RJ: hospitais militares compraram 21 mil pílulas de Viagra em 1 ano
Ministério da Defesa diz que remédio foi adquirido para tratar pacientes com Hipertensão Arterial Pulmonar, mas não informa nº de casos
atualizado
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Rio de Janeiro – Em compras consideradas obscuras por especialistas, hospitais militares localizados no Rio de Janeiro compraram pouco mais de 21 mil comprimidos de citrato de sildenafila, substância mais conhecida como Viagra nas farmácias, ao longo de 2021.
O Hospital Naval Marcílio Dias, localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro e administrado pela Marinha, fez a maioria das aquisições de Sildenafila do Ministério da Defesa no ano passado. Em dois pregões realizados em abril e setembro, comprou respectivamente 15.120 comprimidos e 1.500 pílulas do medicamento.
Também em abril, o Hospital Central do Exército, em Benfica, na Zona Norte do Rio, comprou 4.800 comprimidos de Sildenafila.
Só que as compras de Sildenafila por unidades militares do Rio de Janeiro não se limitaram a hospitais. O Centro de Obtenção da Marinha, localizado em Olaria, Zona Norte do Rio, comprou 10.500 comprimidos da substância.
Na Aeronáutica, o Centro de Aquisições Específicas, na Ilha do Governador, também na Zona Norte do Rio, comprou outras 2 mil pílulas do medicamento que é mais conhecido como Viagra.
Unidades do Rio na liderança
Com tantas compras concentradas, unidades militares do Rio de Janeiro responderam no total pela aquisição de 33.920 comprimidos de Sildenafila para as Forças Armadas no ano passado, de um total de 35.320 pílulas adquiridas pelo Ministério da Defesa no período, como revelou a colunista Bela Megale, do jornal O Globo.
Procurada, a pasta alegou que as compras de Sildenafila foram feitas para tratamento de pacientes com Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP).
Mas o Ministério da Defesa não informou a quantidade de casos de Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP) em tratamento nas Forças Armadas. Procuradas, Aeronáutica, Marinha e Exército também não explicaram a quantidade de pacientes com a doença.
O Viagra é, de fato, um dos medicamentos utilizados para tratar Hipertensão Arterial Pulmonar e é considerado uma das opções mais baratas, de acordo com a pneumologista Margareth Dalcolmo, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e pesquisadora da Fiocruz.
Doença rara
No entanto, a Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP) está longe de ser uma moléstia comum para o brasileiro. A SBPT estima que ocorrem 10 casos a cada grupo de 1 milhão de pessoas.
“É uma doença relativamente rara, mas muito grave e que não tem cura”, explicou Dalcolmo.
Ela estranhou a quantidade de comprimidos adquiridos por unidades militares do Rio.
“Causa estranheza, mas precisaríamos saber a incidência de casos nessa população militar”, acrescentou.
O sanitarista Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ex-superintendente do Hospital Sírio-Libanês, também estranhou a quantidade de comprimidos adquiridos pelas Forças Armadas.
“É uma quantidade grande e as Forças Armadas teriam que justificar essa compra”, afirmou ao Metrópoles.