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Marcador avalia risco de diabetes antes de exame mostrar glicose alta

Antes da elevação do nível glicêmico no sangue, o organismo apresenta diversas alterações metabólicas, que servem de alerta

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Marcelo Camargo/Agência Brasil
insulina diabete endocrinologista
1 de 1 insulina diabete endocrinologista - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Uma pessoa é diagnosticada com diabetes tipo 2 quando alguns marcadores de concentração de açúcar no sangue mostram níveis acima de um certo limite. Mas, muitos anos antes dessa elevação do nível glicêmico, o organismo já apresenta diversas alterações metabólicas. Essas mudanças poderiam marcar o risco de se desenvolver a doença.

Um novo estudo realizado nos Estados Unidos, com participação brasileira, mostrou que alterações em proteínas que transportam o colesterol no sangue podem ser detectadas e utilizadas como um novo marcador para o risco de diabetes.

Publicada na revista científica Journal of Clinical Lipidology, a pesquisa foi elaborada por um grupo de cientistas na Universidade de Harvard (Estados Unidos). O primeiro autor do artigo é o cardiologista brasileiro Paulo Harada, pesquisador do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da Universidade de São Paulo (USP) e da Divisão de Medicina Preventiva da universidade americana, onde atuou por dois anos.

De acordo com Harada, a diabetes afeta até 9% da população mundial e é uma das principais causas de infarto, perda de visão, disfunção dos rins e problemas de circulação nos membros. “Esses riscos podem estar presentes ao longo da trajetória de anos ou décadas que antecedem o diagnóstico do diabetes tipo 2”, explica o especialista.

O cientista esclarece que a avaliação dos níveis de glicose no sangue é o padrão para o diagnóstico da diabetes, mas não é capaz de detectar as outras alterações sanguíneas associadas ao risco quando a glicemia ainda é normal. “Não estamos falando de um novo método diagnóstico, mas sim de um marcador de risco. A detecção precoce do risco de desenvolver a doença pode orientar medidas para evitar ou atrasar a instalação da doença e suas complicações.”

Segundo Harada, muitos anos antes do diagnóstico de diabetes já ocorre um processo de resistência insulínica — a incapacidade dos órgãos para absorver glicose em resposta à insulina. Nessa fase, porém, os desequilíbrios na taxa de açúcar do sangue são compensados por uma maior produção de insulina pelo pâncreas. Quando o pâncreas deixa de fazer essa compensação, a doença aparece.

O marcador se baseia na análise das concentrações de três lipoproteínas no sangue: VLDL, LDL e HDL.

A partir desses valores, os cientistas estabeleceram o marcador, batizado de LPIR, que consiste em uma pontuação que vai de 0 a 100. Quanto maior o valor, maior o risco de diabetes.

Para validar o novo marcador, os cientistas analisaram dados de 25 mil mulheres que foram avaliadas ao longo de 20 anos nos Estados Unidos. A concentração das partículas que formam o LPIR foi medida por espectroscopia de ressonância magnética. “As mulheres com pontuação de LPIR acima de 67 tiveram um risco 2,2 vezes maior de desenvolver diabetes, em comparação às mulheres com pontuação menor que 30”, ressaltou.

De acordo com o pesquisador, o estudo mostra que o LPIR estava associado a um risco maior de diabetes mesmo nas mulheres sem histórico familiar da doença e com peso, glicose e outros parâmetros normais. “A conclusão é que esse marcador detecta parte do risco que não é revelado pelos métodos tradicionais.”

O risco de desenvolver diabetes é classificado como “baixo” quando fica abaixo de 3%, “intermediário” quando fica entre 3% e 10% e como “alto” quando supera os 10%, segundo Harada.

Amostra saudável
O pesquisador explica que dois estudos anteriores já sugeriam a associação entre as lipoproteínas de resistência insulínica e o risco de desenvolver diabetes tipo 2 no futuro, mas o novo estudo tem resultados mais robustos por ter sido validado em um grande número de pessoas saudáveis.

O médico destaca que a diabetes tipo 2 pode ser evitada ou ter seu curso atrasado por melhora de dieta e atividade física.

As pesquisas para que o marcador seja utilizado clinicamente em avaliações de risco de diabetes, porém, ainda têm um longo caminho pela frente.

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