RJ: Justiça mantém prisão de filha acusada de roubar R$ 725 mi da mãe
Entre janeiro de 2020 e abril de 2021, Geneviève foi ameaçada de morte, inclusive com faca no pescoço, e maltratada por Sabine
atualizado
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O Tribunal da Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) manteve a prisão temporária de Sabine Boghici (foto em destaque), filha da idosa vítima de um golpe milionário, e das falsas videntes Rosa Stanesco Nicolau e Jacqueline Stanescos Gouveia. A Justiça também manteve a prisão do filho de Rosa, Gabriel Nicolau.
Os juízes Rachel Assad Cunha, Ariadne Villela Lopes, Mariana Tavares Shu e Pedro Ivo Martins Caruso D’Ippolito consideraram que as prisões temporárias, expedidas pela 23ª Vara Criminal da Comarca da Capital, estão regulares.
Sabine Coll Boghici é filha do marchand Jean Boghici, falecido no Rio de Janeiro em 2015, e de Geneviève Rose Marie Coll Boghici, 82 anos. Ela e as comparsas são acusadas de dar golpe na mãe idosa, que morava na Zona Sul do Rio de Janeiro. Segundo a Polícia Civil, o bando roubou cerca de R$ 725 milhões — entre obras de artes, joias e dinheiro — de Geneviève .
Cárcere privado e ameaças
De acordo com as investigações e a denúncia da própria idosa à polícia, Sabine Boghici articulou um plano para tirar dinheiro da mãe usando falsas videntes.
Segundo o depoimento da idosa à polícia, em janeiro de 2020, após sair de sua agência bancária, ela foi abordada por uma mulher, que se apresentou como vidente Diana. A suspeita teria lhe informado que a filha da francesa estava doente e morreria em breve. A vítima seguiu com a golpista até o apartamento onde mora, em Copacabana. No local, a suposta vidente jogou búzios e “confirmou o evento trágico”.
A partir daí, a vítima foi persuadida a providenciar imediatamente o pagamento para “salvar” a vida da filha. Assim, diante das previsões anunciadas pelas videntes e considerando os problemas psicológicos enfrentados há muitos anos por Sabine, a idosa resolveu fazer o tratamento espiritual e concordou em efetuar os pagamentos solicitados, que se iniciaram em 22 de janeiro de 2020 e se estenderam até 5 de fevereiro de 2020.
Após duas semanas fazendo transferências bancárias milionárias, Geneviève foi presa dentro de casa. Com o pretexto da pandemia da Covid-19, Sabine dispensou os funcionários que trabalhavam para a mãe, passou a controlar os telefones e a impediu de sair de casa.
Entre janeiro de 2020 e abril de 2021, a idosa foi ameaçada de morte, por vezes com uma faca em seu pescoço, e mal alimentada pela filha. De acordo com o delegado, Geneviève conseguiu fugir em 7 de abril de 2021, após ser deixada sozinha em casa. A idosa usou uma chave reserva que tinha para escapar.
A demora para denunciar o caso, no entanto, se deu por não querer denunciar a própria filha. Contudo, em janeiro deste ano, Geneviève decidiu contratar um advogado e comunicar o caso às autoridades policiais.
De acordo com a investigação, a idosa teve joias e três relógios da marca Rolex levados, o que, segundo ela, seria um prejuízo estimado em R$ 6 milhões. Além disso, o grupo movimentou cerca de R$ 5 milhões em transferências bancárias e roubou 16 obras de artistas renomados, como Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti. Destas, 14 foram recuperadas.
Confira as obras levadas, segundo as investigações:
1) O Sono, de Tarsila do Amaral: R$ 300 milhões;
2) Sol Poente, de Tarsila do Amaral: R$ 250 milhões;
3) Pont Neuf, de Tarsila do Amaral: R$ 150 milhões;
4) Ela, aquarela, de Cícero Dias: R$ 1 milhão;
5) Aquarela sem título, de Cícero Dias: R$ 1 milhão;
6) Desenho representando uma paisagem, 1935, de Alberto Guignard: R$ 150 mil;
7) Rue des Rosiers, de Emeric Marcier: R$ 150 mil;
8) Église Saint Paul, de Emeric Marcier: R$ 150 mil;
9) Porto de Pesca rem Hong-Kong, de Kao Chien-Fu: R$ 1 milhão;
10) Coruja ao Luar, de Kao Chi-Feng: R$ 1 milhão;
11) Retrato, de Michel Macreau: R$ 150 mil;
12) Mulher na Igreja, de llya Glazunov: R$ 500 mil;
13) Mascaradas, de Di Cavalcanti: R$ 1,5 milhão;
14) O Menino, de Alberto Guignard: R$ 2 milhões;
15) Maquete Para Meu Espelho, de Antônio Dias: R$ 1,5 milhão;
16) Elevador Social, de Rubens Gerchman: R$ 1,5 milhão.