RJ: mortes, tiroteios e assaltos alavancam violência na Tijuca
Em março, um farmacêutico foi morto em um assalto e um engenheiro assassinado com 20 facadas. Nesta semana, foram dois tiroteios em 48 horas
atualizado
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Rio de Janeiro – Pouco depois das 19h daquela quinta-feira, 10 de fevereiro, a servidora pública Carla Murari, de 54 anos, o marido Leonardo Mira, de 44 anos, e a filha, de 8 anos, seguiam no carro da família pela movimentada Avenida Maracanã, no bairro da Tijuca, na zona norte, quando acabaram na rota de tiros disparados por assaltantes. Os criminosos tentavam roubar um outro veículo perto dali.
Vídeo. Tentativa de roubo termina em intenso tiroteio na Tijuca
Uma bala atingiu o Fiat Stilo do casal que escapou por pouco de ser ferido. “O tiro pegou no vidro traseiro, passou perto do meu rosto e pelo cinto de segurança do meu marido, atingiu o para-brisa. Não sei como não fomos feridos. Minha filha ficou traumatizada. Outro carro também foi atingido por tiro”, conta Carla.
O episódio exemplifica uma alta nos índices de violência da Tijuca, marcada por tiroteios, roubos e mortes nas ruas deste tradicional bairro residencial da zona norte carioca.
Em março, dois casos marcantes foram registrados na região: o engenheiro Gabriel Barbosa Leite, de 34 anos, foi morto com 20 facadas, enquanto o farmacêutico Carlos Alexandre Rezende, de 40 anos, acabou assassinado com um tiro na cabeça.
Bandidos levaram o Jeep Renegade de Rezende, carro na lista dos mais roubados em 2021 com 35 registros nas três delegacias da região.
Na semana passada, houve dois tiroteios em 48 horas na Tijuca, um bairro cercado por seis favelas dominadas por traficantes, apesar da presença de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e do programa Segurança Presente nas ruas. Em janeiro, foram cinco tiroteios, segundo monitoramento da plataforma Fogo Cruzado.
O caso da família de Carla Murari não entrou na estatística da polícia. “Fomos à 19ª DP (Tijuca) e bem atendidos, mas como não tinha como identificar o autor e o seguro paga o vidro, não registramos a ocorrência. Os policiais disseram que demos sorte. Ficaram as marcas da violência. Minha filha quando passa pelo local abaixa a cabeça”, diz Carla.
Roubos de carros
Entre janeiro e fevereiro deste ano, o número de roubos nas ruas da Tijuca chegou a 615 casos – um aumento de 10.8% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP).
Um indicador tratado como estratégico pela política de segurança pública é o roubo de veículos. Nos dois primeiros meses de 2022, o número chegou a 120 – um crescimento de 30.4% comparado ao mesmo período do ano passado.
“Estamos com medo de sair de casa. Do alto do meu apartamento, sempre escuto ‘pega ladrão’ e vejo roubos a pessoas na rua”, afirma Mônica Hillas, de 54 anos, administradora de empresa que vem mobilizando outros moradores do bairro para denunciar a escala da violência.
Ação de quadrilhas
Para o delegado da 19ª (Tijuca), Gabriel Ferrando, unidade que cobre a maior parte do bairro, o aumento nos índices de violência estão relacionados à redução da pandemia, que permitiu a volta da rotina das pessoas nas ruas, e a ação de quadrilhas de roubos de veículos para adulteração e venda dos carros.
“Trocamos informações de inteligência 24 horas com o batalhão. Mapeamos as quadrilhas, fizemos prisões importantes como a do Thiago Fernandes Virtuoso, o Tio Comel, em janeiro, chefe de bando de roubo de carros. Estamos atuados em cima dos receptadores”, pontua o delegado.
Tio Comel era considerado o maior ladrão de veículos do Rio.
Ferrando lembrou que o assassino do engenheiro Gabriel Barbosa Leite foi preso e, em breve, haverá resposta para o assassinato do farmacêutico.
“Já pedimos a prisão dos responsáveis pelos tiroteios de segunda-feira (28/3) e quarta-feira (30/3). Agora, é preciso alertar que falsas notícias colocadas em grupos do bairro aumentam a sensação de insegurança”, pondera o policial.
Instalação de 54 câmeras
Para fechar o cerco aos criminosos, o comandante do 6º BPM (Tijuca), Eduardo Costa, informou que 54 câmeras de segurança serão instaladas em pontos estratégicos do bairro no prazo máximo de três meses.
“Com o auxílio de inteligência artificial, vamos saber pelo monitoramento, por exemplo, quais carros circularam próximos a locais de roubos e tiroteios, o que vai ajudar e muito nas investigações e montagem de blitze. Acompanhamos as manchas criminais e reforçamos o policiamento nas ruas das 16h à meia-noite”, anuncia o oficial.
De acordo com o comandante do batalhão, na quarta-feira, o tiroteio foi provocado por bandidos em um Ecosport azul que tentavam roubar carros.
“Com a troca de informações com as delegacias, fizemos o cerco. Os criminosos eram de Lins de Vasconcelos, outro bairro da zona norte. Houve perseguição e recuperamos um veículo”, conclui o comandante.