Saúde colhe opiniões de grupo contrário à vacinação de crianças
Integrantes do ministério participaram de reunião que também contou com a presença de defensores do tratamento precoce contra a Covid-19
atualizado
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Secretários do Ministério da Saúde se reuniram, nessa terça-feira (21/12), com membros da pasta e especialistas que são contra a vacinação da Covid-19 de crianças de 5 a 11 anos.
A pauta foi debatida sem a presença de estudiosos da sociedade civil que participam da Câmara Técnica em Imunização da Covid-19 (CTAI-Covid). Apenas membros do Ministério da Saúde que integram o órgão estavam na reunião. Na última sexta-feira (17/12), A CTAI-Covid recomendou, de forma unânime, a aplicação da vacina da Pfizer/BionTech em crianças nessa faixa etária.
O Metrópoles apurou, com participantes, que o encontro serviu para subsidiar a pasta com dados que “avaliam o risco-benefício da imunização no grupo”.
Segundo registro do Ministério da Saúde, 19 pessoas participaram da reunião dessa terça.
O encontro contou com a participação de Bruno Campello de Souza e Ellen Gonçalves Guimarães. Eles estavam presentes na comitiva do Ministério que foi a Manaus, em janeiro deste ano, para promover o TrateCov, aplicativo que receitava até a crianças cloroquina e outros medicamentos que não servem para combater a Covid.
Também presentes, Roberta Lacerda Almeida de Miranda e Edimilson Ramos Migowski de Carvalho estão entre os nomes que assinaram documento encaminhado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) contrário à vacinação compulsória de crianças entre 5 e 11 anos.
Ao Metrópoles, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Isabel Correia Pinheiro – que ficou conhecida como Capitã Cloroquina devido à intensa defesa do tratamento precoce contra a Covid –, explicou que a reunião ocorreu apenas para ouvir especialistas sobre a vacinação de crianças.
Mesmo de férias, Mayra participou de forma remota do encontro.
“A discussão toda foi comandada pelas secretarias que fazem o parecer, a Secovid [Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19], da doutora Rosana [Leite de Melo]. Nós todos demos a nossa opinião. Os dados serão usados pelo Ministério da Saúde para subsidiar a audiência pública”, afirmou a secretária.
Também estavam presentes na reunião a secretária Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, Rosana Leite de Melo, o secretário de Vigilância em Saúde (SVS), Arnaldo Correia de Medeiros, e o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde (SCTIE), Hélio Angotti Neto.
Convidado por Mayra, o infectologista Edimilson Migowski ressaltou a presença de cardiologistas, epidemiologistas e pediatras na reunião dessa terça.
Contraponto
“A gente apresentou os dados de letalidade da Covid e fizemos uma análise de risco e benefício na vacinação neste grupo, fazendo um contraponto para provocar o Ministério da Saúde a refletir melhor sobre a vacinação de crianças”, relatou, em conversa com o Metrópoles.
“Qualquer morte de criança é algo que a gente lamenta, mas o temor que o grupo tem é que eventos adversos possam causar um problema maior”, prosseguiu Migowski.
“Das crianças que morreram de Covid, 70% tinham uma comorbidade ou mais. Qual é a nossa proposta? Que é mais interessante vacinar as crianças com comorbidade. Também propomos, sobre os adolescentes mais velhos, que, ao invés de aplicar duas doses, seja mais interessante só uma dose”, complementou o infectologista.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, havia anunciado, no sábado (18/12), que o governo federal decidirá sobre a vacinação para crianças em 5 de janeiro. Segundo ele, no dia 4 do mesmo mês, será realizada uma audiência pública para discutir o assunto.
Acompanhado do advogado-geral da União, Bruno Bianco, Queiroga disse que a Câmara Técnica Assessora de Imunização Covid-19 vai divulgar um documento técnico sobre o assunto nesta quarta-feira (22/12). A partir disso, a secretaria do Ministério da Saúde colocará a documentação para consulta pública.
Análise
A Anvisa aprovou, na quinta-feira (16/12), a indicação da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos de idade. A análise da agência sobre a vacinação foi transmitida nos canais oficiais da agência, com falas de Gustavo Mendes, gerente de Medicamentos, e de Suzie Marie, chefe da Gerência Geral de Monitoramento.
Também houve falas de associações médicas que participaram da avaliação da vacina. Entre os grupos participantes, estão a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Fisiologia; a Sociedade Brasileira de Infectologia; e a Sociedade Brasileira de Imunizações.
Após a participação das entidades médicas, os cinco membros da diretoria-colegiada do órgão discursaram: Meiruze Freitas, Alex Machado, Romison Mota, Cristiane Jourdan e Antonio Barra Torres.
“Se formos consultar todas as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para que aquele posicionamento fosse estabelecido, essa lista contaria, por certo, com mais de 1,6 mil nomes, porque todas as nossa atividades estão entrelaçadas. Estamos juntos”, ressaltou o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres.
Dosagens diferentes
O gerente de Medicamentos, Gustavo Mendes, explicou que os estudos apresentados pela Pfizer e analisados pela Anvisa testaram três dosagens diferentes da vacina para avaliar qual seria a mais apropriada para a aplicação em crianças.
Os pacientes dessa faixa etária foram vacinados com um volume de 10 µg (microgramas) de imunizante. Em adultos, a dosagem é de 30 µg.
Cerca de 1.500 pessoas participaram da pesquisa tomando vacina. Outras 750 receberam placebo. Todos os voluntários receberam duas doses, com intervalo de 21 dias. De acordo com Mendes, a vacina apresentou resultados positivos para a população infantil.
“Comparando crianças de 5 a 11 anos com pessoas de 16 a 25 anos, com a dosagem diferente, a gente observou que existe a mesma quantidade de anticorpos neutralizantes. A vacina tem um desempenho importante na geração de anticorpos nessa população”, afirmou.
Ele também pontuou que há presença “significativa” de anticorpos contra a variante Delta, mas que o surgimento de novas mutações do coronavírus deve ser observado para aprimorar o imunizante.
De acordo com Suzie Marie, a maior parte dos eventos adversos relatados na aplicação da vacina em crianças é sem gravidade. Ela ressaltou que os benefícios do imunizante superam os riscos e pediu que os pacientes e os gestores de saúde estejam atentos aos possíveis efeitos adversos, que devem ser comunicados à agência.
“Os benefícios da vacina superam os riscos e é fundamental a participação da sociedade no monitoramento pós uso”, frisou.
Ameaças e intimidações
Diretores da Anvisa têm sofrido ameaças sobretudo após o órgão aprovar a vacinação de crianças. As intimidações ocorrem depois que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou constranger servidores da agência.
“A Anvisa não está subordinada a mim – deixar bem claro isso. Não interfiro lá. Eu pedi, extraoficialmente, o nome das pessoas que aprovaram a vacina para crianças a partir de 5 anos. Nós queremos divulgar o nome dessas pessoas para que todo mundo tome conhecimento de quem são essas pessoas e, obviamente, formem o seu juízo. […] Você tem o direito de saber o nome das pessoas que aprovaram a vacinação a partir de 5 anos para o seu filho”, disse o presidente durante transmissão ao vivo nas redes sociais.