Veja quem era espião russo em embaixada, em Brasília, e o que fazia
Serguei Alexandrovitch Chumilov foi identificado pela Abin como espião russo. Ele fingia ser diplomata e sugeria intercâmbios a estudantes
atualizado
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O espião russo, identificado como Serguei Alexandrovitch Chumilov pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), se passava por diplomata da Embaixada da Rússia, em Brasília (DF). Shumilov chegou ao Brasil em 2018 para ocupar o posto de primeiro-secretário na repartição, de acordo com o Itamaraty. Além do posto, ele se dizia representante da Rossotrudnichestvo, agência federal russa que lida com “assuntos de colaboração com a comunidade de Estados independentes, compatriotas no estrangeiro e cooperação humanitária internacional”.
A agência faz parte do Ministério de Assuntos Exteriores da Rússia, comandado por Serguei Lavrov, que esteve no Brasil e se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em fevereiro deste ano.
Apesar de estar legalmente no país, Chumilov desempenhava atos de espionagem, com o objetivo de reunir informações sobre determinados setores ou temas do Brasil de interesse do serviço de inteligência russo do qual fazia parte. Serguei ainda buscava atrair brasileiros como informantes.
Segundo a Folha de São Paulo, que teve contato com funcionários do Ministério das Relações Exteriores e de outras áreas do governo, Serguei Chumilov deixou rastros na internet, com fotos, vídeos e postagens, de suas participações em eventos, a maioria on-line, de universidades brasileiras entre 2019 e 2022, o que indica as suas áreas de interesse.
Além disso, eram nesses eventos que o espião apresentava a estudantes e acadêmicos brasileiros oportunidades de bolsas de estudo e intercâmbio na Rússia.
Eventos de universidades brasileiras
Entre os eventos, Chumilov participou de uma palestra no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em 2021. O instituto é vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do governo de São Paulo e gerido pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
À Folha de S. Paulo Francisco Rondinelli, presidente da CNEN, disse desconhecer qualquer tentativa de cooptação do russo e argumentou que, nas estruturas do instituto, ele não teria acesso a informações estratégicas e sensíveis. “Ele pode ter feito o papel dele de fazer prospecção. O que posso falar com tranquilidade é que, em qualquer estrutura do Ipen ou da CNEN, ele não teria acesso a nenhuma atividade estratégica do país”, afirmou Rondinelli.
Em outubro de 2019, Chumilov compareceu a outro evento, dessa vez no Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde palestrou sobre o Brics, sistema de cooperação do qual Rússia e Brasil fazem parte, além de apresentar oportunidades de estudo no exterior.
Em setembro de 2021, o espião russo falou na palestra “Sistema nacional de inovação: o caso da Rússia”, em um evento do Programa de Pós-Graduação em Propriedade e Transparência de Tecnologia para Inovação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
A UFSC não respondeu ao contato da reportagem.
Em 2022, Chumilov participou de um evento virtual organizado por uma escola de idiomas, em que, assim como em outras ocasiões, ele se apresentou como representante da Casa Russa, vinculada à Rossotrudnichestvo, e deu detalhes dos custos de intercâmbio para estudos na Rússia.
Nesse mesmo ano, ele participou de evento no Diretório de Relações Internacionais do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), na capital federal. Em nota, o Ceub informou que “as atividades dos diretórios acadêmicos são realizadas de forma independente, sem qualquer tipo de envolvimento ou interferência institucional”.
Volta para a Rússia
Em julho de 2023, o governo russo pediu o retorno de Chumilov para o país. Os relatos obtidos pela Folha são de que, após a Abin descobrir sua real atividade, houve uma articulação diplomática para que o próprio país pedisse sua saída.
Nesses casos, é comum que esse procedimento seja realizado com discrição para evitar “constrangimentos diplomáticos”, segundo integrantes do Itamaraty.