dirigir a secretaria dentro daquilo que a gente está almejando aqui”, afirmou Sandra.