RJ: Defensoria encontra falhas em hospital onde médico estuprou mulher
Em vistoria no Hospital da Mulher, órgão encontrou fragilidades na atualização do livro de cirurgias e atendimento à Lei do Acompanhante
atualizado
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Rio de Janeiro – A Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ) realizou uma vistoria no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, unidade de saúde onde foi registrado um flagrante de estupro do médico anestesista Giovanni Quintella, de 31 anos, contra uma mulher grávida, no momento do parto. Segundo o órgão informou nesta segunda-feira (18/07), foram encontradas falhas e fragilidades no local.
A visita foi feita na última quinta-feira (14/7). Entre os problemas identificados, a Defensoria destaca falhas no processo de preenchimento dos dados do livro do centro cirúrgico com as informações dos procedimentos ali realizados e problemas quanto ao armazenamento da documentação das pacientes.
Falta de questionamentos
De acordo com a defensora Thaísa Guerreiro, coordenadora de Saúde da DPRJ, durante a vistoria, foi possível verificar que os protocolos, fluxos e processos de trabalho precisam ser aprimorados na unidade. Por exemplo, a falta de questionamento dos obstetras em relação a sedação das pacientes ou qualquer tipo de interpelação com o anestesista, quando ele orientou o pai a se retirar do centro cirúrgico, mesmo tendo a criança permanecido dentro da sala.
Segundo Guerreiro, tais ações demonstram, por si, que violações importantes aos direitos sexuais e reprodutivos da mulher estão sendo naturalizados. Ela lembra que o Brasil já foi alertado no último relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre a verificação de um número exacerbado de cesáreas com sobremedicação que incrementam o risco à saúde e à vida das mulheres, além de outras práticas de violência obstétrica institucional, perpetrada e tolerada por agentes públicos, como é o caso.
“Exatamente, por isso, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro acompanha o caso, e atua para que os fluxos, processos de trabalho, protocolos e políticas de humanização e capacitação, sobretudo da equipe médica masculina, sejam aprimorados no Hospital da Mulher e nas demais maternidades públicas do Estado”, afirma a defensora.
“O livro de cirurgias não é confeccionado em tempo real em que os procedimentos são realizados no centro cirúrgico. Seu preenchimento é realizado com defasagem de meses através de dados extraídos de fichas soltas de papel que não garantem a segurança das informações. De forma notória, há risco de extravio de informações dos procedimentos cirúrgicos realizados na maternidade. Essa fragilidade pode incutir uma sensação de impunidade, o que pode encorajar atos como aquele”, completa Thaís Guerreiro.
Agora, segundo a defensora, o próximo passo agora é encaminhar o relatório com as inconformidades identificadas à Fundação Saúde e à Secretaria de Estado de Saúde (SES).
Médico preso
O médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra está preso desde o dia 11 de julho, após ser filmado por técnicas de enfermagem que desconfiaram de suas atitudes durante as cirurgias realizadas. Ele foi flagrado estuprando uma paciente, no momento do parto. Na sexta-feira (15/7), ele foi denunciado pelo Ministério Público do Rio e virou réu por estupro de vulnerável.
Outros possíveis casos de abuso sexual por parte de Giovanni são investigados pela Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti, na Baixada.