metropoles.com

Saiba as questões mais comuns feitas ao tarô e aos astros na pandemia

Questões amorosas dividem mais espaço com as angústias da mudança de carreira e das buscas por emprego e autonomia em um país em crise

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Reprodução / Edição: Débora Sögur-Hous
São Paulo Horóscopo e Tarô Astrologia
1 de 1 São Paulo Horóscopo e Tarô Astrologia - Foto: Reprodução / Edição: Débora Sögur-Hous

São Paulo – As dúvidas sobre o amor não correspondido ainda dominam a mente dos que procuram respostas com profissionais das ciências ocultas. Mas, com a pandemia do novo coronavírus, as estrelas e as cartas têm se dedicado um pouco mais a outros setores da vida.

Metrópoles ouviu astrólogos e tarólogos que anunciam seus serviços pela internet, nas redes sociais e em postes nas ruas de São Paulo, capital, para saber o que vem angustiando seus consulentes. Por unanimidade: dinheiro e carreira.

Vou conseguir sustentar a minha família?
Quando isso vai passar?

Perguntas que chegam à cartomante Marisa de Oxum, no Viaduto do Chá
Marisa Alves, de Oxum, cartomante que atende desde os anos 80 no Viaduto do Chá, em São Paulo, capital
Marisa Alves, de Oxum, cartomante que atende desde os anos 1980 no Viaduto do Chá, em São Paulo, capital

Marisa Alves, conhecida como Marisa de Oxum, se apresenta como a mais antiga cartomante do Viaduto do Chá, região tradicional do centro da capital paulista.

Nascida sob o signo de Aquário em Teófilo Otoni (MG), atende desde 1983, quando jogou suas cartas pela primeira vez no centro de São Paulo, carregando um filho no ventre. A escolha por atender na famosa ponte não é por acaso.

“Ponte é passagem. As pessoas vêm aqui procurando uma mudança, procurando uma resposta. Mas às vezes a gente está tão agoniado que pensamentos negativos nos dominam. O que mais vi aqui foi gente pensando que se matar era a solução”, afirma Marisa.

Durante a pandemia, a situação que mais marcou a veterana foi um advogado que vislumbrou dar cabo na própria vida. “Era um homem muito fino, a gente percebe só pelo jeito de falar. Tinha muitos problemas, de relacionamento, de negócios e de saúde na família, tudo por causa da pandemia“, relata Marisa.

A cartomante conta que ofereceu ajuda, e até ficou “enrolando” um pouco o advogado. “Eu via que chegava para ele um fim (isso eu não contei para ele), com muito aprendizado (isso eu contei). O homem tinha quase dois metros, fiquei com medo de ele se jogar. Fiquei enrolando até aparecer a polícia, que então o levou.”

O público de Marisa, diz a cartomante, é majoritariamente mais velho, a partir de 45 anos, se distribuindo igualmente entre homens e mulheres trabalhadores do comércio da região — lojas, lanchonetes e mercados.

Normalmente, chegam à Marisa problemas amorosos e financeiros. No campo amoroso: separações, conquistas e impotência sexual; no financeiro, o foco é em dívidas e aposentadoria. Mas nos últimos tempos aumentou a demanda por questões relacionadas à busca de emprego.

“Consigo indenização? Abro um negócio? Volto a trabalhar quando? Está muito difícil para quem é mais velho e sem um serviço”, afirma ela.

Com 60 anos, a cartomante ainda não foi vacinada. Sob um guarda-sol, espera os poucos clientes de máscara e com um frasco de álcool em gel. Apesar de também atender por WhatsApp, Marisa diz gostar da rua, mesmo com a queda de movimento por conta da fase emergencial vigente em São Paulo.

Questionada se seus clientes procuram proteção contra o vírus, ela diz que procuram “proteção em geral”. “É para a Covid, para não ser assaltado, para os filhos não perderem o emprego.”

Ela alerta que não se pode dar sorte ao azar. “Tudo isso vai passar, mas é preciso enfrentar com a cabeça e com fé. Este momento é para a gente se acertar no caminho, não é para brigar com as leis do universo.”

Este é o momento propício para aquela mudança?
Vou conseguir minha autonomia?

Questões que chegam à taróloga Pam Ribeiro, a Bruxa Preta
Pam Ribeiro, a Bruxa Preta, faz sucesso nas redes sociais
Pam Ribeiro, a Bruxa Preta, faz sucesso nas redes sociais com uma abordagem decolonial

Pam Ribeiro, 28 anos, deixou o mundo da publicidade para se dedicar integralmente às cartas do tarô em 2019.

No Instagram, se apresenta como a Bruxa Preta, uma mística urbana, que atrai os muito jovens (homens e mulheres) e um público feminino bem informado, entre 25 e 35 anos. Pam também relata uma mudança de abordagens com a pandemia.

Os mais jovens permanecem buscando respostas sobre o amor não correspondido, mas as consulentes mulheres estão mais preocupadas em conquistar autonomia financeira e uma carreira mais gratificante.

“São mulheres muito fortes, com metas muito claras na carreira, e que buscam uma orientação para saber qual o melhor caminho para chegar aos seus objetivos”, afirma a taróloga Pam Ribeiro.

“Mesmo nas questões amorosas, as consulentes almejam consistência. Vale a pena se dedicar a esta pessoa ou vou perder tempo que eu poderia estar investindo nos meus sonhos?”, finaliza.

Durante a pandemia, a taróloga ficou marcada pela lembrança de ter atendido mãe e filha. A mulher mais velha buscava uma mudança na carreira, no momento em que a filha saía de casa. Já a filha estava ansiosa para dar seus passos em busca de independência, sem a presença da mãe, em outra cidade de outro estado.

“Foi incrível acompanhar a progressão das duas sob diferentes perspectivas e saber que deu tudo certo, apesar do momento que estamos passando”, declara Pam.

A taróloga também destaca que seu público “definitivamente não tem perfil negacionista“.

“Não menosprezam o vírus ou a ciência tradicional. Pelo contrário, valorizam muito. Meu trabalho está no terreno da espiritualidade. Basta observar o discurso dos negacionistas, eles mentem em nome de uma suposta ciência usada para fins políticos”, finaliza Pam.

A busca por respostas

São inúmeros os estudos científicos que já comprovaram que a astrologia e outras práticas divinatórias não demonstram relação de causa e efeito, não são reproduzíveis e estatisticamente consistentes. Corre contra a astrologia, por exemplo, o fato de que um mapa astral ignora a disposição real das constelações no universo.

Então por que tantas pessoas, mesmo as mais escolarizadas, recorrem ao ocultismo para a busca por respostas? Para Michael Shermer, entusiasta do ceticismo nas universidades americanas, isso ocorre para satisfazer as inquietações que não são respondidas e aliviadas pela ciência, pela política e pela economia.

Shermer trabalhou essa relação entre o apelo de fenômenos paranormais e das pseudociências sobre a população por quase duas décadas em sua coluna na revista Scientific American.

Para Shermer, a astrologia funciona pelo efeito do viés de confirmação, isto é, da nossa capacidade de interpretarmos informações de maneira a confirmar nossas hipóteses iniciais. “É uma maneira de não sofrer por assumir a responsabilidade sobre os próprios atos, mas delegar essa responsabilidade a uma entidade sobrenatural como a força do destino.”

O tarô, estatisticamente, é tão aleatório quanto os números da loteria, mas pode ser uma boa ferramenta de autoanálise. De acordo com a pesquisadora Inna Semetsky, da Universidade de Columbia, a força do tarô está na capacidade do consulente em crise de encaixar sua angústia na narrativa gerada pelas cartas e encontrar ali uma solução.

“O teste de Rorschach [aquele em que vemos figuras em manchas]  e o jogo de areia de Jung fornecem uma estrutura compatível para analisar o fenômeno da prática do tarô como uma ferramenta de aconselhamento que pode cumprir algumas tarefas de avaliação clinicamente relevantes”, afirma Semetsky em artigo.

Segundo a pesquisadora, ao observar a interação entre consulentes e cartas, ela notou que mesmo as cartas que traziam perspectivas negativas tinham um efeito terapêutico de identificação de fraquezas e superação de problemas.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?