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Fiocruz testa ‘DST de mosquito’

Os primeiros insetos adultos contaminados com Wolbachia foram liberados na favela de Tubiacanga, na Ilha do Governador, zona norte do Rio, em setembro de 2014

atualizado

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Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas
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Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz, ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), estão liberando no ambiente ovos de Aedes aegypti contaminados com uma bactéria que impede o mosquito de transmitir a dengue. Essa é uma nova etapa do projeto científico “Eliminar a Dengue: Desafio Brasil”, que desde setembro do ano passado solta mosquitos infectados pela bactéria na forma adulta. A intenção dos pesquisadores ao deixarem os ovos contaminados eclodirem é que o mosquito esteja mais bem adaptado ao clima da região em que vai viver.

A bactéria Wolbachia está presente na maioria dos insetos, como o pernilongo, e foi introduzida em ovos do Aedes aegypiti por microinjeção. Se a fêmea estiver contaminada, a prole já terá a bactéria, que passa a ser transmitida naturalmente de geração em geração. Se apenas o macho estiver infectado, os ovos que ele fertilizar não eclodem. “Os mosquitos utilizados não são estéreis nem sofrem nenhum tipo de modificação genética. O objetivo não é a redução da população de mosquitos. A proposta é substituir a população que já existe no local por mosquitos Aedes com Wolbachia”, explicou o pesquisador Luciano Moreira, coordenador do projeto.

O mosquito, quando contaminado por essa bactéria, perde a capacidade de transmitir a dengue. E admite-se que isso ocorra com zika e chicungunya também. Quando o mosquito macho contaminado cruza com a fêmea, transmite a bactéria. É uma DST (doença sexualmente transmissível) de mosquito que vamos espalhar.

Marcelo Castro, ministro da Saúde

Os primeiros insetos adultos contaminados com Wolbachia foram liberados na favela de Tubiacanga, na Ilha do Governador, zona norte do Rio, em setembro de 2014. Ao fim de 20 semanas, 65% dos mosquitos capturados na região tinham a bactéria. Logo depois houve redução dessa população de mosquitos. Os pesquisadores acreditam que isso tenha ocorrido pela dificuldade do mosquito nascido em laboratório se adaptar ao clima do bairro.

Os especialistas passaram a instalar pequenos recipientes de plástico, com ovos contaminados com Wolbachia. Esses potes são deixados nas casas de moradores voluntários, onde os ovos eclodem. Outras casas da vizinhança recebem dois tipos de armadilhas – uma para capturar mosquitos adultos e outra para recolher ovos e larvas. Os pesquisadores querem saber qual a proporção de insetos, ovos e larvas contaminadas.

A comerciante Bruna Leite, de 29 anos, moradora de Tubiacanga, tem uma armadilha para ovos e larvas na loja dela. “Tem muito mosquito aqui. Eu abro a loja e tenho que deixar o ventilador ligado para espantar os mosquitos. Mas faz muito tempo que ninguém aqui tem dengue. Acho que está fazendo efeito”, conta ela. Bruna é voluntária porque o filho Jhonata Henrique, de 7 anos, teve a forma hemorrágica da doença. “Cada um tem que fazer a sua parte.”

Além de Tubiacanga, o bairro de Jurujuba, em Niterói (cidade na região metropolitana), está passando por testes com os ovos de Aedes aegypti contaminados pela Wolbachia. Os pesquisadores também estudam o raio de ação dos mosquitos. Eles soltaram insetos “pintados” das cores vermelha, azul e verde. Quando esses mosquitos forem capturados nas armadilhas, será possível saber a distância que percorreram a partir do ponto de soltura. A pesquisa é de longo prazo. Os pesquisadores ainda não têm previsão sobre quando a estratégia poderá ser adotada em larga escala.

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