Câncer de pulmão: novo exame reduz diagnóstico de 3 meses para 17 dias
Tecnologia gratuita foi desenvolvida em parceria por três empresas farmacêuticas para acelerar identificação de subtipos da doença
atualizado
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* Enviada especial a São Paulo (SP) – Pela primeira vez no Brasil, três das maiores empresas farmacêuticas se unem por um objetivo comum: agilizar o diagnóstico preciso dos casos de câncer de pulmão. Hoje, cerca de 80% dos pacientes não fazem exame para definir se possuem a mutação EGFR, a translocação ALK ou a expressão do PD-L1. A identificação desses subtipos da doença é importante para o uso de terapias alvo, que atingem diretamente o câncer. Quando o paciente sabe exatamente seu tipo de mutação, pode receber medicação específica.
Segundo os especialistas, a quimioterapia é pouco usada no tratamento do câncer de pulmão. Eles comparam o procedimento a “um tiro de canhão para matar uma formiga.” Assim, as empresas AstraZeneca, Bristol-Myers Squibb e Pfizer decidiram criar um novo sistema, o Inspire, no qual o paciente não tem custo algum para fazer o exame de detecção dos subtipos da doença e descobrir, a partir do resultado, a melhor forma de tratá-la.Outra das vantagens da tecnologia é que, se antes era preciso se submeter a várias biópsias, o sistema exige apenas uma amostra. O médico cadastrado faz a solicitação do exame e recebe os resultados em 17 dias úteis. Tudo de graça.
É uma inciativa única no mundo. Começamos tentando entender o lado do paciente. Ele tem uma ‘jornada’ que também é emocional. Uma pessoa com, muitas vezes, 4% de chance de sobrevida em cinco anos ter que esperar três meses pelo diagnóstico é algo inaceitável. Unindo as forças, fazemos os testes simultaneamente e ganhamos tempo
Marcelo Horácio, diretor médico da AstraZeneca
O que mais mata
O câncer de pulmão é o mais frequente no mundo, e uma das maiores causas de morte por câncer em todo o planeta. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), até o final de 2017, aproximadamente 28 mil pessoas serão diagnosticadas com a doença no Brasil.
Com sintomas um tanto genéricos (tosse, falta de ar e dor no peito), é difícil detectar a doença no começo. E esse tipo de câncer é agressivo, não espera resultados de exames para se alastrar pelo corpo inteiro.
Segundo o médico Marcelo Cruz, oncologista da Northwestern University, nos Estados Unidos, o paciente que é tratado na rede privada espera, em média, quase três meses pelo diagnóstico. Quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS) pode ter que aguardar até um ano.
O tratamento rápido, com alguns dos remédios mais modernos do mercado, pode aumentar a sobrevida de um paciente estágio 4 (já avançado e com metástase) de 4% para 16% em cinco anos.
A cota de cada um
Cada uma das empresas desenvolveu uma parte do novo programa. O ID, da AstraZeneca, detecta EGFR; o I-O Detect, da BMS, o PD-L1 e o ALK ALvo, da Pfizer, o ALK. O médico agora pode pedir os três exames de uma só vez.
“O programa abrange qualquer paciente que tenha diagnóstico de câncer de pulmão. Fica a critério do médico determinar se quer os três testes. Os laboratórios já estão fazendo os exames. Estamos organizando o processo”, afirma o diretor médico da Pfizer, Eurico Correia. Ele diz que, hoje, a medicina procura não só aumentar a sobrevida mas também a qualidade de vida do paciente. No caso do câncer de pulmão, isto passa pelo diagnóstico preciso e precoce.
As três empresas atuam no desenvolvimento de drogas de combate ao câncer, e enxergam o Inspire como uma ferramenta para facilitar o acesso dos brasileiros ao tratamento. “Nosso grande foco hoje é a imuno oncologia. Para nós, que trabalhamos com pesquisa e desenvolvimento, não faz o menor sentido descobrir algo novo e que não possa ser usado corretamente pelo paciente”, destaca o diretor médico da BMS, Roger Miyake. “Esse tipo de programa faz com que nosso trabalho se torne realidade. É algo que nos dá muito prazer”, acrescenta.
Por enquanto, os exames só estão disponíveis para os casos de câncer de pulmão, mas a ideia é expandir o atendimento a outras variações da doença que contem com terapias alvo disponíveis para tratamento.
*A repórter viajou a convite de AZ, BMS e Pfizer