Rodovias do Brasil pioram, e pontos críticos aumentam 118%
Pesquisa CNT avaliou 109.103 km e revelou problemas em mais da metade da malha viária do país. As rodovias públicas estão piores
atualizado
Compartilhar notícia
A malha viária pavimentada brasileira tem problemas de sinalização e de traçado, além de buracos e irregularidades. A situação das rodovias, que já era ruim em 2019, piorou no ano de 2021. De acordo com pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), hoje, 61,8% das pistas federais e estaduais são consideradas regulares, ruins ou péssimas. No último levantamento, a avaliação do estado geral das rodovias já ultrapassava a metade da malha investigada, com 59% de avaliação negativa.
Se forem observados os pontos críticos, o resultado é alarmante: em dois anos, eles aumentaram de 797 para 1.739, um acréscimo de 118% de problemas, erosões, buracos, que pegam os motoristas de surpresa. Entre eles, 1.363 trechos com buracos maiores que um pneu.
Entre as 61,8% que entraram nos critérios de rodovias problemáticas, 91% são públicas. O ponto mais criticado é o traçado da via, ou seja, curvas perigosas, vias simples que acabam gerando acidentes em ultrapassagens. No quesito geometria, 62,1% das vias têm algum tipo de problema. A sinalização também é ruim. Pela pesquisa, 58,9% das placas, das faixas e dos sinais são considerados regulares, ruins ou péssimos.
Quando se trata do asfalto em si, 52,2% da extensão analisada tem problemas; 47,8% estão em condição satisfatória; e 0,5% está com o pavimento totalmente destruído.
Gestão pública x privada
Na comparação com a edição anterior do levantamento, as rodovias públicas apresentaram o maior grau de problemas. O estado geral na classificação ótimo e bom caiu de 32,5%, em 2019, para 28,2%, em 2021. Na classificação negativa, a extensão avaliada como regular, ruim e péssima aumentou de 67,5%, em 2019, para 71,8% em 2021, ou seja, são mais 2.773 km de rodovias que estão em condições insatisfatórias de circulação.
Na prática, segundo comparação feita pelos pesquisadores da CNT, é “como se o motorista percorresse seis vezes, nessas más condições, o trecho do Rio de Janeiro a São Paulo”, diz o texto da pesquisa apresentada.
Ainda de acordo com os analistas, os anos de investimentos bem-sucedidos feitos pelo governo federal parecem ter chegado ao fim: “A qualidade da sinalização das rodovias mantidas pela União em 2021 (64,7% da extensão com problemas) voltou ao mesmo nível de 2014 (63,1% com problemas)”, constata a pesquisa.
Quando se trata das rodovias concedidas à iniciativa privada, o estado geral da malha rodoviária concedida em 2021 se manteve praticamente como em 2019. A avaliação do trecho avaliado como ótimo e bom foi de 74,2% este ano. Em 2019, esse percentual tinha sido de 74,7%. O mesmo se deu com essa composição da extensão de rodovia identificada como regular, ruim e péssima. Em 2019, os problemas representavam 25,3% da malha pesquisada, e, em 2021, são 25,8%.
Investimento
As críticas ao volume de investimentos são baseadas na percepção da tendência de redução tanto nos valores totais quanto no montante investido por quilômetro.
Segundo a pesquisa, o investimento médio, entre 2016 e 2020, foi de R$ 7,16 bilhões por parte das concessionárias e de R$ 8,90 bilhões pelo governo federal. Ao se ponderar esses valores pela extensão da malha pavimentada gerida, o cenário se inverte. O investimento por quilômetro privado é superior ao público federal. A média investida nas vias de concessão foi de R$ 381,04 mil, contra cerca de R$ 162,92 mil nas rodovias federais sob gestão pública.
Para 2021, considerando que todo o investimento autorizado no orçamento federal seja executado, o montante de recursos para obras em rodovias será de R$ 5,80 bilhões, o que implica um gasto médio de R$ 108,97 mil por quilômetro. Assim, em ambos os casos, os valores para rodovias públicas federais estão abaixo das suas respectivas médias nesse período.
A pesquisa
Os resultados fazem parte da 24ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, divulgada pela Confederação Nacional do Transporte e pelo Sest/Senat nesta quinta-feira (2/11). Ao todo, foram avaliados 109.103 quilômetros de rodovias pavimentadas federais e estaduais.
Foram estudadas pelos pesquisadores três características: pavimento, sinalização e geometria da via. Elas levaram em conta variáveis como condições do pavimento, placas e alguns elementos da via, como as curvas. Tais aspectos recebem classificações que vão desde ótimo e bom a regular, ruim e péssimo.
Nesta edição, as cinco regiões do Brasil foram percorridas, durante 30 dias (28 de junho a 27 de julho), por 21 equipes de pesquisadores. O resultado passa a integrar a maior série histórica de informações rodoviárias do país coletada pela CNT desde 1995.