Com fim da pandemia à vista, Saúde fará guia para síndromes pós-Covid
Documento reunirá todas as ações realizadas no Ministério da Saúde sobre o tema, e servirá de guia para gestores estaduais e municipais
atualizado
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Covid longa, pós-aguda ou crônica. Estes são apenas alguns dos termos presentes na literatura para descrever a persistência de sintomas após a manifestação do coronavírus nos pacientes. O tema é uma das preocupações do Ministério da Saúde nesta fase da pandemia.
A pasta avalia o rebaixamento da emergência sanitária para o grau de endemia. O debate já é feito e será intensificado após o Carnaval, com expectativa de posicionamento nas próximas três ou quatro semanas.
A alteração será debatida com gestores estaduais e municipais, sob orientação também da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). É necessário, porém, avaliar o cenário epidemiológico depois das movimentações do feriado e possíveis entraves burocráticos, como a utilização de vacinas com registro para uso emergencial.
Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, a chefe da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 (Secovid) do Ministério da Saúde, Rosana Leite de Melo, afirmou que o ministério deve publicar, nos próximos dias, um guia que reúne todas as ações da pasta para o tratamento de síndromes pós-Covid.
“É uma diretriz. [O documento] vai compilar todas as ações que acontecem no Ministério da Saúde com relação ao pós-Covid. É um norte para entender e se atualizar do que está sendo feito”, explicou Rosana.
Na última semana, a pasta anunciou o repasse de R$ 160 milhões aos municípios e ao Distrito Federal para o reforço da assistência na Atenção Primária à Saúde (APS), com foco no tratamento de sintomas pós-Covid. Com o recurso, os gestores locais poderão contratar novos profissionais, construir espaços de tratamento e adquirir materiais.
Segundo a nota técnica nº60/2021 da Secovid, a maioria dos pacientes infectados pelo coronavírus apresentam melhoras após a fase aguda da doença. No entanto, dados do Ministério da Saúde apontam que entre 30 e 75% dos pacientes apresentam sintomas persistentes pós-Covid.
O quadro pode ter diversas manifestações, como respiratórias, neurológicas, psicopatológicas, cardiovasculares, gastrointestinais e renais. Pacientes que tiveram quadros mais graves da Covid podem desenvolver sintomas por um período mais longo, que pode ir de semanas ou meses após a doença.
Além da verba liberada na última semana, o Ministério da Saúde desenvolveu, em outubro de 2021, um curso de reabilitação de pacientes com condições pós-Covid, direcionado a profissionais da saúde.
“O curso se propõe a compreender as consequências e impactos da Covid-19, assim como reconhecer estratégias de reabilitação e orientações quanto às necessidades de intervenção aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) que se infectaram pela doença”, informou o órgão. O cadastro pode ser realizado até maio de 2022.
Segundo o Ministério da Saúde, existem atualmente 268 Centros Especializados em Reabilitação (CER) aptos para o enfrentamento de sintomas pós-Covid, distribuídos em todas regiões do Brasil.
Codificação dos casos
Segundo Rosana, quando a Secovid foi instituída no Ministério da Saúde, em julho de 2021, os gestores decidiram criar um grupo para analisar a evolução dos sintomas pós-Covid e definir estratégias para abordar o assunto. Até aquele momento, a pasta não trabalhava com maneiras de identificar as síndromes consequentes da doença.
“A pessoa ficou internada e precisa de uma reabilitação pulmonar, mas a causa foi a Covid. Você tem essa reabilitação pelo SUS, até no privado. Porém, entrava como reabilitação habitual, normal. A gente não saberia inferir se aquilo era pós-Covid. Então, fizemos uma codificação. A Classificação Internacional de Doenças [CID] corresponde a pós-Covid. A partir dessa codificação a gente consegue inferir qual é a real estatística em relação a isso. Sempre se fala: é subnotificado? Sim, é subnotificado. Primeiro porque não existia uma codificação, mas nós já temos”, explicou a secretária.
Apesar de contar com um código específico para diagnosticar a Covid longa, o Ministério da Saúde ainda não tem números exatos de quantos casos da síndrome o país já teve. Segundo Rosana, antes de numerar a quantidade atual de registros, é preciso reorganizar os dados computados antes da nova codificação.
Com as estatísticas, o governo poderá avaliar se há necessidade de abrir mais centros de reabilitação para pessoas atingidas pela Covid longa.
“Nós temos uma rede de reabilitação. A gente tá vendo a quantidade, [para avaliar] se é necessário ou não [ampliar o número de centros de reabilitação]. Até hoje não temos dados suficientes para falar que realmente aumentou a reabilitação, vamos autorizar mais alguns centros. Ainda não temos essa resposta, mas estamos em cima disso”, afirmou Rosana.