Reajuste de planos de saúde supera inflação pelo 8º ano consecutivo
Apesar das queixas dos órgãos de defesa do consumidor, o reajuste está dentro das normas. A ANS determina teto para o reajuste dos planos individuais com base na média das altas aplicadas nos coletivos, que têm livre negociação de preço
atualizado
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Em meio ao aumento do desemprego e elevação do custo de vida, os gastos com saúde estão fazendo peso extra no orçamento do brasileiro. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) autorizou, na semana passada, um reajuste de até 13,57% nos planos de saúde individuais, a oitava alta seguida acima da inflação. Paralelamente, os remédios subiram 9,55% nos últimos dois meses, resultado do reajuste autorizado de até 12,5% em vigor desde abril.
“Os preços dos planos de saúde estão subindo acima do custo de vida do consumidor. Isso mostra que é necessário que a ANS passe a regular todos os tipos e não só os individuais”, opina Joana Cruz, pesquisadora em saúde suplementar do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Apesar das queixas dos órgãos de defesa do consumidor, o reajuste está dentro das normas. A ANS determina teto para o reajuste dos planos individuais com base na média das altas aplicadas nos coletivos, que têm livre negociação de preço.
Abandono
Qualquer que seja o tipo do plano, a escalada do custo de vida está forçando os brasileiros a rever os gastos nessa área. Em um ano, do primeiro trimestre de 2015 ao mesmo período deste ano, 1,3 milhão de consumidores abandonaram a saúde suplementar.
Dois terços (ou 887 mil) eram clientes de planos empresariais, uma indicação de que o aumento dos custos penaliza principalmente os desempregados. Os planos individuais ou familiares também encolheram: 224 mil saíram de circulação, ou quase 17% dos cancelamentos.
“A precificação dos planos de saúde deveria ser melhor. Um cliente com histórico saudável e que faz exercícios físicos, por exemplo, poderia pagar menos pelos planos de saúde”, afirma Renata Vilhena Silva, especializada em direito à saúde do escritório Vilhena Silva.
Casos
Na família da empresária Henriette Ferrer Alves, 48 anos, moradora da zona leste de São Paulo, o custo mensal de R$ 2,1 mil para os planos de saúde dela, do marido e dos três filhos não cabia mais nas contas. Por isso, eles não contam mais com plano de saúde há oito meses.
Dona de uma empresa que compra e revende material reciclável, Henriette viu seu faturamento cair 60% no ano passado. “Em 30 anos nunca passamos por isso”, conta. Com dois filhos (de 18 e 25 anos) estudando em faculdades particulares e mais uma filha de 8 anos em uma escola particular, a prioridade foi a educação.
O relações públicas Leonardo Vinhas, 37 anos, abriu mão de seu plano no início de 2015. Demitido em 2013, ele teve o direito de permanecer no plano pagando o mesmo valor – R$ 380. Por determinação da ANS, quem é demitido pode manter o plano por mais dois anos. “Desde o início do ano passado estou vivendo como freelancer. As contas não fecham”, diz.
A decisão de deixar o plano não foi trivial. Vinhas tem catarata de nascença, agravada por um forte astigmatismo. No segundo semestre do ano passado, sua visão começou a piorar. Os médicos indicaram a realização de uma cirurgia, ao custo de R$ 16 mil. Receoso sobre a qualidade do SUS, ele considera duas opções: poupar o máximo para pagar a cirurgia ou contratar um novo plano
Se a decisão de Vinhas for a segunda alternativa, novos obstáculos podem estar à frente. Uma pesquisa do Idec mostrou que, no ano passado, metade dos planos individuais anunciados pelas operadoras de saúde e registrados na ANS não estava disponível para venda.
“As regras estabelecidas pela ANS tornaram esse produto pouco interessante às empresas e a oferta desapareceu”, diz Luiz Augusto Carneiro, superintendente do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), ligado às operadoras.
Nos cálculos da entidade, os reajustes não compensam a escalada de custos do setor. Em 2015, o índice de custos médico-hospitalares subiu 19,3%, ante uma inflação de 10,67%.