Zika, dengue e chikungunya. Cuidado com as “primas” da febre amarela
Especialistas alertam que a ocorrência das três doenças pode aumentar no período chuvoso e que a população precisa se preparar
atualizado
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Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil encara o perigo de um surto de febre amarela. A arbovirose, que já matou 81 pessoas no país desde julho passado, conforme boletim do Ministério da Saúde divulgado nessa terça-feira (30/1), dominou os noticiários e gerou uma corrida aos postos de vacinação. Só se fala dela – com razão –, mas especialistas também se preparam para enfrentar outras arboviroses, como são conhecidas as doenças transmitidas por insetos.
O aumento no número de casos fez o Ministério da Saúde anunciar, no último dia 9, que fracionaria a dose da vacina nos estados onde a situação exige maior atenção: São Paulo, que contabiliza 43 mortes, Minas Gerais (30) e Rio de Janeiro (7). Com a medida, que começou a valer em 25 de janeiro, em SP e no RJ, uma dose do biológico é dividida entre quatro pessoas.“Em gravidade, é ela (febre amarela) a que mais preocupa porque até 50% das pessoas infectadas evoluem para casos graves. Dessas, cerca de 70% morrem. O perigo dela é causar milhares de mortes, e daí a necessidade de intensificar o combate”, alerta José David Urbaez, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Chikungunya e dengue
Como o período de chuvas coincide com o de proliferação do mosquito Aedes aegypti – transmissor da febre amarela, chikungunya e zika – casos das duas primeiras doenças tendem a aumentar. De acordo com o especialista, a recente descoberta da letalidade da chikungunya faz as autoridades de Saúde Pública ficarem atentas a novas ocorrências.
“Estamos falando de 30% a 40% de pessoas que continuam a ter sintomas intensos mesmo após a infecção. Além disso, são descritos cada vez mais casos de morte. Ela assusta não pelo tamanho (número de infectados), mas porque ainda é desconhecida”, afirma o infectologista.
Ele explica que o risco com a dengue é que a doença acomete um número grande de pessoas, provocando mal-estar generalizado e afastando os infectados do trabalho, o que sobrecarrega o já precário sistema público de saúde.
Imunização
A vacina da dengue fabricada pelo laboratório francês Sanofi Pasteur foi colocada em cheque no ano passado. Uma atualização de estudo discretamente publicada no site do fabricante e repercutida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) avisava que a proteção poderia, na verdade, levar a formas mais graves da doença em pacientes que nunca haviam sido expostos ao vírus antes de receber a imunização. A dose, então, passou a ser desaconselhada pela agência a pessoas que nunca pegaram dengue antes. Em 2018, o quadro pode mudar.
“Pode ser que surjam novos estudos mostrando a validade da vacinação, dado o impacto da dengue na nossa população”, acredita a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai. “Em uma situação de surto, ainda é melhor vacinar e, infelizmente, esperamos muitos casos este ano”, diz.
Com exceção do Paraná, que imunizou a população em campanha, a vacina só está disponível na rede particular. O Instituto Butantan, em São Paulo, estuda há anos uma nova versão, mas ainda não há expectativa de lançamento no mercado.
Má-formação
Também transmitido pelo mosquito, o vírus da zika provocou 3.037 casos de alterações no crescimento e no desenvolvimento de recém-nascidos e crianças, de 8 de novembro de 2015 a 2 de dezembro de 2017. Segundo dados do Ministério da Saúde, 70 morreram no período.
No entanto, o infectologista José David Urbaez está otimista quanto ao alcance do zika neste período chuvoso. Ele espera que o impacto seja menor do que em 2016. Naquele ano, a população praticamente não tinha contato anterior com o vírus, o que fez com que muitas pessoas ficassem doentes. Agora, a maior parte dos brasileiros já está imunizada devido ao contato anterior.
Monitoramento
Técnicos da Organização Mundial da Saúde (OMS) chegaram ao Brasil em 29 de janeiro para acompanhar o fracionamento da vacina contra a febre amarela. A pasta tem se reunido semanalmente com o órgão das Nações Unidas para tratar do surto da doença no país.
Segundo estudos da Fiocruz, a proteção repartida tem eficácia garantida para até oito anos após a aplicação. Com resultados favoráveis, tanto em pesquisas quanto na prática, a expectativa de alguns especialistas é de que a dose fracionada passe a ser, num futuro próximo, a padrão, já que beneficia mais gente com uma quantidade menor de antígenos.
“A estratégia (de fracionamento) está em absoluta consonância com as recomendações da OMS para as áreas populosas com risco de expansão da doença”, disse Antônio Carlos Nardi, secretário-executivo da pasta, na semana passada.