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Rotina de assédio na rua e no transporte público abala mulheres

Pesquisa aponta que elas são o grupo mais vulnerável em deslocamentos pelas cidades. Maioria muda caminhos em vez de fazer denúncia formal

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Mulher ônibus
1 de 1 Mulher ônibus - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Entre os desafios da mobilidade urbana, está garantir a segurança dos cidadãos. Pesquisa dos Institutos Locomotiva e Patrícia Galvão, com apoio da ONU Mulheres e da Uber, mostra que as mulheres são percebidas como o grupo mais vulnerável em deslocamentos pela cidade. Em seguida, estão homossexuais e trans.

“[Esses dados] confirmam a noção empírica que já tínhamos de que as mulheres não apenas se sentem mais inseguras como também são de fato mais vulneráveis a sofrer violências no deslocamento urbano”, explica Jacira Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão.

Nos transportes públicos, o maior medo das mulheres é sofrer preconceito/discriminação (40%) ou receber olhares insistentes e cantadas inconvenientes (39%). Ser atropelada ou sofrer acidente de trânsito é o medo menos apontado entre elas – e mesmo assim o percentual é alto (30%).

Em deslocamentos a pé, o temor mais frequente relatado por mulheres negras é de sofrer racismo (43%). Cerca de 67% desse público já passou por situações de racismo enquanto caminhavam. A pesquisa foi feita com 2.017 maiores de 18 anos de todo o país.

Pesquisa mostra insegurança de mulheres no deslocamento
Situações que mulheres passam ao se deslocarem
“Só consegui chorar quando cheguei em casa”

Thamara Nichelle, 23, se considera sortuda por não ter passado por muitas situações de assédio na vida. Bastou uma, contudo, para marcá-la para a vida toda. Em 2018, voltando para casa no ônibus lotado depois da aula, ela foi encoxada. 

“Não era uma coisa assim de ‘Ah, foi sem querer’”, explica. “Dei uma travada. Só estava contando os minutos pra chegar no terminal e aquele cara sair de trás de mim. Só consegui chorar quando cheguei em casa.” Desde então, ela elabora todo tipo de estratégia para evitar horários de pico no transporte público, como esperar até duas horas para pegar linhas alternativas.

Situações de assédio e importunação sexual marcaram a vida de Jennifer Cristine, 27 anos. Na primeira, ela tinha apenas 11 anos e brincava na rua quando foi abordada por um desconhecido. Diante de uma pergunta indecente, ela não teve reação. Esperou que ele se afastasse e saiu correndo e chorando para a mãe.

“Por diversas vezes fui abusada dentro de ônibus e metrô. Nunca consegui me defender”, conta Jennifer. “Sempre tive medo de sair como louca ou mentirosa e ficar por isso mesmo. Homens que se esfregavam ao ponto de eu sentir o membro deles, outros que passavam a mão, e a minha única reação era descer em uma parada que na maioria das vezes não era a minha.”

Jennifer nunca teve coragem de fazer uma denúncia formal contra os abusadores. Quando as importunações acontecem, ela conta para pessoas próximas, que a incentivam a seguir em frente, mas o medo de “ser só mais uma” paralisa. “É como se nós mulheres estivéssemos expostas em uma vitrine, um sentimento muito ruim”.

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77% sentem mais medo de sair de casa após pandemia
Denúncia às cegas

O medo sentido por Jennifer é retrato fiel do cenário descrito pela pesquisa. O temor de ser importunada, presente desde cedo na vida das mulheres, se agrava com o sentimento de impunidade dos assediadores.

Entre os principais obstáculos para enfrentar esse cenário, Jacira Melo salienta: “A vítima achar que não vale a pena denunciar porque não vão acreditar nela, não vai acontecer nada com o agressor, além de não encontrar canais de denúncia e acolhimento”.

Dois terços das mulheres entrevistadas mudam o comportamento, como caminhos e rotinas, depois dos acontecimentos. Apenas 38% relatam ter procurado a polícia, e 24% não contam para ninguém. “É importante que se trabalhe para desnaturalizar esse tipo de violência que assombra o cotidiano das mulheres”, reforça Jacira.

A diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão explica as medidas para combater esse quadro. Elas passam por informação, capacitação de funcionários e criação de mecanismos que punam os infratores de forma exemplar: “Esse tipo de comportamento não pode ser tolerado por ninguém: nem pela vítima e nem por quem presencia”.

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