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Contra a corrente, avança a dieta com base em gorduras

Adeptos da dieta cetogênica podem comer abacate e alimentos processados. Especialistas recomendam a importância da orientação médica

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Ter uma alimentação rica em gordura para emagrecer. A proposta da dieta cetogênica pode parecer estranha, mas tem atraído a atenção de muitas pessoas interessadas na rápida perda de peso com um cardápio que inclui produtos que não costumam entrar na rotina fitness, como abacate e alimentos processados.

Só que atingir o objetivo não é fácil, de modo que especialistas recomendam orientação médica para montar o plano de alimentação: além da dieta ser restritiva, é necessário reduzir de forma agressiva o consumo de carboidratos, o que pode afetar desde o humor até a saúde do paciente.

As duas primeiras semanas foram as mais difíceis para a motorista de aplicativos Renata Bispo, de 31 anos, que mudou sua alimentação há 40 dias. No período, ela perdeu 9,2 quilos, e sua meta é uma redução de 30 quilos, que pretende atingir em dois meses e meio.”Comemos alimentos que saciam, mas, como não posso comer carboidratos, sinto irritação e mau humor. Perdi 3 quilos na primeira semana e na segunda sofri muito. A partir da terceira, estava adaptada e, hoje, estou seguindo”, afirma.

Renata, que pesa atualmente 106 quilos, conta que antes de iniciar a dieta buscou a orientação de um especialista. “Com o meu histórico de problemas com peso, procurei uma nutricionista, até porque é uma dieta restritiva e complexa. Fiz exames, ela avaliou meu histórico e minha rotina e decidiu que seria a cetogênica.”

A motorista diz que os alimentos que fazem parte da dieta se encaixam com a sua rotina. “Não tenho tempo nem disciplina. Se eu precisar comer fora, posso pegar um grelhado e folhas e vegetais com bastante fartura. Então, quando não dá tempo de montar a marmita, não fica caro.”

Energia
Médico nutrólogo e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), Durval Ribas Filho explica que a dieta cetogênica faz com que o corpo deixe de utilizar os carboidratos como fonte de energia. Nessa troca, a fonte energética passa a ser a gordura, e a pessoa acaba emagrecendo.

Embora a liberação para comer alimentos ricos em gordura pareça tentador, Ribas Filho alerta que a dieta não é adequada para qualquer pessoa. “Existe uma série de contraindicações: insuficiência cardíaca, diabete tipo 1, transtorno bipolar, hipertireoidismo, insuficiência renal, depressão, cirrose, anorexia nervosa, bulimia nervosa, câncer, tuberculose ativa, uso prolongado de corticoide e gestação”.

No ano passado, a gerente de marketing Natália Magalhães, de 28 anos, engordou 13 quilos após se mudar do Rio para São Paulo. Com a orientação de uma endocrinologista, fez a dieta por três meses e conseguiu perder o peso que havia ganhado. “Essa era uma dieta que conseguia fazer trabalhando fora, porque tem restrição de carboidrato, mas em todo lugar você consegue encontrar os ingredientes que fazem parte da cetogênica. Sempre tem uma proteína com salada e, mesmo saindo com os amigos, conseguia pedir alguma coisa. Eu podia tomar um copo de vodca, porque era liberado, e não deixei de lado minha vida social”.

Natália conta que dribla a redução de carboidratos na alimentação pesquisando substituições e receitas saborosas com os ingredientes que estão liberados. “Descobri uma pizza com a massa de couve-flor com parmesão, tem uma panqueca fácil que faço de manhã antes de trabalhar, pãozinho de clara. A única coisa que morro de falta é batata”.

Procura
Clínicas e profissionais consultados pela reportagem afirmam que a busca pela dieta é crescente. O aumento da procura no último semestre triplicou, segundo a médica nutróloga especializada em emagrecimento e obesidade Liliane Oppermann. “A dieta cetogênica está fazendo muito sucesso porque as pessoas querem resultados rápidos. E quando falamos de dieta, que é diferente de reeducação alimentar, estamos focando os resultados. Uma vez com resultado rápido, a pessoa já está motivada a seguir as transformações necessárias para manter o peso”, explica.

Ione Leandro, nutricionista do departamento científico da Onodera, notou um aumento de 15% em relação ao ano passado. Os pacientes costumam ser pessoas que iniciaram o plano alimentar por conta própria e não se sentiram bem. “O ideal é ter um acompanhamento. Precisa ver altura, peso, objetivo, gasto calórico. A pessoa pode sentir cansaço e ter aumento do colesterol, há risco de problemas cardiovasculares e hiperglicemia e até depressão”.

Segundo Edson Ramuth, médico especializado em emagrecimento e estética da Emagrecentro e integrante da Sociedade Brasileira de Nutrologia, o acompanhamento da dieta inclui cuidados específicos. “Indicamos que a dieta cetogênica seja feita por até seis meses. Entre os cuidados está a reposição de substâncias como potássio, cálcio, magnésio, sal e vitaminas durante o tratamento. Também deve ser evitadas atividades físicas intensas”.

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