Revista IstoÉ traz reportagem sobre “as atrocidades do Mais Médicos”
Segundo a publicação, depoimentos, áudios e trocas de mensagens revelam que “cubanos viviam quase como escravos no Brasil”
atualizado
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A revista IstoÉ deste fim de semana traz reportagem sobre o que chama de “as atrocidades do Mais Médicos”. Segundo a publicação, depoimentos, áudios e trocas de mensagens aos quais teve acesso revelam que “médicos cubanos viviam quase como escravos no Brasil”. Eles seriam “vigiados por agentes enviados por Havana, não podiam sair de um município a outro sem autorização mesmo nas folgas, eram assediados sexualmente e até extorquidos”. De acordo com a revista, “quem não quer voltar à ilha sofre ameaças”.
A reportagem destaca que, em 29 de novembro, a doutora Dayaimy González Valon, 38 anos, integrante do Mais Médicos, anunciou em transmissão ao vivo pelo YouTube uma decisão, segundo ela, de caráter irrevogável: preferia permanecer no Brasil a regressar ao “flagelo da ditadura cubana”. “É uma decisão da qual não me arrependo”, desabafou ela, que havia desembarcado no Brasil no dia 12 de outubro de 2016, com destino ao município de Paranatinga, interior de Mato Grosso, em substituição a um colega.
Nesses dois anos, além de atender aos moradores da cabeceira municipal, a médica viajou exaustivamente pela região para atender à população de cinco assentamentos rurais e duas comunidades indígenas.
De acordo com a IstoÉ, apenas 20 minutos após a declaração de ruptura, a médica recebeu a ligação do coordenador estadual do Mais Médicos em Mato Grosso, Leôncio Fuentes Correa. A conversa, que teria começado amena, diz a revista, rapidamente degenerou para o tom ameaçador.
“Pense bem doutora, eu apenas sugiro (…) no final, se você ficar aqui, você sabe que não vai entrar em Cuba por oito anos. E você tem família em Cuba (…) e se algo acontecer com um de seus familiares, que tomara não aconteça, você não poderá entrar no país (…)”, teria dito o coordenador.
“Se você não entrar nesse voo (marcado para 7 de dezembro), eu te reportarei por abandono do posto. Quando eu preencher essa ficha, ela automaticamente vai para a imigração e em oito anos você não poderá ir a Cuba. Isso não tem retorno”, advertiu o coordenador, numa ligação de sete minutos gravada pela médica, à qual IstoÉ teve acesso.
Confira:
Missões internacionalistas
A matéria prossegue afirmando que, apesar de não ser uma norma escrita, os cubanos que saem do país enviados pelo governo para as chamadas “missões internacionalistas”, sejam médicos, esportistas ou maestros, e decidem abandonar os contratos laborais, são banidos e proibidos de voltar durante período de 8 anos.
“O castigo é arbitrário e busca punir de maneira exemplar àqueles que ousam desobedecer. Nega o direito de entrar na nossa própria terra e o direito de conviver com nossos familiares”, lamenta Nora Salvia, que saiu da Missão Bairro Adentro na Venezuela em 2014 e é uma das fundadoras do Grupo NoSomosDesertores, que pressiona pela suspensão da norma.
Segundo a publicação, Leôncio Fuentes é um dos 36 consultores internacionais contratados pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), para o biênio 2018-2019. Todos, sem exceção, funcionários cubanos com cargos nas instituições de saúde em Cuba.
Assim como também é cubano o representante da entidade regional no Brasil, Joaquin Molina, que, antes de ingressar na Opas, em 1991, ocupara altos cargos no Ministério de Saúde da ilha caribenha.
Rede de vigilância
Travestidos de “consultores internacionais”, como destaca a IstoÉ, os funcionários cubanos compuseram e ainda compõem no Brasil uma “rede de vigilância montada pelo regime para exercer controle total sobre os profissionais enviados pela ilha, tratados por esses agentes cubanos quase como escravos desde que desembarcaram em solo brasileiro”.
E-mails, mensagens e depoimentos obtidos por IstoÉ lançam luz sobre a atuação desta rede de “capatazes” em Santa Catarina, Rio Grande Sul, Rio de Janeiro, Bahia, Mato Groso, Goiás e Pará. Era para esses “consultores” da Opas que os médicos deviam informar sobre cada passo. Desde visitas familiares que receberiam de Cuba até meras saídas para outros municípios fora do horário do expediente. “Caso contrário, eram punidos”, diz a reportagem.