RS: com prevenção, impacto poderia ser menor, dizem especialistas
Segundo especialista de política climática, tragédia no Rio Grande do Sul poderia ter sido mitigada, e modelos precisam ser aprimorados
atualizado
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A tragédia provocada pelas chuvas no Rio Grande do Sul expõe a necessidade de encontrar novas formas de prevenção a desastres provocados pelas mudanças climáticas, passando pelo investimento mais robusto na ciência. É o que acredita Walter De Simoni, líder especialista de política climática do Instituto Clima e Sociedade.
Em entrevista ao Metrópoles, De Simoni afirma que o impacto no estado gaúcho poderia ter sido menor. “Essa tragédia poderia certamente ter sido mitigada, tanto em termos de perda de vidas como em termos de perda de bens materiais, com uma estratégia mais estruturada de adaptação”, disse.
“Já sabemos há algum tempo que acontecimentos assim se tornarão cada vez mais frequentes e intensos. Então, já poderíamos ter feito investimentos, ter instituído procedimentos locais em parceria com níveis nacionais, com uma cooperação federativa para poder lidar com esses momentos de emergência”.
Segundo De Simoni, é preciso uma “nova governança interfederativa”, entre os governos federal, estadual e municipais para contemplar todas as etapas do planejamento até a execução, para “reagir em momentos de crise e de emergências climáticas”.
“A nossa melhor aposta é, sem dúvidas, no aprimoramento desses modelos, e em aproximar os tomadores de decisões e os formuladores de políticas públicas destas informações. Precisamos investir na ciência”, ressaltou.
“Vamos ter de trazer muita gente para entender quais são as soluções que precisamos construir, porque essas soluções não estão dadas. Elas não são óbvias e cada lugar vai ter de criar as suas próprias, sob medida”, completou.
Outro ponto relevante será a captação de investidores externos para reforçar essas políticas e pensar com mais precisão para onde irão esses recursos.
“Temos de entender como aproveitar investimentos que vão ser feitos, como, por exemplo, os investimentos do PAC [Programa de Aceleração ao Crescimento] ou de bancos de desenvolvimento regionais, e assegurar que eles passarão por um filtro, por uma leitura de adaptação e resiliência. É imperativo que qualquer dinheiro público gasto em novas infraestruturas leve em consideração a questão da adaptação em resiliência, para que as novas estruturas não coloquem ninguém em lugares e situações de risco e para que sejam duradouras no longo prazo”.
Prevenção é prioridade
Em conversa com jornalistas na última semana, o ministro das Cidades, Jader Filho, disse que episódios como o do Rio Grande do Sul fazem parte do “novo normal”.
“Prevenção tem que ser uma prioridade. Não dá para passar tantos anos onde a prevenção não é uma prioridade nesse país, esse é o novo normal”, afirmou. “Toda a infraestrutura que estava ali no Rio Grande do Sul era para uma realidade. Essa realidade é outra hoje em dia”, completou.
Secretários da pasta falaram que o eixo de prevenção a desastres naturais previsto pelo PAC não bastaria para prevenir essa tragédia, já que o enfoque dessa área temática era em encostas. Poucos municípios do Rio Grande do Sul possuem, atualmente, problemas com encostas. No momento, a maior questão no estado é a drenagem, oposto ao que havia sido previsto até o ano passado.
“Quando a gente fez o mapeamento rural, o grande problema era o inverso, era a falta de água, municípios com estiagem longa. Na seleção do saneamento rural, o principal não era excesso de água, mas falta de água, para terem noção do quanto o evento foi surpreendente”, afirmou Leonardo Picciani, secretário nacional de saneamento.