Professora da UnB ao The New York Times: “Zika vírus reflete a desigualdade do Brasil”

Debora Diniz, antropóloga e professora da Universidade de Brasília (UnB), escreveu, nesta segunda-feira (8/2), um artigo no The New York Times. A acadêmica, pesquisadora do Instituto de Bioética (Anis), defende que a atual crise do zika vírus reflete a desigualdade social do Brasil.

Perdido em meio ao pânico sobre o zika, há um fato importante: a epidemia espelha a desigualdade social do Brasil. O vírus está concentrado entre mulheres jovens, pobres e negras, que, em sua maioria, vivem nas regiões menos desenvolvidas do país. As mulheres com maiores chances de contrair o vírus vivem em locais nos quais o mosquito faz parte do dia a dia, em que doenças como dengue e chikungunya já são endêmicas

Debora Diniz, professora da UnB

Diniz argumenta que, por exemplo, em Brasília, ainda não foram encontrados bebês com microcefalia por conta do zika. No entanto, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal confirmou que duas gestantes, de 29 e 36 anos, contraíram a doença – elas residem em Águas Claras e no Plano Piloto, respectivamente.

A antropóloga argumenta que a epidemia “é uma oportunidade para o Brasil olhar para a desigualdade e para os direitos das mulheres”. “Temos uma das leis mais duras sobre o aborto. O procedimento é legal apenas em casos nos quais as mulherers correm risco de morte, foram estupradas ou geram bebês anencéfalos”, escreve.

Segundo a pesquisadora, uma entre cinco mulheres de 40 anos, no país, já realizaram abortos – o que, de acordo com as leis nacionais, significa que cinco milhões de mulheres deveriam estar na cadeia.

Por fim, ela encerra: “O governo deveria dar às mulheres o controle sobre sua vida reprodutiva – métodos contraceptivos acessíveis e uma opção segura de aborto”.

*Debora Diniz é fundadora do Instituto de Bioética (Anis) e professora da Universidade de Brasília (UnB)