Covid-19: Ministério da Saúde divulga menos casos que secretarias
Diferença entre dados do governo federal e das secretarias locais acontece por conta do prazo das notificações
atualizado
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O Ministério da Saúde confirmou, no último domingo (22/03), que são 1.528 pessoas infectadas pelo coronavírus no Brasil. Apesar do número ser alto, ele não reflete a realidade da doença no país. Isso por que a soma dos dados reportados pelas secretarias estaduais é maior. Na mesma data, foram 1.568 casos de Covid-19 confirmados pelos governos locais.
As informações das secretarias estaduais de Saúde foram agrupadas por um grupo de 33 voluntários e publicadas no Brasil.Io, iniciativa que utiliza programação de computadores para facilitar e possibilitar o acesso a dados públicos.
A diferença entre governo federal e estados acontece devido ao tempo de notificação e aos horários de divulgação. Quando um hospital recebe um resultado positivo, ele precisa repassar as informações à secretaria municipal, que, em seguida, as encaminha à secretaria estadual, que, por fim, as envia ao Ministério da Saúde.
Os hospitais têm prazo de 24 horas para fazer a comunicação e, assim, a rotina de cada ente envolvido impacta a cadeia de informações relativas ao coronavírus em momentos distintos. O Ministério da Saúde tem feito o balanço da situação nacional por volta das 16h de cada dia. Muitos estados divulgam os dados depois disso, o que também contribui para a defasagem.
Como se pode perceber no gráfico acima, em 16 de março, enquanto o Ministério da Saúde reportava 234 casos de coronavírus, as secretarias estaduais reportavam 278. Cinco dias depois, o governo federal calculava 1.128 casos, e os Executivos locais reportavam 1.181.
Subnotificação
Além da defasagem entre os dados das secretarias estaduais e os do Ministério da Saúde, um outro problema está presente nos números de infectados pelo coronavírus: a subnotificação.
Como o Brasil testa apenas pessoas com sintomas da doença, muitos casos sequer chegam aos bancos de dados oficiais. Um artigo publicado na revista Science estima que 85% das infecções por coronavírus não são diagnosticadas.
“Muitos dos pacientes não apresentam sintomas ou têm um quadro leve, que não leva as pessoas a procurarem tratamento”, explica o médico e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia Leonardo Weissmann.
“Essa é uma situação que ocorre não somente no Brasil, mas em todo o mundo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, apenas cerca de 19% dos pacientes apresentam um quadro grave ou crítico”, acrescenta.
Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou até o fechamento desta reportagem.