Conheça a paralisia do sono, o mais aterrorizante dos pesadelos
Transtorno permite que o cérebro acorde, mas o corpo não. Você vê tudo o que acontece ao seu redor, porém seus membros permanecem imóveis
atualizado
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Imagine que você está deitado, pronto para dormir, o sono vai chegando, e lentamente adormece. Após alguns minutos, você desperta, consegue enxergar tudo à sua volta, mas, quando tenta se movimentar, o corpo não responde aos comandos do cérebro. Além de ficar assustado, quem passa por isso também começa a ver coisas irreais diante dos olhos. Esse fenômeno tem nome e é mais frequente do que podemos imaginar.
A paralisia do sono é um transtorno e pode ser explicada cientificamente. Segundo o psicólogo e hipnoterapeuta Erick Heslan, do Hipnose Institute, trata-se de fenômeno comum do nosso organismo e acontece quando o sujeito desperta do sono, mas a formação reticular (parte do tronco cerebral) não ativa os controles motores do corpo.
O psicólogo afirma ser possível surgirem alucinações durante os episódios, mas isso normalmente acontece quando a pessoa se encontra no estado em que ocorrem os sonhos e pesadelos, conhecido como estágio REM do sono.Essa experiência pode durar segundos ou até cerca de cinco minutos. O fenômeno é assustador para quem, em muitos casos, acaba mesclando a realidade com o sonho. Não se sabe ao certo quantas pessoas já enfrentaram o transtorno. As estimativas variam de 5% a 60% da população mundial, provavelmente por causa das diferenças entre métodos de pesquisa.
Histórico
Segundo relatos, com a sensação de imobilidade, surgem as alucinações. É possível sentir uma presença estranha no quarto, um peso sobre o corpo, e enxergar sombras. É o caso da estudante de biologia Diuliana Nadalon, 21 anos, que contou suas experiências com a paralisia e afirma ter vivido esse fenômeno, pelo menos, quatro vezes.
De acordo com Diuliana, as três primeiras crises foram mais tranquilas. Em uma delas, a estudante estava tomando medicamentos para dormir e, após se deitar, adormeceu rapidamente. Algum tempo depois, acordou, sentiu algo puxando seu braço e, quando foi se desvencilhar, percebeu que não conseguia mexer o membro. “Fiquei desesperada”, afirmou.
No seu último e mais intenso episódio de paralisia, ela estava na casa de uma parente, sentiu muito sono e adormeceu. Em seguida, acordou com uma sensação de formigamento no corpo, tentou se mexer, sem sucesso, e foi então que seu pior pesadelo começou. Ela relata ter visto uma sombra aproximando-se aos poucos. Tentava gritar para a prima, deitada ao lado, mas a voz não saía.
Eu via o quarto como ele realmente era, parecia real. Era como se meus braços e pernas estivessem amarrados. A sombra estava cada vez mais próxima, e eu não conseguia gritar. Não sabia o que era aquilo, só senti ‘a coisa’ segurar minha cabeça e pressioná-la várias vezes. Acordei com dores no corpo e fui correndo pesquisar sobre o assunto
Diuliana Nadalon, estudante, teve quatro incidentes de paralisia do sono
Também há relatos de pessoas manifestando apenas a dificuldade de movimentação, sem citar visões “paranormais”. É o caso do advogado Rafael Viana, 24 anos. Segundo ele, a paralisia do sono é algo frequente em sua vida. O jovem sofre de apneia do sono e acredita que isso pode ser um gatilho do transtorno. Rafael, certa vez, acordou de um “sono profundo” e não conseguia se mover.
De acordo com ele, seu corpo fica “gelado”, mas, questionado sobre alucinações e sensações de peso no corpo, afirma que nunca as vivenciou. “Eu fico preocupado em conseguir me deslocar, não penso em outras coisas. Talvez seja por isso que não tenho essas alucinações”.
Causas
O especialista Erick Heslan afirma existirem diversos fatores que contribuem para o desenvolvimento do distúrbio do sono. Entre eles, os mais comuns são: ansiedade, sono irregular ou precário, estresse excessivo, dormir de barriga para cima, uso de medicamentos, insônia e, em alguns casos – não sendo regra –, a narcolepsia e o transtorno bipolar.
Várias sensações podem ser percebidas durante os episódios de paralisia do sono. Algumas delas, de acordo com o psicólogo, são incapacidade de movimento, restrição da fala, aperto no peito, dificuldade de respiração, sentir-se flutuando, e ter consciência de que está acordado.
Nos casos com alucinações, é possível enxergar sombras, monstros e seres irreais, acreditar que existe algum intruso na casa e escutar sons de passos se aproximando.
Tratamento
Segundo o hipnoterapeuta, um dos principais fatores que levam esse fenômeno a ser considerado disfuncional é o sentido atribuído à experiência vivida. Comumente, muitas pessoas relacionam a paralisia do sono a explicações negativas, de cunho religioso (um evento demoníaco) e até mesmo à morte. Por isso, a principal fonte de tratamento é a mudança comportamental.
“Entre as ferramentas atuais para tratamento, observa-se que a hipnose tem sido muito utilizada e traz resultados bastante significativos. A hipnose pode instalar gatilhos de calma e também auxiliar a racionalizar o evento e, assim, não ter medo da paralisia”, afirma Erick Heslan.
A mudança de hábitos e do estilo de vida também é necessária para evitar que o transtorno aconteça. É recomendado melhorar a qualidade do sono, por meio de estratégias como: dormir entre seis e oito horas por noite, ir para a cama no horário de sempre, acordar todos os dias na mesma hora e não consumir bebidas energéticas antes de dormir, como café ou refrigerante. “É necessário dormir uma quantidade de tempo adequada, ter alimentação saudável e praticar exercícios físicos”, completa o especialista.