Saúde nega “boicote” em dados da Covid-19 e culpa estados por atrasos
Na última semana, a atualização tem registrado atrasos que ultrapassam três horas e o panorama só é publicado após 22h
atualizado
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Após dois dias consecutivos de atrasos na divulgação do número de mortos e infectados pela Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, o Ministério da Saúde negou na noite desta sexta-feira (05/06) que esteja dificultando o acesso ao conteúdo. A pasta culpou os estados pela demora na atualização do panorama.
Na última semana, a informação dos novos números tem registrado atrasos que ultrapassam três horas. Ao mesmo tempo, o país tem registrado recordes de óbitos e adoecimentos.
A principal crítica é que as informações têm sido divulgadas após 22h. Isso impacta na publicidade do panorama. Neste horário, os principais telejornais já foram exibidos pelas emissoras de TV e o fechamento dos jornais impressos já estão em finalização. Seria uma espécie de “boicote”.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que “os dados de casos e óbitos são informados pelas secretarias estaduais e municipais de saúde, que também possuem sistemas próprios de divulgação destas informações, em plataformas públicas”.
“A pasta analisa e consolida os dados, sendo que em alguns casos há necessidade de checagem junto aos gestores locais. Desta forma, o Ministério da Saúde tem buscado ajustar o horário de divulgação dos dados, que são publicados diariamente”, frisa o texto.
O Metrópoles apurou com uma fonte da Secretaria-Executiva do Ministério da Saúde que as informações das secretarias estaduais de Saúde são concatenadas até 19h, quando as planilhas de casos e mortos são finalizadas. O processo começa por volta das 16h. A pasta conta ainda com um sistema on-line para a inserção dos casos pelos gestores locais.
Pela regra, a notificação dos casos deve ser inserida no e-SUS Vigilância Epidemiológica (e-SUS VE), a ferramenta de registro de casos suspeitos e confirmados do novo coronavírus.
Os atrasos diários nos dados causam “apagão” e atrapalham resposta à Covid-19, dizem especialistas. A forma como as informações estão sendo tratadas desencadeou reações da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e até de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Nos bastidores, especula-se que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) recomendou a mudança de rumo.
À época da gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, a divulgação ocorria às 17h diariamente, com a participação do chefe da pasta. Depois, sob o comando do oncologista Nelson Teich, a atualização passou a ocorrer às 19h e as entrevistas deixaram de ser diárias.
O atual ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, até o momento não participou de nenhuma entrevista desse tipo. Segundo a pasta, desde o início da pandemia fontes do ministério já participaram de mais de 300 horas em coletivas de imprensa.