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Ministério da Saúde quer retomar altas coberturas vacinais em 2024

Secretária de Vigilância em Saúde, Ethel Maciel fala sobre as estratégias da nova gestão às vésperas de nova campanha

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1 de 1 ethel maciel ministério da saúde - Foto: Walterson Rosa/MS

O Ministério da Saúde inicia, nesta segunda-feira (27/2), o Programa Nacional de Vacinação de 2023. Em um primeiro momento, o público-alvo é composto por 52 milhões de brasileiros mais vulneráveis a casos graves de Covid-19, como idosos acima de 60 anos, gestantes e puérperas, imunocomprometidos ou pessoas com deficiência. No ano em que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) completa 50 anos, o governo Lula enfrenta o desafio de recuperar a credibilidade de um dos maiores programas de vacinação do mundo e aumentar as coberturas vacinais de diversas doenças, em queda desde 2016.

Em entrevista ao Metrópoles, a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) Ethel Maciel explica que 2023 será um ano de transição. Com contratos herdados da gestão anterior, a nova equipe viu a capacidade de negociação com fornecedores reduzida. Os planos, porém, incluem a retomada das campanhas publicitárias de ampla circulação e considerar a sazonalidade do país de dimensões continentais, além das dificuldades individualizadas de cada ente federativo, na hora de planejar as próximas ações.

“A nossa expectativa trabalhando com cidades, estados e municípios, fazendo ações focalizadas naqueles locais com menor cobertura, é já ter melhores resultados neste ano. Claro que é progressivo, assim como a queda é progressiva, a recuperação também é progressiva. Mas a gente espera que ela aconteça de forma mais rápida. Então a gente acredita que em 2023 a gente já veja um resultado e em 2024 a gente já comece com coberturas bem altas”, explica a epidemiologista.

A meta é ambiciosa: vacinar ao menos 90% do público-alvo da nova campanha, dividida em diferentes fases. “A gente tem performances diferentes por regiões, por estados, não somos iguais no Brasil. Nós temos estados que conseguiram muito mais de 90% [de cobertura vacinal] e outros que chegam a 60%, 70%. Então nós também precisamos, do ponto de vista do ministério que está fazendo essa vigilância, ter ações diferenciadas porque os problemas não são semelhantes”, ressalta Ethel.

Movimento nacional pela vacinação

A grande campanha de vacinação que se inicia nesta segunda, foco do ministério neste início de governo, será dividida em cinco etapas: a primeira usará as vacinas bivalentes contra a Covid-19 em uma nova dose de reforço para grupos mais vulneráveis. A segunda intensificará os esforços para completar o esquema vacinal contra a doença em todos os brasileiros acima de 12 anos.

Posteriormente, ainda em março, o foco continua no combate à pandemia, mas em crianças e adolescentes de 6 meses a 17 anos. Em abril, se inicia a tradicional campanha contra a influenza para grupos selecionados, e em maio a multivacinação de poliomielite e sarampo de crianças nas escolas.

“Neste ano a gente já tinha os contratos, herdamos os contratos vigentes, então a gente teve aí uma margem de negociação menor. Mas já estamos preparando para que em 2024, pela primeira vez, nós tenhamos aí uma vacinação [contra a Influenza] diferenciada, dependendo da sazonalidade, porque a gente sabe que na Região Norte começa de uma forma antecipada essas síndromes respiratórias agudas de inverno”, aponta Ethel.

Em parceria com o Ministério da Educação (MEC), a Saúde fará um esforço para vacinar crianças nas escolas contra poliomielite e sarampo, também com o objetivo de atualizar os cartões de vacinação. Crianças e adolescentes também serão o público-alvo de uma iniciativa posterior para aumentar a cobertura com o imunizante contra o papiloma humano, conhecido como HPV.

“Sob essa vacina nós tivemos uma campanha de desinformação muito intensa, então a gente vai precisar informar, falar que é uma das formas de prevenção mais efetivas contra o câncer de colo de útero. O Brasil quer eliminar o câncer de colo de útero e a ação mais efetiva é a prevenção através da vacinação. Então a gente vai ter que trabalhar com esse público, trabalhando com uma informação muito assertiva para que a gente consiga aplicar essa vacina neste público que ainda tem coberturas muito baixas”, explica a secretária.

Pandemia em novo momento

“Quando a gente pensa nessa redução de adoecimentos e óbitos [por Covid-19] no Brasil, a gente reconhece e credita as nossas vacinas, todas as vacinas foram importantíssimas”, ressalta Ethel, que também aponta que hoje, as pessoas com casos graves e óbitos são, sobretudo, aquelas que não se imunizaram ou não receberam todas as doses recomendadas.

Neste momento da pandemia, ainda definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como tal, a secretária ressalta que as recomendações do ministério seguem evidências científicas atualizadas. Além das vacinas, a pasta também reconhece a importância de fornecer os medicamentos já aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e incorporados ao Sistema Único de Saúde (SUS) pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) para um enfrentamento mais completo da doença.

Na próxima semana, a SVSA pretende divulgar uma nova nota técnica que reúna todas as orientações de medidas não-farmacológicas para combater a Covid-19. Ethel também pretende viabilizar a distribuição de máscaras no SUS: “É uma medida efetiva, essas máscaras filtrantes como a PFF2, precisamos trabalhar para que essas máscaras estejam disponíveis assim como os preservativos, para que as pessoas possam ir até as unidades de saúde e pegar seu pacote de máscaras, para usar no transporte coletivo, principalmente aquelas pessoas que são imunossuprimidas”.

Em abril, o comitê da OMS sobre imunização discutirá as mais atualizadas práticas para a vacinação contra a Covid-19. Até o momento, não há recomendação para que a população geral receba uma nova dose de reforço. Devido ao acesso desigual às vacinas ao redor do globo, os diferentes reforços ainda não são consenso.

Enfrentamento ao negacionismo

Um dos motivos que colaborou com as quedas das coberturas vacinais foi o avanço do movimento antivacina no país. Ethel reconhece que, apesar de ainda tímido no Brasil, o negacionismo encontrou espaço no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Infelizmente durante esse período nós tivemos um incentivo desse movimento, inclusive com autoridades falando com membros do movimento antivacina, então nós tivemos um impacto significativo”, diz.

Apesar disso, pesquisas conduzidas pelo ministério para aprimorar as próximas campanhas mostram que os brasileiros ainda confiam muito no PNI. “A confiança é muito grande, passa de 90%. Então as pessoas confiam no programa, confiam nas vacinas e o que a gente precisa mesmo é que essa informação chegue”, opina Ethel.

“A geração que hoje tem filhos em idade escolar, ela não viu o que essas doenças como a poliomielite e o sarampo causavam, as sequelas, os óbitos. Então as pessoas não têm essa memória, exatamente por conta da vacinação. O efeito das altas coberturas e da proteção, que fez com que essas doenças, algumas delas chegassem próximas à eliminação ou fossem eliminadas, também faz com que a percepção de risco das pessoas diminua”, explica a secretária.

“Algumas pessoas, por exemplo, se tem mãe trabalhadora e pai trabalhador, naquele período onde a unidade de saúde funciona, não tem como levar a criança [para vacinar]. Então o próprio horário de funcionamento dificulta isso. [A queda nas coberturas vacinais] não tem um determinante só, é multicausal e a gente está trabalhando, as pesquisas estão fornecendo dados e evidências para que a gente possa melhorar a nossa resposta”, exemplifica.

Dessa forma, a secretária acredita que é essencial que o ministério trabalhe para eliminar as situações conhecidas como “perda de oportunidade”. A SVSA também estará focada, neste primeiro momento, em fortalecer os sistemas de vigilância da pasta para conseguir antecipar situações como a crise sanitária Yanomami: “A gente não sabia ainda da dimensão, mas o dado já indicava. Então precisamos trabalhar para que a gente consiga antecipar mais, melhorar os nossos sistemas de vigilância para que a gente não chegue em um local e tenha uma situação de tamanha devastação”, finaliza.

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