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Roubos de cabos provocaram 233 horas de atraso nos trens do Rio

Número de cabos roubados em 2021 é 126% maior que o do ano passado. Passageiros e concessionária pedem mais fiscalização do poder público

atualizado

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Furtos de cabos na Supervia
1 de 1 Furtos de cabos na Supervia - Foto: Divulgação/Supervia

Rio de Janeiro – Nos últimos dias, os passageiros de trens do Rio de Janeiro vêm enfrentando problemas na ida ao trabalho e na volta para casa por causa desses furtos de cabos e grampos de fixação do sistema ferroviário. Só nesta semana, o ramal Japeri, que liga o centro do Rio aos municípios da Baixada Fluminense, passando pela zona norte, precisou ter a circulação suspensa três vezes, em horários de grande circulação de pessoas – o “horário do rush“.

Mas esses não foram episódios isolados. No primeiro semestre deste ano, os furtos de cabos de sinalização e energia causaram um atraso de 233 horas nos trens. O dado foi fornecido ao Metrópoles por Marcelo Feitoza, diretor de operações da SuperVia, concessionária que administra os trens no estado.

Só nos seis primeiros meses de 2021, foram registrados 364 roubos de cabos de energia e de sinalização no sistema, quase seis vezes mais do que no mesmo período de 2020, quando 66 ocorrências foram contabilizadas. Além disso, mais de 14 mil metros de fios já foram roubados, cerca de 126% a mais do que o número de todo o ano passado – 6.174 metros. O prejuízo à concessionária já passa de R$ 1 milhão.

“O que tem nos afetado gravemente é a violência contra o sistema de sinalização ferroviária, que não nos permite colocar mais trens e mais velocidade no sistema com segurança. Somente neste ano, até hoje, gastamos mais de R$ 1 milhão para reparar longos trechos da ferrovia danificados por furtos de cabos de sinalização”, diz Feitoza.

Segundo ele, esse impacto financeiro é muito relevante para a concessionária, principalmente neste período de pandemia, em que a receita sofreu uma grande redução como consequência da queda na quantidade de passageiros pela metade. “Enquanto isso, os gastos com a operação permanecem. Essa verba, que poderíamos colocar em melhoria do sistema, estamos tendo que empregar na recuperação dos danos causados por esses crimes”, completa.

As estações mais afetadas entre janeiro e junho foram Japeri, Engenheiro Pedreira, Queimados, Comendador Soares e Bangu. Com exceção da última, todas integram o ramal Japeri.

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No primeiro semestre de 2021, mais de 14 mil metros de cabos foram furtados
Número é 126% maior que o registrado no ano passado inteiro
Prejuízo já passa de R$ 1 milhão, segundo a concessionária
Material é levado para ferros-velhos e, depois, revendido
Para o especialista em segurança pública Paulo Storani, a fiscalização deve ser intensificada, principalmente no lado dos receptadores
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Roubos de cabos têm sido mais frequentes na rotina dos passageiros da SuperVia

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No primeiro semestre de 2021, mais de 14 mil metros de cabos foram furtados

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Número é 126% maior que o registrado no ano passado inteiro

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Prejuízo já passa de R$ 1 milhão, segundo a concessionária

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Material é levado para ferros-velhos e, depois, revendido

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Para o especialista em segurança pública Paulo Storani, a fiscalização deve ser intensificada, principalmente no lado dos receptadores

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“Perrengues”

No entanto, mais afetados do que as estações são os próprios passageiros. A estudante Flávia Messeder, 30 anos, foi uma das passageiras que passou por problemas nesta semana. Na segunda-feira (30/8), ela voltava do trabalho, no centro da cidade, e ao chegar à estação Central do Brasil, ouviu: “circulação do ramal Japeri encontra-se suspensa”. Diante disso, ela precisou pegar um ônibus para voltar para casa, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

“Fui para um terminal que tem fora da Central e peguei um ônibus que vai para Cabuçu [bairro de Nova Iguaçu]. Ele passa em frente à minha rua e saiu cheio, acredito que por causa desse transtorno do trem. Entrei na Central às 16h35 e cheguei em casa às 19h, normalmente chego 18h”, disse ao Metrópoles.

Na semana passada, o irmão da estudante também enfrentou problemas na volta para casa. Ele retornava do trabalho, em São Cristóvão, na zona norte, e precisou recorrer ao transporte por aplicativo para seguir viagem.

“Ele pega o Japeri na estação São Cristóvão e desce em Nova Iguaçu, mas suspenderam as viagens do ramal e ele precisou ir para outro, em Madureira [também na zona norte]. Lá, ele foi para uma fila tentar pegar uma van, até que se juntou a um grupo de pessoas que optaram por compartilhar uma viagem de Uber”, explicou.

“Vivo atrasada! A gente chega na estação, às vezes os intervalos estão irregulares e eles dizem que é por causa de roubo de cabos. Quando o trem vem de Japeri, já chega cheio, porque as pessoas já estavam esperando. E é assim pelo restante do trajeto. Os problemas existem, só vão variando”, diz Flávia.

O mesmo acontece com Thayná Tavares, 24 anos, estudante de nutrição. Mãe de um bebê, ela conta que precisa acordar mais cedo para arrumar a criança e ainda se atrasa para o trabalho devido aos intervalos irregulares das composições. “Além de uma mãe ser mal vista perante a sociedade por ter que faltar trabalho pelos filhos, ainda temos que passar por isso. Meus atrasos começaram a ser frequentes, e, claro, nenhuma empresa quer ter empregado alguém que, além de todo o esforço, ainda chega atrasado”, desabafa.

Moradora de Paracambi, também na Baixada Fluminense, a jornalista Caroline Belo, 23 anos, lembra que já ficou mais de uma hora parada em um trem por causa de problemas no sistema. Ela utilizava o transporte para ir e voltar da faculdade.

“O que mais acontecia eram problemas técnicos, tanto por roubo de cabo quanto de energia, algo do trem que eles tinham que consertar. Teve uma vez que fiquei mais de uma hora esperando alguma coisinha que eles estavam ajeitando”, relembra.

Marcelo Feitoza argumenta que os furtos fazem com que o sistema precise ser operado manualmente, o que desregula os horários dos trens.

“A ausência de um cabo de sinalização nos obriga a fazer a circulação não mais com sinais automaticamente, mas usando rádios de comunicação. E isso nos impede de colocarmos todos os trens no sistema, mesmo tendo esses trens disponíveis, e ainda temos que reduzir velocidade”, justifica.

Nova modalidade criminosa

Especialista em segurança pública e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Paulo Storani explica que o roubo de cabos, feitos de cobre, só acontece porque há alguém para receber o produto do crime, sendo o furto em si apenas uma das etapas do esquema.

“Existe um mercado de compra de material, que tem a ver muito com ferro-velho, com pessoas que tem a capacidade de processar e revender posteriormente. Portanto, quando ocorre, é porque existe um destinatário. A fiscalização ainda é precária no lado de quem recebe esse equipamento. Assim, o sistema se amplia em razão da oportunidade do delito e da falta de efetiva fiscalização”, ressalta.

Prisões em flagrante no sistema ferroviário são realizadas pelo Grupamento de Policiamento Ferroviário da Polícia Militar. De acordo com o órgão, no primeiro semestre de 2021, 97 pessoas foram presas em flagrante por furto de cabos e danos à SuperVia, um aumento de 59% em relação ao mesmo período de 2020. 

Apesar disso, Storani ressaltou que a fiscalização precisa ser mais efetiva por parte da concessionária e do poder público.

“É preciso uma fiscalização da própria SuperVia, além de uma atenção por parte da Polícia Militar, que, mesmo com precariedade do efetivo empregado para atender uma demanda cada vez mais crescente, precisa ‘tomar conta’ dos cabos da SuperVia, por causa de um furto que aumenta”, reforçou.

A SuperVia informou que registra os casos de roubos de cabos à Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), da Polícia Civil, órgão que, de acordo com o especialista, precisa apurar e punir os criminosos que integram o esquema com efetividade.

“Uma boa investigação, ao identificar os criminosos, que normalmente integram uma quadrilha, pode fazer com que os índices diminuam, o que normalmente ocorre depois que um grupo específico é preso. […] Sem punição, a tendência é que qualquer delito aumente exponencialmente por conta da facilidade e da incapacidade de o Estado identificar e penalizar”, explica.

Marcelo Feitoza reforçou que a situação é recorrente e pede maior atenção do poder público para a diminuição das ocorrências.

“Temos mantido diálogo constante com os órgãos de segurança responsáveis pelo combate a esses delitos, como furtos de cabos de energia, de sinalização e até mesmo dos grampos usados na fixação dos trilhos. […] Esses crimes têm gerado impactos graves na performance dos trens. Para garantir que a operação transcorra com segurança e níveis melhores de atendimento, mobilizamos muitas pessoas e vários setores da SuperVia. Estamos sofrendo ataques contínuos. Contamos com o poder público para nos ajudar a reprimir esses furtos em sequência que têm levado nossas equipes ao limite e tanto prejudicam nossos passageiros”, esclareceu.

Outro lado

Nessa quarta-feira (1º/9), o Governo do Estado do Rio de Janeiro criou uma força-tarefa para coibir atos de vandalismo e furtos de cabos no sistema ferroviário. Integram o grupo as secretarias de Transportes, de Polícia Civil, de Polícia Militar e da Casa Civil. O efetivo de policiais militares foi reforçado, e as fiscalizações na malha ferroviária e em ferros-velhos contarão com 200 agentes. O estado também pretende construir muros e passarelas para melhorar a infraestrutura e impedir o acesso de criminosos às dependências da SuperVia.

Em nota, a Secretaria de Estado de Transportes declarou que “cabe à Agência Reguladora (Agetransp) a fiscalização da operação dos transportes” e que “tem buscado alinhamento e apoio das polícias Militar e Civil diante dos episódios recorrentes de segurança pública (como furto de cabos e de grampos)”. Disse também que realiza “reuniões periódicas com representantes desses órgãos e da SuperVia para encontrar soluções para reduzir esses casos”.

A Polícia Militar informou que “o Grupamento de Policiamento Ferroviário (GPFer) atua em toda a malha ferroviária fluminense em seus mais de 270 quilômetros, uma área de policiamento composta por mais de 100 estações de passageiros distribuídas em 12 municípios do Estado do Rio, onde o GPFer trabalha para coibir ações criminosas”. Reforçou que “na maioria absoluta das vezes, os conduzidos [presos] são postos em liberdade logo após as audiências de custódia, tornando assim a reincidência dos crimes linear diante da certeza de impunidade” e que “tais crimes demandam atividade investigativa para que os envolvidos sejam identificados e presos, tanto aqueles que praticam os delitos quanto, e principalmente, os receptadores do material”.

A Polícia Civil comunicou que “vem realizando investigações e prisões do ferro-velho ao receptador, chegando inclusive ao consumidor final, reprimindo, assim, todo o ciclo envolvido na receptação de materiais furtados e roubados” e que “as investigações estão em andamento em diferentes unidades da instituição, como a Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) e a Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) e unidades distritais”. A corporação relembrou a Operação Caminho do Cobre, deflagrada há dois meses, que terminou com oito presos em flagrante, cinco empresas de reciclagem fechadas e toneladas de cabos de telefonia e de internet, trilhos de trem e outros materiais da SuperVia apreendidos.

Também na quarta, a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) aprovou um projeto de lei que concentra os registros de furtos de cabos na Delegacia de Serviços Delegados (DDSD). O PL agora depende de sanção ou veto do governador Cláudio Castro.

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